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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Acusações justas e outras nem tanto contra a medicina II

Há acusações profundamente desonestas e equivocadas feitas pelos praticantes e adeptos de métodos alternativos à medicina. Alguns por ingenuidade, outros por coisa bem diferente.

“A alopatia trata dos efeitos, enquanto que a __________ (preencha com o método alternativo que quiser) trata das causas.” 

Alopatia é um termo inadequado para se referir à medicina, é invencionice de homeopatas para se colocarem como contraponto a medicina. Homeopatia é magia, e se alguém conseguir provar que magia é algo real há um premio de milhão de dólares oferecido por James Randi. 

Não existe unificação nas alternativas à medicina. Algumas dessas práticas não se diferenciam realmente dela, enquanto outras não têm fundamento. Retirar o sangue de um paciente e injetá-lo nele mesmo, beber urina, examinar a íris ou a sola dos pés para com isso descobrir doenças em outras partes do corpo, acreditar que há linhas em nosso corpo por onde flui energia mistica que cura nossos males se for estimulada, chacras, aura, água com memória curativa, magnetismo curativo... Tudo isso faz parte do reina da fantasia que tantos precisam acreditar por vários motivos. Alguns por simplesmente serem adultos com pensamento mágico. Outros por se apegarem por não terem esperança real em casos de doenças graves. 

Nesse caso a fantasia serve de conforto, e é um paliativo para os pacientes e um bálsamo para os familiares e amigos, mas se a sociedade como um todo se apega a essa credulidade imediatamente diminui a premência de pesquisas sobre métodos reais de tratamento e cura. Já outros métodos alternativos, como o uso de plantas medicinais apresentam evidencias inegáveis de ação. Mas a fitoterapia por descaso da medicina foi sequestrada pelas praticas mágicas de cura. É automática a identificação da medicina natural com a homeopatia e nada pode ser mais falso. 

Em uma planta, fungo ou mesmo um animal pode haver substancias que agem em nosso organismo do mesmo modo que em uma pílula “alopática”, a diferença é que no caso do remédio a substancia estará quantificada e separada de outras desnecessárias e até nocivas... Exemplo são os antibióticos produzidos a partir de fungos e remédios para hipertensão feitos com veneno de cobra. Já em uma pílula homeopática só haverá água pura como fator de cura. Sim, nada de natural, e sim sobrenatural, mágico, sem evidencia de ser algo real.  

Uma alegação recorrente é que a medicina é manipulada pelos grandes laboratórios que determinam o que será pesquisado e produzido. Afirmação em parte verdadeira e que por isso merece ser bem analisada. A pesquisa não é determinada unicamente pelas empresas. Pesquisadores que trabalham nas áreas públicas não se submetem totalmente a vontade dessas empresas e em alguns países gozam de uma autonomia muito boa. 

A influência da indústria de remédios é real, mas não onipotente. Até o governo brasileiro, sempre temeroso em desafiar "as grandes corporações capitalistas" teve coragem de quebrar a patente de remédios como os usados para o tratamento da AIDS. E não é só a medicina que dá lucro. Toda essas praticas sem fundamento tb são disponibilizadas por capitalistas sedentos de lucro. Eles não têm gastos com pesquisas, seja em ratos, beagles ou gente e cobram muitas vezes um preço altíssimo de pessoas ingênuas e mesmo desesperadas. Alguns se disfarçam de amantes da natureza, contrários as práticas desumanas da alopatia em defesa do verde... Defendem de fato do verde do dinheiro que ganham com seu caráter duvidoso.

Mas penso que a “acusação desonesta de raiz” seja a de que está acima entre aspas e em destaque, sobre tratar causas ou efeitos. Grande parte das alternativas à medicina trata coisa alguma. Já quando um ortopedista une fragmentos de ossos fraturados em um acidente, ele trata os efeitos pq as causas estão no passado, ele não pode mais agir sobre elas. Quando um pediatra em uma comunidade carente receita sulfato ferroso a uma criança subnutrida ele está sim tratando as causas da anemia e não apenas seus efeitos. 

Lógico que seria melhor que ele pudesse "receitar uma alimentação adequada para a criança", mas de que adiantaria se os pais não puderem comprar? O remédio ao menos legalmente deve estar disponível para quem precisar e é isso que está ao alcance direto do médico. 

A medicina trata de prevenção e não apenas de cura de doenças, embora sim, por razoes econômicas se de mais atenção a segunda opção. É algo que precisa ser criticado, revisto, há que se ter em mente que o poder econômico é algo real a ser denunciado, mas exagerar sua ação só faz ridicularizar a tentativa de combate-lo, pois se passa a combater monhos de vento achando que são gigantes... Em nenhum momento a luta real por uma medicina livre da sanha do lucro passa pela adoção de métodos de tratamento sem evidencia de funcionamento. 










domingo, 3 de novembro de 2013

Acusações justas e outras nem tanto contra a medicina I

Quando um cardiologista é procurados por um paciente é comum que devido à vida sedentária, má alimentação, obesidade, cigarros, poluição, stress, diabetes, hipertensão e outros fatores inatos e ambientais algum problema circulatório já esteja se desenvolvendo. A quantidade de informações sobre como cuidar do coração é enorme e está amplamente disponibilizada. Mesmo assim não é raro que os cardiologistas se detenham a explicar ao paciente o que ele deveria ter feito para evitar a situação e o que deve fazer para que o quadro não se agrave... 


A pessoa houve, tenta mudar hábitos por duas semanas e esquece. Tempos depois tem uma crise de hipertensão, a família fica assustada com a taquicardia e a sudorese abundante, tenta vigiar a pessoa para que não abuse após deixar a internação. O cardiologista novamente esclarece que só a medicação não é suficiente e o paciente assume que além dos péssimos hábitos tb deixa de tomar a medicação as vezes... Decide mudar para valer, mas isso dura até a próxima festa de ano novo... Passam-se meses, anos... 

O paciente não fuma mais, pois é algo difícil de esconder, mas, no entanto come doces, gordura, não faz as caminhadas que diz fazer, recuperou os 10 dos 15 quilos que havia perdido (na verdade recuperou todos e ganhou mais 3, mas mente sobre isso), não mede sua pressão arterial e nem a taxa de glicose... Mente para o cardiologista em todas as vezes que sua família lhe obriga a consultá-lo... 

Com a dor que sente devido a uma angina ele e a família novamente se desesperam. Vão em busca de métodos alternativos de tratamento, afinal a medicina não está funcionando... O terapeuta holístico telúrico cabalístico do cristal do conhecimento hermético de Atlântida, vestido a moda indiana e com um afetado sotaque oriental diz muito sobre o modo de vida do homem ocidental e como isso é prejudicial à saúde. Ou seja, diz o mesmo que o cardiologista, mas de uma forma encantadora, que prende a atenção, usa palavras que apelam para o pensamento mágico e a emoção, mas recomenda que o tratamento alopático não deixe de ser feito, pq a alopatia trata os apenas os efeitos e ele tratará as causas físicas, mentais, espirituais e intergalácticas do mal... O preço do tratamento é ainda maior do que o feito pelo cardiologista, mas desespero é desespero.

