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quarta-feira, 15 de abril de 2015

O mal uso do ceticismo.

"Como já notaram alguns historiadores da Filosofia, na Grécia Antiga, o argumento dos céticos – uma escola filosófica que afirmava que é impossível obter qualquer tipo de conhecimento seguro – era usado como advertência para que as pessoas não se fiassem demais em seus conceitos e preconcepções. Hoje em dia, ao menos desde o início da chamada onda New Age, o mesmo argumento é usado como desculpa para se agarrar firmemente a qualquer tipo de conceito ou preconcepção: é impossível saber se estou certo vira "é impossível saber que estou errado", uma espécie de salvo-conduto intelectual para que se abrace qualquer ideia, e uma interdição contra qualquer tipo de crítica racional."
Carlos Orsi , em Pura picaretagem

É possível que sob a alegação de ceticismo alguns achem justificativa para duvidar de conhecimentos cujas evidencias se foram demonstradas. Ter sempre uma "margem de dúvida" em relação ao conhecimento é muito salutar, mas penso que devemos duvidar do que não tem evidencia, e à medida que as evidencias sejam apresentadas, a margem de dúvida deve diminuir, ou em outras palavras: Deve-se duvidar mais do que tem menos evidência e vive versa. 

Evidências podem e devem ser verificadas sempre que necessário. Mas qual a atitude mais comum? As pessoas muitas vezes acreditam em alegações ouvidas "por aí", recebidas por correio eletrônico, ditas por algum conhecido e mesmo na imprensa, mas sem que qualquer comprovação seja apresentada. 

Mesmo num âmbito mais acadêmico é comum que evidencias sejam "deixadas de lado" e suposições úteis tomem seu lugar. Pouco valem comprovações arqueológicas por exemplo sobre a história real dos hebreus se as lendas bíblicas são ainda ensinadas nas escolas. Contos fantasiosos são tidos nas aulas de crianças e adultos como sendo verdadeiros. "Os hebreus fizeram uma aliança com Deus que os libertou da escravidão no Egito", escrevem os autores dos livros didáticos, sendo que a documentação arqueológica mostra que não houve escravidão no Egito de hebreus monoteístas, pois na época relatada não havia a prática  da escravidão no Egito e os antepassados dos hebreus ainda eram politeístas. 

Praticantes da  "medicina alternativa" igualam o conhecimento médico científico ao seu sem base real de comprovação para com isso terem aceitação de seus métodos pouco eficazes (e em alguns casos totalmente absurdos). 

Em política  seja à direita ou a esquerda versões sem fundamento, ou que vão contra evidencias se impõem. Negação da existência de uma ditadura no governo militar a partir de 1964 e a suposta inexistência de escravidão no famoso Quilombo dos Palmares se tornam dogmas para diferentes espectros ideológicos, e são apenas dois exemplos. Há muito mais em diversas outras áreas.

Mais sofisticado que esse "senso comum" que se propaga quase espontaneamente sobre aceitar informações sem comprovação é a pratica de duvidar do que tem evidencias. Serve para esconder a realidade de forma deliberada e quase sempre mal intencionada. Há um interesse para que a realidade seja negada. 

Falando claramente, quando alguns líderes religiosos alegam que não há evidencias sobre a teoria da evolução, talvez não estejam só enganados, mas tb enganando intencionalmente seus fiéis para com isso esconder que vários dogmas religiosos já foram desmentidos. 

Místicos igualam suas suposições e delírios a conhecimentos do campo da física com uma facilidade impressionante a ponto de terem  identificado a mecânica quântica ao misticismo para o senso comum! "É tudo questão de crença, de fé", já ouvi um professor de ciências falando sobre teoria científicas. Não por coincidência é um professor extremamente religioso, que confunde suas suposições com conhecimento.

É comum a crítica religiosa que afirma ser a ciência tb dependente da fé. "Não existe verificação de toda evidencia nas ciências, logo ela tb se baseia na fé", dizem. O fato é que na ciência não há crença no que não é comprovado ou comprovável. De fato não há crença cega nem no que é comprovado, pois ciência se faz exatamente "duvidando do afirmado", sendo que como já dito, duvidando-se menos do que tem comprovações mais fortes, mas jamais acreditando em algo cegamente, sem uma margem de dúvida. 

