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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O inconsciente I

Para místicos e para algumas pseudociências usamos uma pequena parte da nossa capacidade cerebral... 

Seria o cérebro  uma Ferrari que dirigimos feito uma carroça. A parte “não usada” seria o inconsciente, também chamados pelos místicos  de subconsciente. A quantidade do uso consciente estaria em 10%. Já ouvi uma adepta do misticismo oriental diretora de uma escola dizer que é apenas 3% o uso real.

Temo que no caso dela isso seja verdadeiro.

Místicos inventam o problema e vendem a solução.  Apresentam-se como capazes de “ampliar o uso do cérebro” por meio de várias técnicas. 

Ao ampliarmos esse uso nossa mente se elevaria ao ponto mesmo de ganharmos superpoderes. 

Poderíamos ler e controlar mentes, prever o futuro, ter visão de locais remotos, movermos objetos sem contato físico com eles, fazermos “viagens fora do corpo” e o que mais a imaginação puder conceber. 

Citam o psicanalista Freud como sendo a fonte da crença que tem.

Freud nunca defendeu tais idéias em sua obra. Inconsciente para ele é algo bem diferente. 

É recorrente que o misticismo tal como um perneta use a ciência como muleta. Chega ao extremo de falsificar conclusões científicas para que justifiquem suas crenças. 

A obra de Freud encontra-se com um status relativamente elevado no campo do conhecimento e realmente concluiu ideias interessantes sob a mente humana. Mas não pode ser classificada como ciência, não se atem a critérios objetivos. 

Erra ao dar muita ênfase ao moralismo (aspecto da cultura) e não à origem e à função biológica do sexo na evolução do comportamento por exemplo. 

Nele o inconsciente se parece com uma pessoa com sérios distúrbios mentais, incompreensão e desapego da realidade, além de tendência a manipular, enganar e cometer abusos de toda ordem. 

Essa pessoa, o inconsciente, estaria “dentro de nossa mente” e não teríamos normalmente acesso a ela. 

O inconsciente por sua vez nos influenciaria, de dentro, em nossas ações comportamentais de forma irracional. 

Nessa perspectiva o inconsciente seria gerado e nutrido pela contradição entre individuo e sociedade. Seria uma resposta do indivíduo ás proibições, regras restritivas e moralistas feitas pela coletividade. 

Seria uma “válvula de escape” gerada para não sucumbirmos à pressão da sociedade, mas incontrolável, a priori, por esse mesmo individuo que o criou. Como o feiticeiro que conjurou demônios mais poderosos que ele e não conseguiu controlá-los. 

Para nos possibilitar um relativo controle desse inconsciente Freud cria a psicanálise. Acreditava ele que o inconsciente se expressa por sonhos, mas também por sinais visíveis e identificáveis no cotidiano. 

Passou a tentar correlacionar esses sinais a significados ocultos em nossa mente para possibilitar nosso entendimento do porquê de atitudes constrangedoras, desagradáveis e prejudiciais realizadas por nós. Com isso pretende favorecer o alcance de formas mais aceitáveis de comportamento e principalmente o fim de transtornos como ansiedade, depressão, manias e fobias.

Freud não se deteve na análise da biologia cerebral, sua estrutura e sua evolução. Vislumbrou noções acertadas de que “não fazemos tudo de forma consciente”, mas errou ao entender de forma invertida a origem desse inconsciente (é biológica e não cultural) e consequentemente em dar funções inexistentes a esse inconsciente. Por exemplo, não somos agressivos porque a sociedade moldou essa atitude em nosso inconsciente. Somos agressivos porque nossos antepassados agressivos sobreviveram tempo suficiente para gerar descendentes. Os menos agressivos sucumbiram frente a um mundo primitivo onde a passividade implicava em submissão, menor possibilidade de se conseguir parceiras sexuais e mesmo morte. 

Alguns seguidores de Freud por sua vez ampliaram esse desacerto a ponto mesmo de flertar com noções pseudocientíficas e mesmo místicas, pois não se observaram métodos experimentais, comprovação de ideias por meio de evidências e comparação real de resultados de outros pesquisadores. Por vezes tudo gira no mundo do subjetivismo, onde um mesmo fator significa coisas diferentes pra diferentes psicanalistas.

Em ambos os casos, seja em Freud ou nas ideias atuais sobre inconsciente baseadas na neurologia, há um “funcionamento automático” do cérebro, uma "segunda mente" desligada do lado racional da mente consciente que age sem necessidade de reflexão. Mas Freud vê coisas que não existem. Inventa significados e descobre padrões que não se confirmam.

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