O paciente se submete a uma vida mais regrada, o que poderia ter feito se ouvisse os conselhos do cardiologista ou mesmo antes, pois informação para isso ele tinha. Iria poupar uma boa grana e não teria todos os danos irrecuperáveis que já atacam seu sistema circulatório. Pouparia tempo tb, todos os exercícios de relaxamento que o terapeuta de bata lhe passa para fazer em sua clinica poderiam ser feitos em casa mesmo, mas a clinica tem um ar místico, cheiro de incenso e uma bela atendente... 

Mas não são apenas a vida equilibrada e o relaxamento. O paciente tb toma remédios produzidos mediante testes rigorosamente controlados receitados por seu cardiologista, mas por influencia da nova crença pensa que "remédio de farmácia" faz mais mal do que bem, culpa das grandes corporações... Acredita que as infusões de plantas recomendadas pelo terapeuta são a verdadeira causa de sua melhora... Plantas afinal de contas eram usadas por nossos antepassados, certo? Mas ele não sabe que o terapeuta tb lhe vende outro tipo de remédio, esse feito de água com farinha com memoria curativa. É a massa de pão mais cara do mundo, mas mesmo assim compra pq tem fé. Nessa nossa história, para termos um final feliz o paciente vive mais uns bons anos de forma saudável. Não se tornou um fanático contrario a medicina alopática apesar de crer que ela é uma invenção da industria farmacêutica. Mas observa com razão que se sente mais a vontade com o "terapeuta indiano" (e nao importa que ele seja tao brasileiro quanto ele) do que com o cardiologista... 

Acusações sobre falta de atenção de médicos e outros profissionais da saúde são muitas vezes justas. Em parte se devem ao fato deles terem que se proteger da sobrecarga emocional originada pelo sofrimento de pacientes e pessoas próximas a eles. Mas há os puramente arrogantes, como os há tb entre engenheiros, advogados, professores... Muito se diz que os praticantes da “medicina alternativa” são mais humanos, compreensivos, simpáticos... Mas os alternativos não se submetem a horas de atendimento ininterrupto em prontos socorros cheios ou cirurgias de longa duração onde há o risco constante da perda de uma vida. 


É natural que gostemos de poder confiar em quem trata de nossa saúde. A pratica comercial e de distanciamento da medicina, voltada ao lucro é um fenômeno ruim, mas o pior é que esse espaço vem sendo preenchido por profissionais com técnicas inadequadas e sem fundamento. A coisa fica grave quando confiamos em quem, mesmo sem querer, nos engana. É um paradoxo que profissionais que usam de métodos reais de tratamento não consigam algumas vezes despertar confiança, enquanto que os que se baseiam em coisas sem fundamento apareçam confiáveis aos olhos de tantos.

 Alternativos costumam recomendar que o tratamento convencional não seja interrompido, menos mal que façam assim. Mas quando o tratamento médico falha, a culpa recai só na medicina, já quando há cura, a medicina tem que dividir a vitoria com alternativos de todo tipo. Foi o tratamento com florais que deu resultado, pena que os grandes laboratórios escondam isso... É como jogar futebol contra um time que não precisa cumprir as regras, é algo profundamente desonesto.




quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Sobre dons, ou a falácia da habilidade como capacidade


Nos últimos dias li duas opiniões sobre talentos e dons que me despertaram atenção. Uma em um blog de uma funcionária da Record e outra no Facebook postada por um conhecido. Em ambas há a afirmação de que a crença em capacidades inatas, em “habilidades já prontas de fábrica” quando se falar em seres humanos é um erro, pois seria algo mágico ou milagroso. Tudo o que fazemos bem seria fruto de esforço, de dedicação e interesse, prática e estudo e não de um dom inexplicável e místico dado a algumas pessoas por um ser superior...

As coisas colocadas nesses termos parecem estar bem, apelam para senso comum e agradam as pessoas não dispostas a aceitarem o sobrenatural e tb as que acreditam no individualismo. É um apanhado de idéias costuradas entre si de forma a aparentarem coerência e confirmação, mas o caso é outro. É necessário analisar as partes para que possamos destacar erros e ainda mais, observar que há outras partes envolvidas que não são levadas em conta.

Existe o inato e ele não é criação divina, fruto de milagre ou algo produzido por magia. Ele está presente no comportamento dos seres vivos, nós incluídos. A palavra dom inspira essa confusão. Realmente ela nos dá a idéia de que há algo sobrenatural, divino, superior em pessoas que se destacam em algumas áreas do conhecimento ou das práticas artísticas, esportivas e outras, mas não há tal coisa. No entanto, há sim habilidades inatas envolvidas em todas as nossas formas de agir e pensar e elas têm origem evolutiva e não sobrenatural. A evolução por seleção natural nada tem de mágica, e é ela que nos fez indivíduos diferentes. 

A diversidade biológica é algo ótimo para a preservação da espécie. Com diferentes habilidades podemos construir grupos mais diversificados, com grande capacidade de sobrevivência e reprodução. Se em outros animais habilidade inatas não são consideradas de origem sobrenatural, pq seriam entre seres humanos? Por preconceito, gostamos de nos ver como algo acima da natureza, como seres mais evoluídos que os outros animais. Erra quem duvida da evolução por seleção natural, erra tb quem a reduz à evolução dos outros seres vivos e não a aplica ao ser humano e ao seu modo de agir e pensar. 

Ao reconhecer que existem sim habilidades inatas fruto de seleção natural, novos problemas se mostram para serem enfrentados. Para os conservadores parece bom, pois se há desigualdade isso se deve, segundo eles a diferenças de capacidade. A falácia aqui é a confusão dos termos habilidade com capacidade. Como destaquei acima diferentes habilidades podem ser usadas para maior diversificação da capacidade do grupo em sobreviver. Então não há justificativa para a crença conservadora. Diferenças são boas se usadas para enfrentar problemas diversificados e não para classificar pessoas em superiores e inferiores. Habilidades são em parte inatas, mas obviamente podem ser desenvolvidas, mas não podemos confundi-las com as capacidades. Capacidade é algo determinado pela sociedade, pela cultura. Nas sociedades divididas em classes, as capacidades são determinadas pela ideologia da classe dominante.

Afirmar que tudo é fruto do esforço pessoal equivale a dizer que quem não tem o que precisa para viver, quem não tem toda a abundância de coisas supérfluas criadas pela sociedade industrial é um preguiçoso, alguém que não se esforçou o suficiente. Um fracassado. A culpa recai no individuo, e novamente temos o pensamento conservador em ação. 

O que está no cerne da questão é o inato no comportamento humano, algo cuja existência é negada por motivos diferentes. Em geral tendemos a ver o ser humano como totalmente moldável ao ambiente e capaz de aprender e adquirir toda e qualquer habilidade a que se dispuser a ter. Esse pensamento é visto como algo alvissareiro, pois sendo assim todos tem condições de melhorarem se aprimorarem, se darem bem na vida. Mas há uma faceta sombria nessa suposição. 