Já na religião e no misticismo o comum é que a crença se de baseando-se em suposições e delírios, sem negar que sejam falsificações. Isso é fé, é crença cega em qualquer coisa que faça parte da tradição, dos costumes, sem necessidade de comprovação, ou com comprovações falhas ou falsas.

Pessoas interessadas na negação da realidade ora apelam para a crença no que não existe, ora apelam para a dúvida cega do que tem grande possibilidade de existir, utilizando nesse ultimo caso uma forma torpe de ceticismo, a sua má utilização. Em todo caso ou são enganadas ou enganam aos demais. 

terça-feira, 10 de março de 2015

Manipulações da ideologia

Gostaria de conhecer a verdade sobre a saga que a humanidade vive e viveu desde a sua origem até nosso dias. O problema é determinar a verdade.  Ao contrario das ciências da natureza, as ciências da sociedade não podem dispor de laboratórios, de experiências reproduzíveis e outros fatores que possibilitam uma objetificação da realidade. 

Não é raro que versões dos fatos, e não os fatos sejam divulgados como "a verdade". Estamos em uma época assim. Versões afloram sobre tudo na web, enquanto a verdade se esconde. Uma versão quase universalmente aceita é de que não há mais espaço para mudanças socio economicas de grande monta. 

O nosso mudo de vida, o nosso tipo de sociedade, o capitalismo, se tornou hegemônico. As experiências de construção de sociedades alternativas que se dispunham a superar o capitalismo ao menos por enquanto não demonstraram fôlego para tanto. 

Contribuiriam no entanto para "humanizar" o capitalismo em alguns países. Mas não em todos os países, em especial nos mais pobres, onde as injustiças sociais seguem fazendo vítimas, mortos pela fome e doenças cujo tratamento existe, mas custa caro... 

Mas se é verdade que o capitalismo segue firme e forte, não é menos verdade que os interessados em sua continuidade incorrem em falsificações lamentáveis para justificá-lo e mante-lo. Essas falsificações apelam contrariamente ao sistema social que melhores resultados conseguiu em tentar acabar com a hegemonia do capitalismo, o socialismo. E nenhuma falsificação pode ser tolerada por quem se interessa pela verdade.  

O Homo sapiens, a nossa espécie, originalmente não vivia em sociedades divididas em classes sociais. Embora hierarquia social seja algo inato em primatas, ela não é baseada em "fatores econômicos" entre nossos parentes evolutivos próximos. A existência dessa diferenciação em nós se deve a causas bem conhecidas, como o excedente de produção acarretado pela prática da agricultura e a consequente existência da propriedade privada dos meios de produção. 

Mudanças na forma de se organizar a sociedade com base em uma produção maior de alimentos do que a necessidade imediata marcam a evolução desse “modo primitivo de produção” a outros mais organizados e com maior produtividade, como o modo de produção asiático e o escravismo grego romano. Posteriormente o feudalismo e depois o moderno capitalismo sucedem essas sociedades e é tentada a sua superação através de experiências de construção do socialismo. 

O fracasso da maioria dessas experiências fortalece a alegação de que afinal de contas é o capitalismo a “última etapa” para a evolução social, o mito do “fim da história”. É uma hipótese ideológica no sentido de que expressa a opinião dos interessados na continuidade da situação atual. 

A hipótese de que não é viável o socialismo não implica no entanto que o capitalismo é perfeito, eterno ou imutável. Há demonstrações de que algumas de suas características podem ser modificadas. Isso obviamente interessa às camadas sociais menos beneficiadas pelo “capitalismo selvagem” que é um termo bem apropriado para descrever sociedades onde é o capital é deixado “livre”, sem nenhuma regulamentação, tão ao gosto dos “neo” liberais discípulos de Frederick Hayek e Milton Friedman. 

