Seria
o cérebro uma Ferrari que dirigimos feito uma carroça. A parte “não usada” seria o
inconsciente, também chamados pelos místicos de subconsciente. A quantidade do uso consciente
estaria em 10%. Já ouvi uma adepta do misticismo oriental diretora de uma
escola dizer que é apenas 3% o uso real.
Temo que no
caso dela isso seja verdadeiro.
Místicos inventam
o problema e vendem a solução. Apresentam-se
como capazes de “ampliar o uso do cérebro” por meio de várias técnicas.
Ao
ampliarmos esse uso nossa mente se elevaria ao ponto mesmo de ganharmos
superpoderes.
Poderíamos ler e controlar mentes, prever o futuro, ter visão de
locais remotos, movermos objetos sem contato físico com eles, fazermos “viagens
fora do corpo” e o que mais a imaginação puder conceber.
Citam o psicanalista
Freud como sendo a fonte da crença que tem.
Freud nunca defendeu tais idéias em sua
obra. Inconsciente para ele é algo bem diferente.
É recorrente que o misticismo
tal como um perneta use a ciência como muleta. Chega ao extremo de falsificar conclusões
científicas para que justifiquem suas crenças.
A obra de Freud encontra-se com
um status relativamente elevado no campo do conhecimento e realmente concluiu ideias
interessantes sob a mente humana. Mas não pode ser classificada como ciência, não
se atem a critérios objetivos.
Erra ao dar muita ênfase ao moralismo (aspecto
da cultura) e não à origem e à função biológica do sexo na evolução do
comportamento por exemplo.
Nele o inconsciente se parece com uma pessoa com
sérios distúrbios mentais, incompreensão e desapego da realidade, além de
tendência a manipular, enganar e cometer abusos de toda ordem.
Essa pessoa, o
inconsciente, estaria “dentro de nossa mente” e não teríamos normalmente acesso
a ela.
O inconsciente por sua vez nos influenciaria, de dentro, em nossas ações
comportamentais de forma irracional.
Nessa perspectiva o inconsciente seria
gerado e nutrido pela contradição entre individuo e sociedade. Seria uma
resposta do indivíduo ás proibições, regras restritivas e moralistas feitas
pela coletividade.
Seria uma “válvula de escape” gerada para não sucumbirmos à
pressão da sociedade, mas incontrolável, a priori, por esse mesmo individuo que o
criou. Como o feiticeiro que conjurou demônios mais poderosos que ele e não
conseguiu controlá-los.
Para nos possibilitar um relativo controle desse
inconsciente Freud cria a psicanálise. Acreditava ele que o inconsciente se
expressa por sonhos, mas também por sinais visíveis e identificáveis no
cotidiano.
Passou a tentar correlacionar esses sinais a significados ocultos em
nossa mente para possibilitar nosso entendimento do porquê de atitudes
constrangedoras, desagradáveis e prejudiciais realizadas por nós. Com isso pretende
favorecer o alcance de formas mais aceitáveis de comportamento e principalmente
o fim de transtornos como ansiedade, depressão, manias e fobias.
Freud não se
deteve na análise da biologia cerebral, sua estrutura e sua evolução. Vislumbrou
noções acertadas de que “não fazemos tudo de forma consciente”, mas errou ao
entender de forma invertida a origem desse inconsciente (é biológica e não
cultural) e consequentemente em dar funções inexistentes a esse inconsciente.
Por exemplo, não somos agressivos porque a sociedade moldou essa atitude em
nosso inconsciente. Somos agressivos porque nossos antepassados agressivos
sobreviveram tempo suficiente para gerar descendentes. Os menos agressivos
sucumbiram frente a um mundo primitivo onde a passividade implicava em submissão,
menor possibilidade de se conseguir parceiras sexuais e mesmo morte.
Alguns seguidores
de Freud por sua vez ampliaram esse desacerto a ponto mesmo de flertar com noções
pseudocientíficas e mesmo místicas, pois não se observaram métodos
experimentais, comprovação de ideias por meio de evidências e comparação real
de resultados de outros pesquisadores. Por vezes tudo gira no mundo do
subjetivismo, onde um mesmo fator significa coisas diferentes pra diferentes psicanalistas.
Em ambos os
casos, seja em Freud ou nas ideias atuais sobre inconsciente baseadas na
neurologia, há um “funcionamento automático” do cérebro, uma "segunda mente" desligada do lado racional da mente consciente que age sem necessidade de
reflexão. Mas Freud vê coisas que não existem. Inventa significados e descobre
padrões que não se confirmam.
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