Os que não conseguiram sucesso, os que não se saíram bem, os “fracassados” são os que não se esforçaram, os preguiçosos, os incapazes. É uma crença cruel contra os bilhões de miseráveis do mundo, que morrem de fome, de doenças causadas por falta de condições sanitárias mínimas, doenças cujo tratamento é inacessível a quem não pode pagar... e além de tudo é uma crença falsa. Diferentes habilidades só se tornam diferentes capacidades quando selecionadas pela sociedade, ou melhor, pela classe dominante da sociedade em questão. Mas talvez isso seja mais bem visualizado em um ambiente que reproduz em escala reduzida e de forma ainda mais exacerbada a realidade social. Falamos da escola. 

Apenas habilidades ligadas diretamente ao calculo e o entendimento de textos informativos são vistas como “capacidade” nas escolas. Todas as demais inúmeras habilidades são vistas na melhor das hipóteses apenas como uma curiosidade, quando não são simplesmente ignoradas. A escola obedece às normas sociais que determinam o que deve ser valorizado. Obviamente os profissionais da educação tentam contestar essa afirmação argumentando que há inúmeras tentativas de se modificar esse fato. Mas aqui escrevo sobre o que acontece e não sobre boas intenções. Se há tantos tentando mudar e não conseguem estão no mínimo tentando do modo errado. 

Quando se identifica capacidade com habilidade está se incorrendo em um erro que é útil a ideologias políticas conservadoras. Quando a sociedade influenciada pela classe dominante seleciona o que lhe é útil e coloca como a única coisa digna de importância, se está cometendo um ato contra a diversidade, o que é péssimo para a evolução dessa própria sociedade e ainda oprime indivíduos que não se enquadram no perfil a ser preenchido. 

Todos os dias em todos os ambientes sociais estamos valorizando apenas algumas habilidades e menosprezando  inúmeras outras. As pessoas que nasceram com essas habilidades vistas como capacidade e principalmente as que tiveram a chance de desenvolve-las ganham status de portadoras de dons, o que é injusto e mesmo cruel com as demais que tb tem  suas habilidades mas que não são valorizadas.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Crenças sem fundamento e preconceito de classe.

No texto “A ciência e sua maneira de agir” publicado nesse mesmo blog escrevi sobre Maria, personagem pobre e de instrução mediana. Na ocasião ela procura ajuda médica para tratar uma grave doença. Sendo religiosa, no entanto, prefere acreditar em milagre no caso de cura ou ao menos de melhora e não na eficiência da medicina. Mas o resultado prático é o mesmo. 

Seu bom senso a ajuda a escolher alternativas válidas de tratamento e não se deter apenas em coisas de que gosta de crer mas são ineficazes e sem comprovação. É o comum entre as pessoas. Acreditam em deuses, em conspirações do universo, em energias misteriosas, em forças vitais, milagres, karma, cristais, memória curativa da água e em várias coisas do tipo, mas nada disso impediu o desenvolvimento da medicina e de todo o conhecimento que temos sobre a realidade em inúmeras outras áreas. A maior parte das pessoas tem esse senso prático realista em algum grau apesar das fantasias em que estão inseridas. 

Há, no entanto, uma visão preconceituosa sobre as pessoas como Maria. As crenças dela e dos membros de sua classe social são vistos como obtusas, irracionais, próprias de pessoas iletradas e sem instrução. Há o mito de que noções equivocadas e fantasiosas sobre a realidade sejam próprias de "pessoas com pouca inteligência". Mas crenças igualmente sem fundamento existem também entre as parcelas mais instruídas da sociedade. 

A diferença é que ao serem aceitas pelos de maior status social, os mitos passam a ser aprimorados, melhor elaborados e ganham maior capacidade de se disfarçarem de conhecimento real e de enganarem outras pessoas. São as crenças “chiques”, que usam de termos sofisticados e de justificativas extremamente convincentes sobre si. Apropriam-se de conceitos reais e os usam de forma desonesta, fora do contexto, falsificando-os. Convencem mesmo pessoas altamente instruídas, que se acham imunes a enganações. Os termos crendice e superstição, e também auto ajuda e práticas alternativas talvez nos ajudem a observar a distinção entre crenças irreais próprias de diferentes classes sociais.  

São chamadas de crendices e superstições as crenças dos mais pobres, são auto-ajuda e práticas alternativas as crenças das classes elevadas e de maior instrução. Muitas práticas da chamada medicina alternativa realizadas em clínicas caras para clientes que dispõem de recursos para pagar não tem qualquer fundamento, mas não são consideradas crendice. Crendice é apenas a cura pela invocação do sobrenatural feita pelo pajé, babalorixá ou por pastores evangélicos. 

Pensamento positivo fazendo o universo conspirar a seu favor é algo tão irreal quanto as práticas mágicas feitas populações de coletores caçadores do passado e do presente. Mas as crendices chiques das classes superiores não se detêm nos termos autoajuda e práticas alternativas. O uso do termo física quântica já há algumas décadas é recorrente nesse meio fantasioso sofisticado e serve para justificar afirmações as mais absurdas, que nada tem em comum com a mecânica quântica da física real. São crenças místicas se transvestindo de conhecimento real.

Para constatarmos que pessoas instruídas e com bom nível inteligência não são imunes a crenças não fundamentadas podemos ler a publicidade de revistas de entretenimento e de informação voltadas ao público classe média e elitista. São oferecidos inúmeros produtos para tratamentos estéticos e de saúde sem nenhuma comprovação de eficiência ou fundamentação de funcionamento. No entanto são adquiridos pelos consumidores ávidos por acreditar que vão emagrecer tomando chá, que ficarão dez anos mais jovens com o novo creme para a pele, que ficarão menos estressados tomando o complexo vitamínico anunciado ou que o suplemento alimentar irá lhe tornar forte como o ator de filmes de ação... Felizmente a regulamentação sobre saúde não permite maiores engôdos, mas mesmo assim remédios a base de nada são anunciados no tratamento de doenças que se curam sozinhas...

Steve Jobs e Bob Marley, cujos níveis de inteligência foram obviamente inegáveis em suas áreas, nem por isso estiveram imunes a crenças fantasiosas que os impediram de procurar tratamento real para a doença que os vitimou. Crer que atitudes moldadas por mitos e suposições equivocadas  são "próprias dos iletrados" acaba por facilitar a propagação das crenças perfumadas, bem vestidas mas igualmente falsas das classes mais elevadas. 

O conhecimento existe e não é exclusivo de uma parcela da sociedade. Apesar de ser mais facilmente produzido quando se tem recursos para isso sua aquisição não é tão dispendiosa em um país como o nosso desde que se esteja disposto a procurar. A sorte de se de contar com educadores que saibam distinguir entre fantasia e realidade é importante, o que aumenta enormemente a responsabilidade de pais, profs e todos os indivíduos responsáveis pela formação da criança e do adolescente.  





sábado, 28 de setembro de 2013

Crítica da Razão Pura

Adoramos explicações. Seduzimos-nos com uma exposição bem feita, organizada e clara de idéias sobre assuntos de nosso interesse. Tb temos nossa atenção despertada quando somos atingidos por uma explicação coerente com o que pensamos. Somos convencidos a agir e pensar de acordo com noções e hipóteses que nos são passadas constantemente por vários meios explicativos, desde as conversas informais entre conhecidos às instruções dadas em instituições de ensino e informações nos veículos tais como jornais, estações de rádio, canais de TV e a web. 