Sendo a organização social mais avançada possível ou não, o capitalismo teve que se reformar para competir com o socialismo e aceitar algumas de suas características para se manter frente a ele. Inicialmente férias, aposentadoria, seguro desemprego, direito de greve, saúde e educação públicas e outros direitos eram inexistentes e foram os trabalhadores que com sua luta os conquistaram. Mas na maioria dos países eles ainda são parciais e em alguns, em especial os mais pobres, eles são na prática inexistentes. 

Com o fim das experiências socialistas nos anos 80 ganhou força a tendência a se tentar diminuir direitos sociais para se aumentar o lucro dos empresários. Demonstração disso no Brasil foi a ampliação das dificuldades para se obter a aposentadoria e as privatizações promovidas pelo PSDB e seus aliados.

Mas segue a “luta de classes” e se o ímpeto revolucionário arrefeceu, a necessidade de mudanças sociais torna necessário no minimo ações que reformulem a realidade politica e econômica dos países em que a injustiça social é a regra imposta a maioria da população. 

quarta-feira, 4 de março de 2015

As estrelas e a vida

Quando uma grande quantidade de hidrogênio, com massa suficiente se ve comprimida pela atração gravitacional inicia-se um processo fantástico. A formação de uma estrela. Nela o hidrogênio se funde em hélio, o que equivale a dizer que as partículas que formam os átomos de hidrogênio, o mais simples dos elementos, se unem e formam um novo, mais complexo. 

O processo continua, com hélio se fundindo em outros elementos mais pesados, a estrela vai evoluindo... Surgem o carbono, oxigênio, cálcio, ferro e outros. Convém esclarecer que a transformação não é plena. Nem todo hidrogênio se torna hélio, nem todo hélio se torna carbono etc. Quando os elementos leves ficarem em quantidade insuficiente para a continuação do processo de fusão, estrela vai "morrer". A gravidade vai "esmagar a estrela”, vai comprimir a sua porção central, o que aumentará o calor e expulsará sua porção externa para o espaço, ou seja, vai espalhar os elementos que a constitui.

Se for suficientemente grande, a estrela será esmagada a ponto de virar um ponto! Será um ponto no universo com uma gravidade absurda engolindo tudo o que estiver suficientemente próximo, o buraco negro. Mas se não houver quantidade suficiente de matéria, a estrela se tornará uma anã branca ou outros corpos celestes igualmente interessantes.

De qualquer forma, ela emanará ao morrer quantidades enormes de matéria para o espaço. Todos os elementos mais pesados que o hidrogênio, todos os outros átomos que formam nosso planeta, nosso corpo, tudo com que convivemos diretamente, os outros planetas, o nosso Sol e estrelas jovens, tudo isso foi forjado em uma ou mais estrelas que existiram a bilhões de anos. Assim, ao contrario do que se pensava na antiguidade, não há diferença entre os elementos que formam os seres vivos dos seres não vivos. Vida é apenas uma forma de organização da matéria, sem nada de sobrenatural, magico, mistico ou divino. 

Todos nós somos filhos das estrelas, pois nossos átomos surgiram nelas, a não ser o hidrogenio, que se originou após o big bang e que como ja vimos é o elemento que inicia a formação das estrelas.

Abaixo um pouco mais sobre a formação de elementos a partir do hidrogênio.

A fabricação dos elementos químicos:

Do hélio até o ferro, os elementos químicos são fabricados por fusão nuclear nos núcleos das estrelas, no processo de produção de energia. As reações nucleares ocorrem pelo seguinte esquema:
-Queima de Hidrogênio produz Hélio
-Queima de Hélio produz Carbono, Oxigênio e Neônio
-Queima de Carbono, Oxigênio e Neônio produz todos os elementos até o Silício
-Queima de Silício produz todos os elementos até o Ferro

Elementos mais pesados que o ferro são formados nas super novas, corpos celestes surgidos após as explosões de estrelas com mais de 10 massas solares, muito grandes, muito massivas portanto.

Tal como a formação de estrelas, a vida é um fenômeno complexo em que diversos elementos materiais se interagem, se transformam e se multiplicam. Mas não temos ainda conhecimento para determinar de forma objetiva como ela se originou. Mesmo algumas características dos seres vivos como a consciência ainda não estão totalmente explicados. Mas disso podemos pensar que há algo "sobrenatural" que origina ou que mantém a vida? 

