Irrito-me a
ouvir e ler afirmações sem base sendo repetidas como verdades. A web nesse
sentido é algo a que deveria ter horror, mas, isso seria uma
simplificação. Não ocorre apenas a divulgação de tolices na web, obviamente,
mas temos a impressão de que elas estão esmagadoramente em maioria e
possivelmente isso seja verdade.
Indivíduos tendem a formar grupos e conversar
com conhecidos ou pessoas que tenham formas semelhantes de pensar. Daí fazem
afirmações sem base alguma tal qual fariam no bar da esquina ou no banheiro
feminino. Mas há uma diferença. Conversas de boteco e de banheiro tendem a
ficar apenas nesses espaços, já uma informação divulgada na web tem um alcance
ilimitado por tempo também ilimitado. Então grupos com pensamento radicalmente
diferente acabam por ter acesso ao pensamento um do outro de uma forma que não
ocorre fora do “mundo virtual”. Isso resulta em conflito.
Conflitos de
informações pode ser um fator gerador de conhecimento desde que cada lado
esteja disposto a ceder quando as evidencias do outro lado sejam mais fortes,
mas isso é utopia. O comum é que discussões na web se deem entre bandos
semi-irracionais onde informações falsas, tolas e todo tipo de bobagem são
confrontadas com outras do mesmo tipo do bando concorrente. Diálogos
construtivos entre diferentes opiniões são minoritários, o que confirma a ideia
de que nosso cérebro tende a reproduzir as condições em que evoluiu, mesmo que
virtualmente.
Nesse caso as discussões na web seriam uma reprodução das
disputas territoriais, por recursos naturais, status social e mesmo pela
atenção de parceiros sexuais. Machos humanos evoluíram caçando e enfrentando disputas
territoriais, o que explicaria em parte o fato de que são homens a maioria dos
que se envolvem em “disputas territorialistas” na web. Nessas discussões, como
já foi dito, o que vale é o urro de afirmação e não a qualidade do conteúdo da
argumentação.
Fêmeas tem
disputas mais sutis e se ocupam mais com informações as quais acreditam serem
benéficas. Elas imaginam que informações sobre saúde, beleza e bem estar possam
ser úteis para seus conhecidos, embora não se preocupem em verificar se são ou
não reais. Assim divulgam grande quantidade de falsificações sobre procedimentos
médicos, dietas, cura por meio de plantas e cuidados estéticos na tentativa de
ajudar. Tanto homens quanto mulheres se prendem á força impactante das palavras
e das imagens e não ao conteúdo real do texto ou charge. Então boatos são
repassados de forma quase irresistível. Afinal basta repassar o email ou curtir
a imagem e a AOL, a Microsoft e agora o Facebook colaborarão com o tratamento
da menininha doente, não é mesmo?
Mulheres tendem
a ficar magoadas e homens contrariados quando o que publicam é desmentido, pois
para a parte primitiva de nosso cérebro trata-se de uma disputa real de vida ou
morte ou de uma ajuda real que oferecemos. Essa parte não entende coisa alguma
das sutilizas sociais. Sem o controle de nossa parte racional, discussões
descambam para agressões pois nosso “eu primitivo” não sabe diferenciar uma
discussão trivial sobre música de uma disputa por uma poça d’água que seria a
diferença entre a vida e a morte em época de seca no paleolítico.
Escrever
bobagens não é indicativo de que a pessoa seja tola. Autoengano, ingenuidade,
vontade de ajudar, crença em ter descoberto uma informação nova e útil... São
esses alguns dos motivos pelos quais pessoas escrevem tolices. Não há uma maior
incidência de bobagens ditas na web do que fora dela, apenas não há filtros de
informação como há em outros meios de comunicação social, em especial os mais
formais como instituições educacionais, publicações cientificas e canais
educativos de televisão. Existe web sites que apresentam grande confiabilidade
em informações disponibilizadas, mas aqui tratamos da web em geral. E nela quase tudo
corre informalmente.
Redes sociais e blogs continuarão com sua tendência a divulgar falsificações. E mesmo
sites com propósitos honrosos como a Wikipédia poderão divulgar inverdades devido ao descuido de administradores. Mas não é demais lembrar que é possível se
encontrar contra pontos a desinformação na própria web desde que se tenham
disposição para checar informações antes de sair curtindo tudo por ai...
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