Quando era ainda
um moleque eu tinha extrema curiosidade sobre o tema acima.
Através da leitura de livros de ficção científica e até mesmo uma crônica de
Luis Fernando Veríssimo ficava sabendo que no futuro nossa cabeça seria enorme.
O continuo desenvolvimento do conhecimento ocuparia cada vez mais nosso cérebro
e o faria crescer. Partes de nosso corpo, por falta de uso, definhariam. Teríamos
o corpo magro, braços e pernas finos.
Corresponde a imagem que os aliens tinham
nos anos 60 e ainda hoje, certo? Cabeças grandes corpos frágeis como evidencia
de sabedoria. Bobagem. Isso é evolucionismo vulgar e não condiz com o
conhecimento que temos sobre a natureza desde o século XIX. Uma civilização
alienígena poderia ser formada por cabeçudos. Mas o que teria aumentado a
circunferência craniana seriam mutações no código genético, e não acumulo de
conhecimento. E no mais já há milhares de anos guardamos informações fora de
nosso cérebro usando os desenhos, a escrita, a gravação de sons e outras formas
mais.
O que nos aguarda no futuro? Se pudéssemos viajar a um milhão de
anos à frente, os nossos descendentes seria como? E se fossem dez ou cem
milhões?
Impossível
saber, essa é a trágica verdade. Só nos resta a ficção. Melhor seria se ela
usasse de conceitos realmente científicos para simular a evolução humana e não
noções equivocadas e já descartadas.
Bem, talvez
eu não devesse ser tão taxativo sobre a impossibilidade de se conhecer o futuro
evolutivo, mas antes vamos ao passado conhecer as circunstancias em que
evoluíram algumas de nossas características atuais.
Antes de dez
mil anos atrás, nossos antepassados ainda não tinham inventado a agricultura.
Alimento era coisa rara e de difícil aquisição. Era vantajoso que
armazenássemos energia obtida do consumo de raízes e caules subterrâneos, ricos
em amido.
Também o raro consumo da gordura de animais fornecia energia. Quase
toda ela usada no dia a dia, mas parte armazenada em nosso tecido adiposo,
nossa própria gordura embaixo de nossa pele, se acumulando principalmente no
abdome. Com isso tínhamos uma reserva a ser usada em épocas de fome devido à seca
por exemplo. Indivíduos que não sentissem muito apetite e que não acumulassem
gordura se davam mal quando o alimento escasseava. Isso significa que nossos
antepassados eram gordos?
Não. Não havia alimentos tão calóricos e em
quantidade para provocar essa característica tão presente em nós atualmente.
O fato é que
aprendemos como ocorre o plantio e a procriação de animais. Inventamos a
agricultura e a pecuária, conseguimos providenciar a obtenção de alimento de
uma forma nunca alcançada anteriormente. Mas continuamos agindo como quando
alimento era coisa rara de se obter. Os supercalóricos doces, pães e bolos
substituíram as raízes e caules comestíveis na obtenção do amido. Animais não
são mais caçados, só precisamos ir ao açougue para adquirirmos carne
extremamente mais gordurosa do que quando os animais eram livres na natureza. E comemos tudo com a mesma avidez de nossos
antepassados.
Sendo
racionais deveríamos ser capazes de evitar esse comportamento. Se há exageros
prejudiciais na alimentação então convém que sejam evitados, mas isso não
ocorre. Continuamos a comer e a engordar. Cada vez mais e de forma insaciável.
Isso é evidencia de que somos racionais até certo ponto, em outros obedecemos à
programação da seleção natural. E ela nos programou para sermos gulosos e
estocamos energia dos alimentos em forma de gordura. Nosso cérebro obedece a
esse comando e a parte racional desse mesmo cérebro, que sabe dos males da
obesidade faz o que pode para evitar que engordemos... Mas não consegue.
Imaginemos
que antes da agricultura uma tribo tivesse descoberto um local onde alimento
fosse farto e que por sorte outras tribos e carnívoros não invadissem o local
durante alguns séculos. Após muitos anos essa população estaria mais obesa.