Penso que não, exatamente para ser coerente com todos os outros fenômenos naturais. Em nenhum deles foi encontrada nada que ateste a influência de espíritos, deuses ou demônios... Se não sabemos como se dão algumas características próprias da vida, isso não incorre em aceitar algo sem evidência. É melhor a dúvida que a certeza sem comprovação.

O fato é que observar estrelas é algo fácil de se fazer. A olhos nus podemos ver milhares no céu noturno e com aparelhos próprios o numero chega a bilhões e bilhões! Não há portanto duvida quanto a sua existência, mas e quanto a vida? Ela é de difícil detecção, principalmente se tratando de vida "não inteligente" ou que não produz ainda tecnologia como ondas de radio detectáveis por nossos aparelhos. 

Nos últimos anos inúmeros planetas semelhantes a Terra, com possibilidade de abrigar seres vivos foram descobertos. Como comprovar se há ou não atividade viva neles, se estão tão distantes? Microrganismo podem pupular em sua superfície nada saberemos. Ou pode haver algum que abrigou vida e essa foi extinta, ou se autodestruiu com o uso de tecnologias avançadas de guerra... 

Talvez a vida seja mais comum do que imaginamos, mas muito mais discreta discreta do que gostaríamos.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Podemos conhecer a realidade?

Muitos respondem negativamente a questão acima. Alegam que nossos sentidos são imperfeitos e por isso não podemos ter certeza do que vemos, ouvimos e percebemos pelos outros sentidos. Mas não sabemos das coisas apenas "percebendo" as mesmas diretamente.

Fazemos comparações com as experiências de outras pessoas, constatamos fatos que sejam recorrentes, examinamos as condições que possibilitem que ocorra, e as que os possibilitam. É um simplismo ingênuo alegar incapacidade de conhecer devido aos limites dos sentidos. 

Uma outra forma de negar a possibilidade do conhecimento é a alegação de que não há uma realidade objetiva exterior a nós, ou em outras palavras: 

"Não existe verdade absoluta, ela é relativa ao ponto de vista. O que é verdade em uma sociedade, não é em outra, ou o que é verdade para mim, não é para outra pessoa."

Mas isso só faz pleno sentido para gostos pessoais em relação a criações humanas subjetivas como a arte. De forma parcial pode essa subjetividade se expressar nas chamadas "ciências da sociedade" e na psicologia.

Mas não está de acordo com os fenômenos naturais estudados pela física, química e biologia. E mesmo nas ciências que versam sobre a sociedade e mente humana a subjetividade é muitas vezes usada para mascarar e não explicitar o conhecimento.

Nossa presença no mundo é marcada pelas transformações que causamos nele, e transformamos a nós mesmos nesse processo. É por isso que existe subjetividade em assuntos que se relacionam diretamente a nós. 

Mas a realidade é absurdamente maior do que nosso mundinho e existe a bilhões de anos antes que o primeiro humano evoluísse de seus ancestrais. Ela é o próprio universo (talvez) infinito. 

É absurda a noção de que a realidade seja determinada pelo que pensamos ou pela forma com que a compreendemos. Podemos então dizer que o conhecimento não depende de nossa interpretação, de nossas preferências ou de nossa vontade a não ser em casos particularidades em que somos nós recriamos artisticamente a realidade por meio da pintura, escultura, artes cênicas, literatura, música, arquitetura e afins.

Por mais difícil que seja "arrancar a verdade"
da natureza, conhecer os fatos e não apenas as versões, creio que a realidade não seja inalcançável, ela se mostra após uma dura luta de verificações, análise de dados e comparação de informações. 

Já quando se trata do "auto conhecimento" dos seres humanos, sua psicologia, sua sociedade e evolução histórica parece haver barreiras intransponíveis em se fugir de vieses, ideologias, defesa de crenças e da vontade de acreditar. 

Um dado curioso alegado pelos estudiosos críticos da história é que ela é contada sempre pelos vencedores, e que temos que buscar tb a versão dos derrotados. 