Pensadores do passado e atuais tecem enormes explicações sobre a vida, o universo e tudo o mais. Somos fanáticos por conhecimento, obcecados por significados que o mundo possa ter. Somos racionais e esse termo se traduz como o grande separador do mundo humano do mundo natural. Sermos racionais é o que nos separa do restante dos animais... 

Mas como varias outras afirmações taxativas essa esconde armadilhas que devemos não só evitar, mas tb desarmar. Ser racional não necessariamente significa que tentemos comprovar nossas idéias ou que nos esforcemos para isso e ainda mais, nossos instintos continuam ativos, eles não são desligados pela racionalidade... Não é raro que o contrário ocorra. 

Quando uma ideia  é aceita ela passa a ser vista por nós como verdadeira e buscamos apenas comprová-la. Recusamos tudo que nega que a explicação seja verdadeira. Esse é um modo de pensar e agir inato e universal de nossa espécie. Nesse sentido restrito implícito aqui, razão é o uso do pensamento para se conhecer de forma não necessariamente crítica. Mas o uso de um sentido mais amplo é o mais comum atualmente. Nele razão é entendida como o uso das faculdades mentais para conhecer a realidade através de investigação, análise, comparação e experimentos e com o uso do senso crítico. 



Mas não é nesse sentido amplo e moderno que o termo é usado por um dos maiores filósofos de todos os tempos, Immanuel Kant em “A crítica da razão pura”. Quando lia o titulo da obra eu ficava curioso, ora, uma critica da razão pura significava exatamente o que? O irracionalismo tb deve ser usado? Vamos fazer a razão deixar de ser pura misturando-a com superstições e suposições sem fundamento? Mas não é isso que Kant propõe. 



A "razão pura" criticada por Kant é a tentativa de se conhecer a realidade apenas por meio do pensamento, por meio de reflexão sobre os fenômenos que nos cercam, de observação superficial, sem experimentação, sem agirmos de fato sobre os objetos de conhecimento. É o que propõe Platão, o famoso filósofo da Grécia antiga. Para esse pensador o mundo que percebemos pelos sentidos é uma ilusão, segundo ele “vivemos numa caverna observando sombras”. 

O mundo real seria o mundo das idéias que projetam sua sombra na caverna onde nos encontramos. Vemos essas sobras e de nada adianta estudá-las e agirmos sobre elas serão sempre apenas isso, sombras e não a realidade. O mundo material é uma mera projeção imperfeita de uma ideia...Essa é uma noção equivocada sobre a realidade, a realidade é material e existe independente de idéias, e demonstra que o pensamento quando fica livra para agir sem se prender a realidade material não consegue distinguir entre realidade e fantasia. 

Para pensadores como Platão a ciência com todo o conhecimento que construiu e as praticas que possibilitou seria apenas ação sobre sombras e não conhecimento sobre a realidade... Essa noção já demolida em definitivo por Kant com argumentação filosófica a três séculos e comprovada na pratica em incontáveis experimentos desde então ainda continua na moda entre pensadores misticos e pós modernistas em sua totalidade e pseudocientíficos em geral.

Hoje estamos em boa parte tão familiarizados com noções de experiências práticas e cientificas que para a maioria de nós talvez seja difícil entender como se construía o conhecimento antes do século XVIII. Mas o fato é que o que Kant chama de razão pura é tb conhecido como idealismo filosófico, a noção de que a ideia é algo objetivo, cuja existência não depende de alguém para a pensar, é perfeita, imutável e o mundo que vemos é apenas um pálido reflexo dela. Para conhecermos então a realidade devemos conectar nosso pensamento com essa ideia objetiva e então aí sim teremos conhecimento... 

Assim explicações podem ser feitas, mas sem necessidade de comprovação prática, explicações sem base material, é isso que Kant brilhantemente faz ruir em sua obra, mas... O que ele propõe no lugar? Ao invés de explicações construídas mentalmente deveríamos então apenas fazer demonstrações praticas do que queremos que os demais vejam? Quero explicar como se constrói uma parede, então construo a parede para demonstrar como fazer... 

Não, Kant demoliu a “razão pura”, mas tb superou o empirismo, e inaugurou a ciência moderna. Depois dele toda a noção de que é possível se conhecer sem experimentar se tornou obtusa, mas uma vez conhecido algo por meio de evidencias e experimentação, as explicações ai sim podem ser feitas apenas com o uso da ideia. 



Não disponho de suficiente erudição para dar a verdadeira noção do alcance dessa revolução na forma de se construir o conhecimento, é por isso que uso de exemplos. A ciência moderna é a própria concretização dessa noção construída por Kant em todos os aspectos do real. Se soubermos que a matéria é constituída por partículas absurdamente pequenas e que tem características estranhíssimas não foi pq alguém apenas pensou sobre isso a partir do nada. Não é pq alguem viu algo assim numa bela tarde de verão... 


Racionalismo e empirismo, ideia e ação, ambos devem ser usados para se conhecer. A observação das citadas partículas não se dá facilmente, é por isso que se uma fortuna em euros na construção do LHC do CERN para se poder observá-las... Mas uma vez observado o comportamento de uma dessas partículas pode se deduzir com graus variados de certeza o comportamento das demais. Foi assim que inúmeras idéias acertadas sobre a realidade surgiram, por meio de comparação com o que já se conhecia. Depois com o avanço das técnicas de observação, o LHC por exemplo, essas idéias puderam ser testadas e demonstradas na pratica.


Não se trata da supremacia absoluta da experimentação, do empirismo. É um ciclo, uma alternância e superação entre ideia e comprovação. Em toda construção de conhecimento cientifico em geral se parte de uma hipótese, daí se procura fazer uma experimentação, onde se nega ou se confirma a hipótese no todo ou parcialmente. Dito de forma extremamente simplista, esse ciclo fundamenta a criação de teorias explicativas, que nos permitem entender a agir sobre a realidade. 

Se vc está lendo esse texto digital nesse momento foi pq no passado foram feitas teorias sobre eletromagnetismo que possibilitaram o uso da eletricidade e a conseqüente construção de eletrônicos como os computadores. Se alguém de sua família foi curado de uma doença de tratamento difícil no passado é pq a biologia e a química por meio de experimentação e construção de idéias baseadas na realidade desvendaram muito sobre o funcionamento de nosso corpo... 

E vc, que a cada gasto considerado muito grande na pesquisa cientifica se comporta histericamente contra, saiba que sem o CERN vc não estaria usando a web nesse momento.  Sem pesquisa espacial vc não teria seu cel e seu computador que  usa tanto para despejar criticas, muitas injustas e desencontradas à ciência que os criou. Para tantos parece que o uso de bolas de cristal por misticos no passado era tão ou mais eficaz quanto o uso de computadores na internet atualmente. 

Ha muito, muito mais para se conhecer. E o método em grande parte criado por Kant, a ciência moderna é o melhor já inventado até agora.

