Nossa
consciência, nossa mente, nosso modo de pensar e agir, nosso comportamento, o
que somos enfim, não são frutos exclusivos da cultura, do conhecimento que
adquirimos e da sociedade em que vivemos. Caso fossem seria relativamente fácil
modificar a sociedade e os indivíduos. Educação seria extremamente eficaz para
melhorar as atitudes humanas.
Mudanças sociais criariam imediatamente novas
formas de pensar e agir nas pessoas. Mas tais coisas não acontecem de forma tão
direta. Muitos tendem a exagerar a importância da educação, em especial
professores e demais profissionais da educação. A solução de todos os problemas
sociais pode ser alcançada por meio da criação de escolas e da manutenção das
crianças e jovens dentro delas, de preferência o dia todo. Na prática trata-se
de aprisionamento parcial.
Há os que
acreditam que a escola deva formar “bons cidadãos” cumpridores de ordens e
regras sociais. Há os que queiram indivíduos “críticos e atuantes” que ajam
para modificar a sociedade. E ambos os grupos erram ao supor ser a escola algo
assim tão influente sobre a personalidade. É questionável se ela e os demais
meios de se ministrar educação são capazes de modificar ou conservar as pessoas
e a sociedade em um nível tão profundo de forma tão direta e rápida...
A
educação não tem esses poderes mágicos que lhe são atribuídos, pois havendo
condições inatas que influenciem nosso comportamento em sua base, a personalidade
deve ser entendida como algo mais complexo. Sendo assim a modificação da realidade
social deve ser pensada de forma menos simplória. Por isso é natural que
pessoas progressistas tenham sérias ressalvas à psicologia evolucionista. Elas
a veem como aliada dos conservadores. E os conservadores se aproveitam disso. Apelam
mesmo para a falácia naturalista: “se o que somos é estabelecido por nossos
genes, então mudanças não são possíveis”, alegam. Mas há um engano de ambos aí.
Realmente não é tão fácil mudar o indivíduo mudando a sociedade. As várias
experiências de construção da sociedade socialista tentadas no século XX
atestam isso. Marx não se inteirou o suficiente sobre a noção de que somos
produto da seleção natural, mesmo tendo curiosidade sobre ela e tendo conhecido
Darwin. É uma falha grande em suas concepções sobre a forma de se superar a atual
sociedade de classes. Devido em parte a isso, erros grosseiros foram cometidos
na “construção do novo homem e da nova sociedade socialista”.
Mas também não
existe motivo para se crer que as formações sociais atuais sejam as únicas
derivadas de nosso comportamento evolutivo. Afinal nossos antepassados
primitivos eram muito solidários com os membros do próprio grupo e não
dispunham de propriedade privada dos meios de produção...
É muito temerário
identificar automaticamente formações sociais como sendo “naturais”. Ao que parece
se considerarmos o que afirma a psicologia evolucionista, aos progressistas e
aos conservadores fica o recado: seres humanos não são como a argila que aceita
ser moldada docilmente com a pressão das mãos, seja a esquerda ou a direita... Ao
não se considerar a nossa origem biológica e se entender sua ação no
comportamento, não haverá eficácia nas tentativas de planejar a sociedade de
forma mais racional. Seja para conservá-la seja para modificá-la.
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