Diabetes, hipertensão, cardiopatias, dificuldades na locomoção e problemas nas
articulações acometeriam diversos indivíduos... Mas nem todos estariam
realmente gordos. Nem todos são biologicamente programados para serem
gigantescos. Os que não engordassem tanto seriam privilegiados pela seleção
natural.
Não acumular muita gordura e nem ser tão ávido na hora de comer
representaria uma vantagem agora que há fartura de alimento. Então teríamos um equilíbrio.
Indivíduos muito obesos teriam menor tempo de vida e não se reproduziriam tanto
quanto os menos obesos e magros. Aí em algumas gerações todos tenderiam a não
ser tão gordos... Mas se isso é verdade, por que tal fato não ocorre agora?
O motivo
principal é a medicina. Ela possibilita que mesmo indivíduos muito obesos
tenham uma vida relativamente normal. Trata dos problemas de saúde, possibilita
remédios para emagrecer e mesmo cirurgia para redução de estômago. De toda
forma possibilita que os genes que nos fazem gordos continuem a se reproduzir. Eis
a combinação: Genes que nos fazem acumular gordura e nos forçam a sermos
comedores compulsivos e métodos que evitam o controle disso pela seleção
natural.
A obesidade
talvez seja o exemplo mais óbvio de um fenômeno que se iniciou junto com a
evolução da nossa consciência. Ao evoluir, nossa mente consciente nos possibilitou
o controle da natureza em nível jamais visto nesse planeta. Não obedecemos
totalmente mais os ditames da seleção natural. Ao contrário, em grande parte
somos nós e não a natureza que realiza as escolhas. Desde que passamos a
cultivar a terra e a fazer criação de animais interferimos na seleção natural a
ponto de criarmos a “seleção artificial”.
Todas as plantas e animais que o ser
humano aprendeu a cuidar a milênios já não são mais como eram na natureza.
Fazendo cruzamentos entre indivíduos com características desejáveis, os
agricultores e pecuaristas criaram desde frutos mais doces até animais maiores
e com carne mais macia. De uma espécie criamos varias outras, como a couve, a
couve flor, a couve de Bruxelas e o repolho. De lobos criamos as centenas de
raças de cachorros. De flores naturais criamos verdadeiras maravilhas como as
rosas, que pouco lembram sua quase sem graça antepassada.
Nossa
evolução se dará então pelo processo já descrito? Seleção artificial é o futuro
dos seres humanos? Atualmente ao invés de apenas fazermos cruzamentos entre
espécies para selecionarmos os genes que queremos podemos em alguns casos
manipular os próprios genes, e isso no futuro se dará de forma mais intensa.
Mas já grupos reivindicatórios protestam contra essa tentativa “de controlar a
natureza”.
Se parecem com grupos
religiosos que no passado eram contra os progressos da medicina no transplante
de órgãos e na inseminação artificial. Para usar técnicas do tipo em seres
humanos a discussão fica ainda mais acirrada. Para que se desenvolverem meios
para se escolher características se o que importa é a variedade, perguntam?
Mas
manipulação genética não serve apenas para se escolher cor de pele ou formato
de nariz. Inúmeras doenças de origem genética poderão ser curadas. Não é o
progresso da ciência que cria monstros, ao contrário, antes os monstros já
existiam e não foram suficientemente domados pela sociedade em questão. Não é
porque há meios de causar o mal que o mal será causado e sim pela vontade de
causar esse mal.
Também técnicas que combinam partes biônicas com nosso corpo
poderão ser realizadas e inúmeras outras no futuro distante das quais
atualmente nem temos ideia. Talvez até mesmo remodelação genética de nosso
corpo. Genes que originem uma cabeça enorme e um corpo franzino, só para tirar
onda desse texto que ficará na web sabem-se lá até quando e talvez alcance um
época futura onde o que hoje é devaneio será realidade.
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