Sobre vespas e manipulações

Nesse momento, 16h e 14 minutos de 27 de setembro de 2013 no mesmo ambiente em que estou uma vespa leva para seu ninho de barro uma aranha que capturou e paralisou com seu veneno. Sabe ela que seus filhotes vão devorar a aranha ainda viva por dias e com isso sobreviver até poderem caçar sozinhos? Ou será que Deus em sua inteligência um tanto cruel contra aranhas criou as vespas com esse comportamento? 

Gostamos de pensar que há uma inteligência por trás de tudo pq inteligência é o que conhecemos para agir. Mas não há nada de conhecimento no comportamento da vespa e nenhuma inteligência divina a criou capaz de agir assim. Simplesmente as vespas que já nasciam com esse comportamento tiveram mais êxito em fazerem seus filhotes sobreviverem e terem mais filhotes... Todos com esse mesmo comportamento determinado pelos genes. Isso é seleção natural e nada tem de inteligente ou planejado. É sobrevivência e reprodução. 

Nós seres humanos tb somos assim, originados por seleção natural. Temos no entanto uma característica que a vespa não tem, a capacidade de planejar. Mas não devemos inverter as coisas, é a seleção natural que criou essa capacidade, ele não existe anteriormente a seleção natural. É erro se crer que há planejamento na origem e evolução das espécies, não há um deus planejador da existência e desenvolvimento das espécies... 

 Mas não somos pura consciência, puro planejamento. Tb agimos obedecendo instintos, tal como a vespa. Quando temos medo suamos frio, trememos e mesmo fugimos, sem refletirmos se o perigo é real ou não. Quando temos raiva atacamos, nem que seja apenas com palavras, sem nenhuma reflexão... 

Por mais politicamente corretas que tentem ser as mulheres tendem a rejeitar relacionamentos com homens mais baixos e com menos recursos econômicos que elas. Homens preferem as com quadris largos e cintura estreita. As mulheres cabides das passarelas são apenas um veiculo de publicidade para ateliers famosos ... Essas e muitas outras preferências sexuais inatas podem ser manipuladas pela moda e visando maiores lucros em cosméticos e acessórios de beleza e equipamentos esportivos. 

Adoramos comer, pois nossos antepassados evolutivos viviam na escassez e só os mais ávidos por comida sobreviveram. Esse comportamento agora que temos agricultura e pecuária é explorado pela indústria de alimentos para nos fazer comer mais, dando-lhes mais lucro e nos tornados obesos mórbidos. 

Tememos o desconhecido, seguimos líderes, e esse medo e essa característica inatos podem ser manipulados para se tornarem racismo, xenofobia e culto a personalidade a serviço de líderes totalitários, além de guerra aberta contra outros povos.

 Partindo de instintos comuns a varias outras espécies, a nossa é capaz de reelaborar o comportamento, para o bem ou para o mal. E tudo o que segue nossos instintos e os manipula tem muito mais força de convencimento do que o que vai contra esses instintos. 

É impossível convencer com argumentação racional uma multidão em fúria ou com medo a não linchar uma pessoa ou a não fugir pisoteando os outros. O instinto de comportamento em bando, ligado diretamente a sobrevivência é muito mais forte que a razão. Os instintos ligados a reprodução também são muito influentes em nosso comportamento... 

Outras formas de comportamento inato, apesar de serem em geral mais brandas e maleáveis tb tem seu peso em nos fazer agir no automático, animais que somos, que se consideram racionais em absoluto, mas não são. Esse é um fator desconsiderado no estudo do indivíduo e da sociedade. 

Muitos se perguntam como o extermínio de milhões de pessoas foi possível na Alemanha nos anos 40 do século passado. E como inúmeros outros governos conseguiram ao menos por alguns anos eliminar quase totalmente o senso critico de populações instruídas como as da Europa... Várias respostas se juntam para explicar o quadro, mas uma resposta possível que quase nunca é dada é que há no nosso comportamento inato margem para manipulações desse tipo. 

Hitler e toda a liderança nazista não surgiu do nada e nem todo o conjunto de inúmeros déspotas que se seguem na Historia. Todos de alguma forma conseguiram acessar o ponto em que não somos racionais e sim instintivos, e usar isso com resultados bem reconhecíveis... 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Monoteísmo e sociedades centralizadas e dominadoras

O estabelecimento de uma variante do monoteísmo hebraico, o cristianismo, pelo imperador Constantino como a religião única do Império Romano foi uma tentativa desesperada de se conter o desmantelamento da estrutura sócio-econômica e cultural do Império Romano e obteve êxito em alguns pontos fundamentais. 

Apesar de se considerar que a parte ocidental do império ruiu no século V, a cultura e formas de organização social preservadas pelo monoteísmo acabaram por influenciar os povos germânicos que se estabeleceram dentro das antigas fronteiras romanas. Em poucos séculos praticamente todos os povos germânicos já haviam se convertido a nova religião sob as ordens de reis que viram a utilidade do monoteísmo como unificador sócio cultural e facilitador do domínio de uma autoridade sobre o conjunto da população... A formação dos reinos europeus medievais se deu sob a tutela da ideia da religião monoteísta. A Europa moderna nasceu sob a influencia dessa ideia e a difundiu pelo mundo.

Com a enorme influencia da Europa a partir das grandes navegações do século XV ocorreu a “exportação do monoteísmo” a todos os outros continentes e inúmeros povos de todo o planeta, a ponto do monoteísmo ter se tornado hegemônico em varias regiões e culturas do mundo. Essa dominação da crença em um deus único sobre o mundo todo é mostrada de forma inteligentemente irônica, por Saramago em O evangelho de Jesus Cristo. No romance, Jesus é apenas um instrumento (e não um filho) que Javé usa para deixar de ser um pequeno deus do deserto e se tornar o deus mais influente do mundo...

Na Península Arábica ocorreu outro grande exemplo da utilidade do monoteísmo em unificar povos sob a tutela de impérios. Os árabes criaram a sua variante do monoteísmo hebreu, o islã e usaram essa ideia para unificar inúmeros povos da Ásia, África e mesmo de regiões da Europa. 

Resumidamente vimos como as crenças de um povo do deserto acabaram dominando no mundo atual bilhões de pessoas por terem sido úteis, aceitas e difundidas por grandes impérios do passado. 
Monoteísmo, no entanto não é um termo exato devido à dificuldade em se determinar o que é um deus único e negar o status divino a outros seres sobrenaturais. 

Nos mitos bíblicos, Javé usa de emissários (anjos) para agir entre os seres humanos e não nega a existência de outros deuses, apenas proíbe os hebreus de lhes cultuar. Disputa com o diabo a influencia sobre Jó e ao menos uma vez é sobrepujado pelo diabo na influencia sobre o rei Davi. Também no islã o deus único Alá conta com o auxílio e oposição de seres sobrenaturais como os djins. Mas é no cristianismo que a herança do politeísmo se mostra mais claramente devido a influencia greco romana sobre a região da palestina da época em que ele foi criado.