Falta a esse discurso o entendimento de que versões são sempre versões, independente se de vencedores ou perdedores, e o que ocaso deveria ser descobrir os fatos escondidos sob as versões.

A enorme gama de conhecimento objetivo de que dispomos deu frutos inegáveis, alguns amargos como armas imensamente poderosas e a devastação ambiental,  mas a maioria doce, capazes de melhorar a vida e torná-la muito melhor do que era no passado. 

Uma grande parte da humanidade dispõe de conforto e recursos nem sequer imaginado até mesmo por reis e outros ricos e poderosos de poucos séculos passados, mas esses itens por sua vez são infelizmente negados aos que não podem pagar por eles. 

Exemplifico com os avanços na medicina em especial. Demostração excelente do conhecimento objetivo que tanto melhorou a vida humana, mas ainda inacessível a grande parcela dessa mesma humanidade, mantida em condições de pobreza extrema por um sistema social injusto ainda não superado.

Cabe aos estudiosos de nossa sociedade e de nossa psique encontrar meios de se superar nossa condição atual de injustiça social, sem cometer os erros desastrosos em especial do século passado, onde inúmeros países mergulharam em experiências enormes de transformação social, a maioria com resultados não satisfatórios quando não desastrosos 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Ceticismo compreensivo

Evoluímos vivendo em bandos. Isso em  parte nos moldou como "seguidores naturais de líderes e de idéias pré concebidas". A maioria de nós vê como natural acreditar no que todo mundo acredita e obedecer a quem todos obedecem. 

E realmente a vida em sociedade talvez fosse impossível sem que ao menos em parte isso ocorresse, mas sem exageros!

É o pensar diferente e a capacidade de criticar atitudes de autoridades estabelecidas que promovem a evolução da sociedade. Mas exatamente por contrariar o pensamento geral, essas atitudes não são bem vistas, principalmente em sociedades conservadoras, com maior grau de religiosidade. 

Então vc, meu caro cético, se está em uma sociedade conservadora ao extremo, talvez corra até risco de vida por pensar diferente, do mesmo modo que nosso antepassados que no passado duvidassem do que o líder dizia sobre não seguir pelo caminho cheio de leões...

Já se vc tem a sorte de estar em uma sociedade mais liberal, mesmo assim sua atitude cética pode incomodar. Ninguém gosta de ver suas crenças sendo questionadas. Então o cético muitas vezes é visto como um chato! Não se desgaste questionando tudo, isso vai afastar as pessoas, em especial as pessoas mais crédulas, que são as que mais se beneficiariam por conviver com um cético compreensivo. 

Discipline-se para que seja mais tolerante com as informações duvidosas, isso  nessa época em que as tolices são compartilhadas em uma quantidade absurda na web vai lhe possibilitar um pouco de paz. Uma auto ajuda para céticos.  

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O poker e a verdade.

Quando criança, eu e vários de meus amigos assistíamos aos filmes de "bang bang",  na Sessão da Tarde da Rede Globo de Televisão. 

Nesses filmes era comum que jogadores de poker se saíssem bem, derrotando vilões e ganhando fortunas, além da mocinha, é claro! Como não havia ainda web, ficávamos curiosos e sem resposta sobre como se jogava o tal de poker!  

Um dia, um garoto novato na rua disse saber jogar poker! Ótimo, respondi, ensine para a gente!
O garoto novato, com um ar esnobe, apenas respondeu que "não dava pra ensinar, era necessário saber".

Bom, com o tempo percebemos que o garoto era dado a  inventar histórias. Tudo ele conhecia, tudo ele já presenciara e com o tempo foi possível perceber que quase tudo ele inventara... Pq? Por uma necessidade enorme de aparecer? Para ser o  dono da verdade? Para obter prestígio? 

Mas ele não foi o único na história do conhecimento a agir assim! 

Em geral os místicos agem exatamente dessa forma. Detém "o conhecimento dos mistérios, ou dos segredos do universo" e não os compartilham... Ou ainda, afirmam que só pessoas especiais podem entendê-los... 

