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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Padecimento tratamento e perfumaria

Pessoas com acesso fácil à medicina, seja devido a disporem de dinheiro para tanto, seja por terem a sorte de viverem em países onde é disponibilizada a todos não raramente invejam pessoas que vivem sem dispor de remédios, médicos e hospitais... 


Na sua fantasia imaginam que viver com chazinhos, agulhas espetadas pelo corpo, água disfarçada de remédio e orações é o melhor dos mundos e não param para pensar que onde não há medicina disponível a todos ainda se morre de doenças facilmente tratáveis.

Algumas abusam da irracionalidade e fazem campanhas contra vacinação e contra o uso de “remédios da indústria farmacêutica”, desconhecendo como era a vida antes dos medicamentos e das vacinas. 

Talvez se forem para os rincões da África e da Índia entendam que pregam contra a conquista de milênios de aprimoramento de técnicas de tratamento e cura. 

O que chamamos de medicina moderna, é o conhecimento acumulado por inúmeras gerações de pessoas pelo mundo todo, e não apenas por "ocidentais" E o mais importante, é herdeira das praticas reais de cura de nossos ancestrais, e não de seus equívocos.

“Meu pai foi vitima da sua medicina quando se tratou de câncer. Ele morreu sofrendo em um hospital. Não acredito na sua medicina.” 

Vítima da medicina e não vitima do câncer. Que jeito tão sofrido, doloroso mesmo, de inverter as coisas. O ódio e a frustração frente à impossibilidade de ação contra algo terrível embotam a mente. Atacamos o que nos trata. Não somos tão racionais como nos imaginamos. Mas isso não é culpa nossa, é o funcionamento automático de nosso sistema nervoso. A parcela consciente, racional, é apenas um verniz encobrindo madeira áspera. 

No desespero, na angustia, com medo e raiva agimos sem raciocinar, por impulso. Se situações de desespero se perpetuam, atitudes irracionais se perpetuam tb. Esse é um dos motivos para que em países sem atendimento adequado a saúde da população exista mais procura de métodos sem fundamento para tratar doenças e, por derivação, menor racionalidade em outros aspectos da vida social.

Em países onde a medicina está ao alcance de larga parcela da população, métodos alternativos são em quase todos os casos apenas perfumaria. Apenas doenças que se curam sozinhas são tratadas com água de flor ou mesmo pura, luzinhas coloridas, massagem, agulhas fininhas que nem se sente, perfume, 50 minutos de conversa com o terapeuta... Doenças sérias são tratadas com medicamentos, cirurgias e demais procedimentos e técnicas médicas. E apenas praticas bonitinhas são realizadas pelos terapeutas que atendem os não pobres... O uso de urina humana, fumo, sebo, óleo de rícino, sangue-sugas, ervas mal cheirosas  e com sabor intragável, insetos e outras práticas comuns do passado ficam de fora... 

É o cumulo da contradição ouvir cidadãos de países com médicos, hospitais, clínicas, postos de saúde, ambulatórios pronto atendimento e medicamentos a disposição desdenharem a medicina, dizendo que “a medicina oriental ou indiana” é superior a “medicina ocidental” (e é necessário dizer que essa divisão entre ocidental e oriental é apenas bobagem ideológica). 

Mas quando precisam não deixam de usar a medicina (que chamam de alopatia) e a tem a disposição. 

Já o cidadão sem recursos da Índia, entregue aos cuidados da “medicina indiana”, tão aclamada por tantos “modernistas”, o que ocorre com ele? Sofre com doenças facilmente curáveis pela medicina, padece, morre, mas não sem ver seus filhos em grande numero tb sendo vítimas ainda bebês de males que já foram erradicados em outros locais pela medicina...

Sem dispor de escolha, o habitantes de locais carentes, sem recursos se submete a procedimentos arcaicos de tratamento, alguns com relativa eficácia, é verdade, mas outros sem fundamento algum. Tem que acreditar no que praticam, pois não há alternativa. 

Os curandeiros tentam o possível. Deuses são cultuados, energias misticas são invocadas, tradições são seguidas, mitos são considerados verdadeiros, unguentos, cataplasmas, sangria, poções, efusões, sacrifícios de animais e mesmo de seres humanos... E o resultado é bem inferior ao alcançado pela ciência médica. Cólera, tuberculose, malária e outros males da pobreza que matam a tantos são males da falta da medicina.

Os terapeutas que seguem os procedimentos indianos, orientais, alternativos e coisas do tipo que atuam nos EUA, Europa e mesmo aqui no Brasil podem ser então questionados. Pq os resultados desse tipo de tratamento não são tão bons nos países em que não há a medicina para todos? Pq o curandeiro de uma aldeia indiana não tem tanto sucesso no tratamento quanto o “terapeuta indiano” que trata seus pacientes em locais como Havana*, New York, ou Paris?

A diferença é que o paciente indiano pobre só se trata com “medicina indiana”, já o rico usam tb a medicina moderna. 

Os tratamentos usados pelos nossos ancestrais tiveram uma evolução em relação ao que havia antes. Os tratamentos atuais são uma evolução do que era praticado pelos nossos ancestrais. 

A ciência, seja na saúde, no estudo das estrelas ou na construção do eletrônico onde vc lê esse texto é herdeira do conhecimento do passado, pois conhecimento não surge do nada, ele evolui.

Ficar se prendendo ao conhecimento já superado é atitude talvez pouco inteligente. A saúde é um campo onde nós não raramente nos preocupamos e até mesmo nos desesperamos. E quando isso ocorre por motivo de não encontrarmos cura na medicina é normal tentarmos encontrar alternativas. O problema é a crença de que alternativas que não funcionam tão bem em seu local de origem irão magicamente funcionar perfeitamente aqui...



*E eu digo Havana para provocar mesmo. Pois muitos dos que criticam a medicina por razoes equivocadas tem a crença de que ela é uma invenção dos grandes laboratórios que a tudo manipulam por seus lucros. A medicina é praticada em larga escala em Cuba. Fidel e agora Raul Castro são agentes da industria farmacêutica? Claro que é necessário o fim da influencia do poder econômico sobre a medicina, mas como Cuba e outros países demonstram, ela não é uma invenção da burguesia...