 Jesus é uma divindade ao estilo grego, filho de um deus com uma mortal. Há um deus “espírito santo” e o deus criador, o pai, que apesar de ser identificado com Javé não demonstra a arrogância e a crueldade típica desse deus em passagens anteriores da bíblia. Tentativas de se unificar esses três deuses esbarram no fato de que só o deus pai dispõe de informações tais como quando será o fim dos tempos, informação que Jesus, não possui... E o cristianismo, que já nasceu influenciado pelo politeísmo grego seguiu nossa tendência a divinizar a tudo e a todos, elevando mais e mais seres sobrenaturais ao status de deuses. 

Ao se firmar como Igreja católica no fim do Império Romano, estabeleceu o culto a divindades menores; em geral heróis e mártires mortos. Entre os gregos eram chamados semideuses, entre os católicos são os santos. Católicos tentam negar o fato de que santos são deuses, mas continuam pedindo a eles curas de doenças, boas colheitas, vitórias em competições de todo tipo, sucesso profissional, casamentos, chuvas e tudo o mais que outros povos politeístas pedem aos seus deuses... 

Grupos minoritários de cristãos, em especial os pentecostais (evangélicos) dizem se opor a influência do politeísmo mas aceitam a já citada caracterização de Deus como sendo três pessoas e apontam a ação do diabo como tão grande sobre o mundo que fica impossível não o caracterizar como um deus e aqui é preciso enfatizar um ponto. Um deus não é necessariamente bom, é apenas um ser sobrenatural a que se rende um culto ou ao qual se tem temor devido a sua grande influencia sobre o mundo. Difícil caracterizar Javé como sendo bom quando sabemos que ele matou inúmeras pessoas por motivos banais tais como homossexualidade, consumo de sangue e carne de porco e sexo fora do casamento... E ainda as condena a tortura eterna no inferno... 

O que temos entre os pentecostais e outros grupos cristãos minoritários é um deus criador do mundo que atualmente pouco age sobre a sociedade humana. Ações mais significativas e benéficas sobre as pessoas são efetuadas pelo deus filho, Jesus, mas só em quem o aceita por meio de uma cerimônia publica chamada batismo. A esses ele concede bens materiais e vida eterna. É um deus exclusivista que nega tudo a quem não o adora. Agindo sobre as pessoas de forma maléfica, temos um deus corruptor, o diabo, que não discrimina ninguém, não precisa ser aceito para que influencie a sociedade, governos e tudo o mais que seja humano. Nas crenças dos grupos evangélicos o diabo é o deus mais atuante, pois não se impõe restrições... 

É muito difícil, ou talvez impossível se estabelecer um culto realmente monoteísta, ficando tudo apenas na base da “restrição ao exagero do numero de deuses”, e talvez seja apenas essa a necessidade. Na pratica pouco importa se o numero de deuses seja apenas um ou dois ou três. O que se tenta evitar é a divisão cultural da sociedade própria do politeísmo com seus inúmeros deuses. Impérios e outras sociedades centralizadas precisam que uma vontade geral e unificada seja aceita pela população e um bom jeito de se obter isso sempre foi a religião. No passado distante a nossa espécie se dividia em pequenas tribos, cada uma com seu próprio conjunto de crenças. 

Unificação de crenças é uma necessidade quando ocorre a unificação de tribos em comunidades maiores, sociedades mais complexas, impérios... É comum que os deuses das sociedades dominadas sejam suprimidos ou inferiorizados em relação ao deus da sociedade dominante. O cristianismo fez isso com os deuses anteriormente cultuados no império romano. O islã o fez com os da península arábica, os do norte da África e do sul da Ásia. O catolicismo agiu assim com todos os povos dominados pelos europeus por praticamente todos os continentes, em especial a América latina. 

Atualmente os pentecostais reprimem o culto aos deuses de origem africana e indígena da umbanda e demais crenças politeístas outrora tão comuns nas periferias dos grandes centros brasileiros... Tb estão agindo assim entre populações indígenas, trocando os mitos politeístas pelo mito monoteísta cristão. Carl Sagan afirma em O mundo assombrado pelos demônios que o monoteísmo é próprio de povos mais agressivos e que dominam outros. Ele está correto e os motivos foram explicitados acima. A dominação de uma cultura sobre outras é o que se esconde muitas vezes por trás da substituição do politeísmo pelo monoteísmo.

Monoteísmo, origem e evolução histórica

Seres imaginários povoam as crenças de quase todas as culturas do mundo, ou talvez de todas. Existem de tantos tipos quanto nossa imaginação possa conceber. Alguns são poderosíssimos, capazes de decidir sobre o destino da sociedade, produzir fenômenos climáticos que auxiliem ou prejudiquem colheitas e demais atividades humanas e mesmo seriam os responsáveis pela criação e manutenção da existência do mundo e de tudo o que nele existe. São cultuados e temidos por seus poderes e sua influencia em uma escala muito além de nossa capacidade. Ao serem agraciados com homenagens e sacrifícios podem nos beneficiar e prejudicar nossos inimigos. Podem nos castigar quando cometemos faltas e não cumprimos nossas obrigações... 

A caracterização cultural dos deuses de diferentes povos de diferentes épocas históricas como podemos ver acima não pode ser feita senão de maneira abrangente e geral. Não há critérios objetivos para se diferenciar deuses de outros seres superiores e sobrenaturais. Mas isso é relativamente pouco problemático quando se trata de politeísmo. Nesse tipo de crença religiosa, a rigor, não há necessidade de distinção absoluta entre os deuses e outros seres sobrenaturais. Uma distinção possível seria o fato de que aos deuses se aplica algum tipo de culto ou temor, pois sua influência sobre o mundo dos homens seria mais abrangente e decisiva. Nesse sentido até mesmo pessoas mortas podem ser alçadas a condição de divindades, algo comum entre culturas “pré-históricas”, entre os gregos antigos e tb entre católicos modernos (apesar deles se crerem monoteístas, mas discutiremos isso mais adiante).

A origem da crença em deuses, essa sim pode ser definida em termos objetivos. A consciência humana é algo tão poderoso em se auto-iludir e ver significado em tudo que acontecimentos sem explicação são tidos como fruto de intenções ocultas, de seres aos quais não se pode ver, e cuja existência se situa acima das limitações humanas. Essa é uma adaptação evolutiva e uma das causas da crença em seres sobrenaturais. A origem do mundo, a chuva, o sol, a lua, a alternância entre estações do ano, o movimento relativo dos astros no céu, as marés, as cheias dos grandes rios, os períodos de seca, a organização política e econômica da sociedade e toda sorte de fenômenos naturais e sociais parecia aos olhos de nossos antepassados como sendo obra desses seres superiores. 

A nossa tendência a seguirmos líderes, outra adaptação evolutiva comum entre animais que vivem em bandos origina a necessidade de crermos que alguns desses seres superiores são senhores de nosso destino, os criadores da natureza, da estrutura social e das suas regras. São os deuses do politeísmo. 

Mas após milênios de politeísmo, algumas sociedades tentaram reunir esses seres em uma só entidade, em um só deus. Temos assim o  monoteísmo. Essa tentativa de unificação pode ocorrer por motivos variados, mas a necessidade de unificação sócio-econômica e cultural de um ou mais povos sob o governo de uma classe social dominante com um líder proeminente é em geral um fator importante. 
Mas como veremos há muita dificuldade em se manter o culto a um só deus, pois tendemos a criar vários deuses e outros seres sobrenaturais para explicar e justificar diferentes aspectos do mundo. 
Em geral as pessoas não aceitam pacificamente que seus seres fantasiosos diversificados sejam reduzidos a um só ser fantasioso do monoteísmo governante... 