Que diferença dos que realmente pesquisam, comparam, comprovam, submetem a prova suas idéias... Claro que não há um cientista ideal, mas é na ciência em que isso ocorre, ainda que as vezes de forma parcial, sendo necessário correções, feitas alias em geral dentro mesmo da luta de ideias que faz parte dela.

Seus conhecimentos estão aí, a disposição, basta procurar. E se por ventura um conhecimento cientifico for questionado, haverá a alegação de que é algo que simples mortais não podem compreender? Não, pois ela se assume como obra de simples mortais  e não como a palavra e ensinamentos de deuses! 

Todo o conhecimento real se afirma no questionamento, na necessidade de comprovação, e não em alegações  vazias e místicas sobre ser necessário "saber", sem antes ter aprendido...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Duvidar de tudo

Não existem céticos em um avião em chamas... mas ele continua em chamas!

Ao se assumir como cético, uma pessoa muitas vezes, talvez em todas as vezes, é vítima do seguinte questionamento: Mas vc não acredita em nada? 

Céticos não duvidam de tudo, simplesmente duvidam do que não existe, ou do que provavelmente não existe, ou ainda do que não tem evidências de que exista.  Ser um cético é admitir que não se sabe tudo, é uma posição de humildade profunda. Em todas as áreas do conhecimento. 

Em política, por exemplo. Com tantas certezas, o que fizemos no século XX? Inúmeras guerras, experiências de mudanças sociais... Milhões de mortos... E há inúmeras pessoas atualmente dispostas a refazer tudo exatamente igual, numa demonstração cabal de que experiências nem sempre são usadas para se aprender!

Ter dúvidas é muito saudável. Quando ouvimos histórias fantásticas apresentadas como reais, quando nos dizem que tal remédio milagroso curou um doente "desenganado" pela medicina, que tal pessoa pode realizar feitos mágicos como ler o futuro ou que um médico ou psicólogo usa de métodos alternativos de tratamento, devemos sempre ter em conta que a necessidade de acreditar não torna real o que não o é.

O desespero infelizmente é o principal aliado de inúmeros tipos de charlatães existentes na medicina, na religião e em outros lugares procurados por pessoas fragilizadas em busca de amparo e soluções para problemas bem reais. O oferecimento de soluções irreais portanto, quando bem intencionado, é irresponsabilidade, já com o intuito de explorar a pessoa é crime!

Ceticismo é a posição que melhor nos livra de tudo isso.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Ceticismo e ficção.

Gostar de filmes, literatura e peças teatrais cujo conteúdo tratem de fantasias, sonhos e impossibilidades são um estímulo a imaginação. Não há problema algum em gostar deles. O problema é os confundir com a realidade.  
 
Grande parte da dramaturgia e da literatura tratam de ficção, e mesmo a baseada em fatos reais apresenta boa dose de desvinculação da realidade. É muito prazeroso poder fantasiar com o que nos apresentam os filmes, por exemplo. Mas é necessário cuidado, pois ao despertar nossa fantasia, eles ao mesmo tempo nos convencem fantasiosamente que o carrão do personagem principal nos dará a mulher do personagem principal...
 
Céticos não são interessantes para a propaganda. Se sabem distinguir fantasia da realidade, é natural que gostem de ficção, mas que não se deixem convencer pela fantasia da publicidade. Assim, obras que apelem ao ceticismo não são interessantes economicamente, daí serem muito raras. No entanto, há talvez algo interessante a se notar em um desenho antigo, do fim dos anos 60, chamado Scooby Doo.
 
Originalmente nessa série de animação, tínhamos um grupo de jovens e seu cachorro que invariavelmente enfrentavam supostas criaturas sobrenaturais. Demônios, fantasmas, monstros e afins sempre se mostravam fraudes, eram sempre criminosos interessados em afugentar pessoas para aplicar algum golpe. Crianças aprendiam que pessoas sem escrúpulos fingem para enganar os crédulos .
 
