A pseudociência e o misticismo em geral usam de falsa humildade em dizer que não são donos da verdade, mas fazem afirmações sobre a verdade e inventam arrogantemente evidências sobre elas. A religião é de arrogância relativamente honesta ao se afirmar dona da verdade sem precisar comprovar nada. Mas modernamente mesmos esses conservadores se veem obrigados a inventar fatos que comprovariam suas afirmações, como quando o Vaticano afirmou que a teoria do universo inflacionário (o big bang) está em acordo com o texto bíblico da criação do mundo.
O método científico é necessariamente impregnado de real humildade em reconhecer suas falhas, em comparar suas ideias com as demais e tentar comprovar o que afirma.
No entanto há cientistas arrogantes. Muitos desses não são arrogantes com os próprios colegas cientistas, mas se acreditam superiores aos comuns mortais. O êxito da ciência cria na cabeça desses a impressão de que cientistas são brilhantes, os mais inteligentes, a elite intelectual da humanidade, verdadeiros deuses infalíveis.
É exatamente a confissão da falseabilidade o que permite o progresso científico. Todo o avassalador êxito da ciência se baseia nisso. Cientistas não são deuses oniscientes e talvez seu diferencial seja a coragem de colocar a prova as suas ideias. Mas isso não é feito com todas as ideias. Um cientista espírita não vai questionar seriamente a reencarnação. Apesar da total falta de evidências ele vai continuar acreditando nela. O fato é que a crença se introduz em nosso cérebro de varias formas, e uma vez instalada vamos criar justificativas para ela. Por exemplo, o cientista pode já ter nascido em família espírita, então seguiu as crenças de seus pais. Ele vai defender sua crença afirmando que há casos comprovados de reencarnação, vai desmerecer o fato de que essas supostas comprovações são altamente questionáveis e em geral fraudes já desmascaradas por desenganadores tais como James Randi.
Não é arrogância se valer de comprovações para se afirmar que se sabe tal ou qual fato. É sim arrogância se dizer que apenas as suas conclusões estão certas sem se ter comparado honestamente com outras e com evidencias em contrario. E ainda mais profundamente é necessário um esforço, para muitos quase insuperável, para sobrepujar a enorme vontade de acreditar que todos nós temos.
Nesse ponto não se deve mais falar em arrogância, pois as pessoas apresentam uma necessidade real de crer e a negação da crença arraigada é um processo muito difícil e até mesmo doloroso. Essa necessidade, ao que indica a psicologia evolucionista, tem base genética. Ela evoluiu por ter sido útil no passado. O problema é que nossa capacidade de separar crenças reais de falsas não é tão eficaz. Então acreditamos em muitas coisas inverídicas e nem por isso estamos dispostos a abrir mão delas, pois o objeto de nossa estima é a própria crença e não necessariamente no que cremos.
Em outras palavras, estamos biologicamente programados pela seleção natural para defendermos o que acreditamos, mas nem tanto para tentar comprovar nossa crença por meios reais como evidências e comparação com as crenças diferentes da nossa. A superação disso só se da por um ato de vontade forte, consciente e acima de tudo humilde de querer não acreditar, mas sim saber.
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