No Egito antigo a tentativa em se estabelecer o culto do deus Aton como o único foi feita sob a tutela do faraó Amenófis IV treze seculos antes de Cristo. Estava ele interessado obviamente em reduzir a influencia dos sacerdotes dos inúmeros outros deuses e aumentar a sua própria sobre a população. Embora não tenha obtido êxito em se firmar, devido principalmente a inabilidade de Amenófis em superar a oposição dos sacerdotes dos outros deuses, essa reforma deixou uma herança cultural que influenciou os povos da região. 

Séculos depois os persas já contavam com um sistema religioso, o zoroastrismo, que reduziu drasticamente o numero de deuses, onde apenas dois deles tinham importância fundamental no mundo, sendo um deus favorável a ordem e a luz e outro ao caos e as trevas. Tb os hebreus beberam dessa fonte. O estabelecimento do culto único a Javé entre os hebreus (que antes eram politeístas) foi uma unificação cultural e uma forma de resistência ás outras potencias militares do Oriente médio da época. Mas novamente essa experiência teria se limitado a esse povo se não fosse pela aceitação dessa ideia pelo maior império da antiguidade, Roma. E isso mudou tudo.

Continua.


sábado, 17 de agosto de 2013

Anarquia II

É fato que os não ricos reagem contra a opressão e a exploração. Por vezes conseguem influenciar de forma limitada ações governamentais em beneficio a si contra os ricos, mas tudo com muita organização e luta aprovando direitos tais como seguro desemprego, estabilidade no trabalho, salários mais altos, descanso remunerado, e tudo o mais que é visto pelos ricos e seus puxa sacos como sendo incentivo a preguiça... Alias esse erro que é identificar a contradição entre governo e sociedade e não entre classe dominante contra classes dominadas evoluiu para algo de uma estupidez difícil de igualar. A ideia “anarco capitalista” de que é possível uma “sociedade livre” com a manutenção e o incentivo a divisão da sociedade em classes sociais. 

Ora, com classes sociais os mais ricos dominam os mais pobres e é exatamente essa dominação que cria a necessidade de um governo dos ricos contra os pobres. É uma tolice identificar capitalismo com anarquismo, mas crenças há de todos os jeitos e poucas são racionais...

O governo da parte economicamente mais forte sobre a sociedade recebe o nome de Estado. Então aí temos algo concreto. Acabar com a opressão do Estado é acabar com a exploração econômica. Se anarquismo pode ser uma bobagem subjetiva quando prega contra o governo em geral, passa a ser algo diferente quando percebe que não é o governo e sim o Estado o inimigo. Já são passos a mais dados no caminho. E em nosso país os passos dos anarquistas em direção a um entendimento melhor formulado sobre a realidade foi fundamental para a criação do Partido Comunista em 1922. Mas a estrada é longa. 

A superação da sociedade atual, o fim da exploração, não me parece ser algo visível no horizonte, então o que toca é ao menos diminuir essa exploração. Algo que afinal de contas é possível. Países com tradição de lutas populares tendem a ter mais direitos aos trabalhadores. Países como o nosso, aonde a exploração chega ao nível do parasitismo mesmo, não tem uma mobilização popular a altura. A eleição de representantes da esquerda para altos cargos rende resultados visíveis em relação à realidade social anterior, mas ainda de forma muito limitada. 

Os ataques irascíveis da direita, no entanto mostram o que aguarda um governo que se volte mais aos interesses populares contra os privilégios da nossa “elite” uma das mais obtusas, anacrônicas e adversas ao trabalho no mundo. Alias é incrível como a parcela obtusa da classe média atribui ao povo brasileiro algo que é próprio da classe dominante, a falta de esforço e a vida à custa do erário público. 

Anarquismo é palavra de significado vago. Pessoas sem noção sobre a realidade social podem ser anarquistas, do mesmo modo que as que querem confundir... Mas tb há sim os anarquistas com conhecimento sobre como funciona a sociedade e que se apegam a formas de se transformá-la, mas mesmo esses cometem um erro. A ilusão de que tudo se dará por magia. Sim, magia, o proletariado toma o poder, acaba com o Estado instantaneamente e fim. Temos uma nova sociedade, tal como quando se apaga uma folha de papel escrita a lápis e se reescreve o texto... Mas lápis deixa marcas no papel. 

As parcelas revolucionárias da esquerda diferem dessa concepção de anarquismo pq acreditam que após a revolução haverá um período de transição para um novo tipo de sociedade. Não se transforma a sociedade em uma noite, dizem. E tem razão. Mas mesmo essa tendência não encontrou formas reais de se superar o capitalismo. Deve continuar a tentar entender melhor a sociedade atual, seus pontos fracos e formas reais de superá-la sob riscos de novos fracassos se não o fizer. 

Assim a diferença entre o anarquismo mais conseqüente e a esquerda revolucionária se limita a compreensão da necessidade do período de transição, já que ambas as correntes políticas identificam a contradição entre classes sociais como o ponto fundamental. As outras concepções anarquistas variam desde as ingênuas e pueris que creem na redenção do ser humano por meio da educação até as mais psicóticos que identificam na exploração capitalista a sociedade libertária...

Anarquia I

Toda sociedade humana tem governo, do mesmo modo que todo animal social tem líderes. A utopia romântica de uma sociedade “sem governo” é algo sem sentido. O caso é ver em interesse de quem essa liderança é exercida. Estado é o governo da parcela economicamente mais poderosa da sociedade sobre as demais. É possível então acabar com o Estado se for possível acabar com a dominação econômica, mas não acabar com o governo. Sociedades sem classe não tem Estado, mas tem governo, pois liderança é algo inato a todo animal social. Anarquistas mais consequentes lutam contra o Estado, e mesmo quando usam o termo governo se referem ao domínio econômico, que gera o domínio político e ideológico... Anarquistas que dizem lutar contra o governo “em geral”, sem caracterizar diferenças entre liderança, controle e dominação social ou são ingênuos ou enganadores...


Anarquia, eis um termo usado pelo senso comum para expressar um desejo, o da ausência de governo... Mas todas as sociedades, desde as mais primitivas às mais atuais sempre foram governadas e o governo foi se tornando cada vez mais complexo a medida que a própria sociedade foi se sofisticando. 

Ausência de governo, cada um plenamente consciente se suas responsabilidades sem necessidade de regras impostas, tal coisa nunca existiu... O caso é que nossos antepassados pré-humanos já se organizavam em bandos com líderes, o que é alias a regra de todos os animais sociais. Nossa estrutura mental produzida por seleção natural nos condiciona a comportamentos que tornam utópico o objetivo de construir uma sociedade sem governo. 

É ingenuidade acreditar que através da educação e outras formas de incentivo cultural as pessoas passem a pensar e agir de forma totalmente diferente do que fazem hoje. Seriamos folhas em branco onde a sociedade atual, egoísta e mesquinha imprimiu esse comportamento em nós... E através da “reeducação” desaprenderemos a ser assim...