No antigo programa de humor Os Trapalhões, em um quadro final, o personagem Didi apresenta uma atitude cética como podemos ver no video abaixo: 

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Não é totalmente impossível se fazer experimentos sociais válidos

Ao contrário das ciências da natureza, as ciências sociais carecem de experimentação e não raramente são dominadas por influencias ideológicas, o que diminui seu rigor científico. Carl Sagan em "O mundo assombrado pelos demônios" faz um apelo muito apropriado para que os métodos científicos sejam utilizados pra que se possibilite a construção de um conhecimento mais objetivo sobre a sociedade e formas possibilitar seu desenvolvimento   



Os métodos da ciência —com todas suas imperfeições— se podem usar para melhorar os sistemas sociais, políticos e econômicos, e acredito que isso é certo qualquer que seja o critério de melhora que se adote. Como pode ser assim se a ciência se apoia no experimento? 

Os humanos não são elétrons ou ratos de laboratório. Mas todas as atas do Congresso, todas as decisões do Tribunal Supremo, todas as diretrizes presidenciais de segurança nacional, todas as mudanças no tipo de interesse são um experimento. Qualquer troco em política econômica, o aumento ou redução de financiamento do programa Head Start, o endurecimento das sentenças penais, é um experimento. 

Estabelecer a troca de seringas de injeção usadas, pôr camisinhas a disposição do público ou liberar a maconha são experimentos. Não fazer nada para ajudar a Abissínia  contra Itália, ou para impedir que a Alemanha nazista invadisse a terra do Rin, foi um experimento. 

O comunismo na Europa do Leste, na União Soviética e China foi um experimento. A privatização da atenção da saúde mental ou dos cárceres é um experimento. O considerável investimento do Japão e Alemanha Ocidental em ciência e tecnologia e quase nada em defesa —e como resultado o auge de suas economias— foi um experimento. 

Em Seattle era possível comprar pistolas para autoproteção, mas não na vizinha Vancouver, no Canadá; os assassinatos com pistola são cinco vezes mais comuns e a taxa de suicídio com pistola dez vezes maior em Seattle: as pistolas facilitam o assassinato impulsivo. Isso também é um experimento.

Em quase todos esses casos não se realizam experimentos de controle adequados, ou as variáveis não estão suficientemente separadas. Entretanto, até certo grau freqüentemente útil, as idéias políticas se podem provar.

Seria uma grande perda ignorar os resultados dos experimentos sociais porque parecem ideologicamente desagradáveis.


Existem inúmeras outras experiências sociais que podem ser apontadas. O motivo para que não sejam levadas em conta não se resume a falta de entendimento sobre seus resultados e sim a recusa em  se considerá-los em análises da situações! E pq? Pq preferimos continuar acreditando no que queremos acreditar, e não considerar apontamentos e evidências de que talvez estejamos errados... 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

É fácil enganar pessoas com apelos ao misticismo, a fé e a necessidade de acreditar.

Em seu livro O mundo assombrado pelos demônios, Carl Sagan nos conta de uma "armação" de James Randi que consegue enganar até mesmo canais de TV e jornais da Austrália com um "médium" denominado Carlos. Entre outros absurdos os veículos de comunicação nem checaram se as informações tinham fontes seguras. 

Divulgaram informações falsas como sendo verdadeiras, convencendo parte de seus telespectadores de que se tratava de uma comprovação da existência de fenômenos sobrenaturais. 

Nos vídeos abaixo é o próprio Randi que narra o fato. E longe de ser uma brincadeira, mostra como é fácil enganar pessoas com apelos ao misticismo, a fé e a necessidade de acreditar.

E se Randi não tivesse ele mesmo se desmascarado? 

James Randi fala sobre o "hoax" Carlos, partes 1 e 2.

http://www.youtube.com/watch?v=H-TasZEgG-4&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=442RfGsMjX4


Pessoas apelando a supostos dons especiais conseguem convencer o povo não só a comprar seus produtos e fazerem consultas, mas tb a serem seus "seguidores".

Jin Jones induziu 900 pessoas de seu culto ao suicídio... E parece que de forma geral muitos ainda se deixem enganar, ou talvez  sejam auto induzidos aos enganos. Querem crer e não saber. 


Querem encaixar a realidade em seus moldes pré fabricados. querem que o mundo seja o que eles imaginam, e estão dispostos a matar quem discorde.