É caso para se perguntar de onde vieram essas características de nossa sociedade... Surgiram do nada, foram implantadas em nossa mente por um ser sobrenatural e passaram a nos guiar em nosso comportamento e atitudes? 

Nossos antepassados evolutivos já tinham comportamentos tais como os nossos. Não somos totalmente demônios egoístas e nem totalmente anjos altruístas pq esses comportamentos foram ambos favorecidos pela seleção natural devido ao ambiente em que evoluímos. É a teoria da evolução por seleção natural, aliás, que possibilita um enfoque cientifico a algo que ficava apenas no mundo abstrato da discussão filosófica entre Rousseau e Hobbes. 

Tendemos a ser menos egoístas e mais cooperativos com grupos de pessoas próximas a nós e menos solidários com grupos de pessoas distantes. Isso se deve ao fato de que a ajuda mutua entre pessoas próximas tende a se reverter mais facilmente em benefícios gerais do que a ajuda a pessoas distantes... Entre sociedades primitivas, ao contrario do que imaginam tantos utópicos modernos, a guerra por território de caça era a regra, nada de bons selvagens, nada de povos primitivos bonzinhos, índios em harmonia vivendo na paz e no amor... Isso é pura fantasia hippie que foi aliás reutilizada no mega sucesso filme Avatar, de Jon Cameron. Essa ideia fantasiosa sobre nosso passado infelizmente foi adotada pelas parcelas mais “românticas” da esquerda que trocam nossa biologia e Marx por Rousseau... 

Evoluímos cooperando com nosso grupo pq quem não fazia isso facilitava a morte de todos pelo grupo inimigo... E quem morre cedo não deixa descendentes... 

De todo modo nosso comportamento inato não é determinista no sentido de nos fazer bons ou maus. E o incentivo ao desprendimento, a colaboração e afins podem aumentar a disposição das pessoas a praticas benéficas. E principalmente, se tornarmos toda a humanidade o “nosso grupo”, passaremos a ser menos egoístas. 

Mas esse ideal tem barreiras objetivas enormes a serem superadas. Em especial o fato que realmente há interesses antagônicos entre os vários grupos em que se divide a humanidade. E ser solidário com quem age contra vc ou ao seu grupo é atitude pouco inteligente. É necessário superar esses antagonismos de interesses através da transformação da sociedade em algo muito diferente do que é hoje.

Há inúmeras formas de se organizar a liderança de uma sociedade. Com mais ou menos liberdade para tal ou qual grupo social, levando em conta que há conflitos entre os interesses de diferentes indivíduos e de grupos dentro de nossas sociedades cada vez mais complexa. E obviamente são os interesses dos mais poderosos economicamente que são favorecidos contra os interesses dos demais. Nesse contexto há diferentes entendimentos sobre o que seja “anarquismo”, alguns mais desligados da realidade, outros um pouco menos. Ser “contra o governo” é algo abstrato, é lutar contra algo muito geral. É identificar uma contradição entre sociedade e governo e se bater contra uma quimera. Governos não se opõem a toda à sociedade, governos representam interesses de uma parte da sociedade contra as demais parcelas. Os anarquistas que pregam que o mal é o governo sem se aterem que na sociedade moderna o governo se da pelos mais ricos contra os demais cometem erro grave. Um caso a parte são os que chegam às raias do delírio afirmando que o governo é fruto de uma conspiração dos pobres para saquear os ricos através de impostos... Citam autores como Mises e Ayn Rand para justificar suas crenças... Para eles governos intransigentemente contrários aos interesses dos trabalhadores, como foram os de Thatcher na Inglaterra e Reagan nos EUA são libertários pois tentam reverter a exploração dos mais ricos pelos mais pobres... E por aí vai.


terça-feira, 23 de julho de 2013

Sentimentalismos e realidade social

Para muitos, o estudo das sociedades, dos seus problemas intrínsecos como a miséria e a injustiça e a solução deles não pode se dar sem "paixão", interesse, vontade, amor... E como não poderia deixar de ser, tb o ódio aparece como componente desse estudo. Mas não se pode abrir mão da objetividade nessa empreitada, e sentimentalismos costumam causar confusão entre a vontade e a realidade. É necessário evitar a subjetividade na construção do conhecimento, sob o risco de nos tornarmos reféns de nossas crenças concebidas por sentimentalismos e não por evidências.

É justificável que pessoas críticas tenham uma visão pautada pela repulsa e pelo ódio a países que abusem de seu poder econômico e bélico sobre nações mais fracas. Atualmente e já há várias décadas são os EUA a nação que mais comete esse tipo de abuso.

A agressividade dos EUA vem de longo tempo. Conquistou sua independência no século XVIII por meio de uma guerra contra a Inglaterra, nada menos que o mais poderoso império da época. Ampliou seu território em parte devido a ações militares contra outros países como o México e tb ao massacre contra populações nativas da América do Norte. 


Consolidou sua dominação mundial graças a duas guerras mundiais. Tem bases militares pelo mundo todo. E suas tropas se encontram constantemente em ações agressivas em especial para garantir o domínio de poços de petróleo. É a nação com uma das classes sociais dominantes mais beligerantes de todos os tempos.

Mas o Brasil tb já aprontou das suas. Se os EUA disfarçam sua agressividade por meio da “defesa da liberdade” nosso país tido como pacífico destruiu o Paraguai e tomou o Acre da Bolívia (isso só para ficar em dois exemplos). 


É comum ouvir que foi “a Inglaterra que promoveu a guerra” induzindo o Brasil e aliados contra o Paraguai, e que a Bolívia "não tinha interesse no Acre". Desculpas tão esfarrapadas quanto as dadas pelos EUA para invadir o Iraque recentemente ou para tomar a porção norte do México no século retrasado... 

A recusa em ver fatos históricos que não gostamos, como nosso passado agressivo, é confirmação de que tendemos a defender nossas crenças mesmo quando elas não se sustentam. Odiamos as ações imperialistas dos outros, mas tendemos a desculpar as nossas. Isso ocorre em todas as culturas, em todos os países. É próprio de nós seres humanos. 

É assim aqui, é assim nos EUA, China, Europa e em todo lugar. A troca da objetividade pela crença no que gostamos e a repulsa e a descrença no que não gostamos, mesmo que seja algo verdadeiro

Atualmente há uma orientação menos agressiva no governo brasileiro. Não invadimos a Bolívia e nem tomamos atitudes mais duras contra o Paraguai nos recentes episódios envolvendo petróleo e geração de energia elétrica. Atualmente “não falamos grosso com os pequeninos e nem fino com os EUA”, segundo Chico Buarque. E mesmo o atual governo democrata dos EUA é um pouco menos serviçal à indústria bélica do que os republicanos. 


Mas é verdadeiro que são realmente inúmeros os exemplos de ações do governo dos EUA derrubando governos populares e instaurando ditaduras aliadas a si. 

O caso mais emblemático talvez seja o do Irã. Nos ano 50 derrubaram o governo nacionalista do país e empossaram o Xá Reza Pahlavi para poderem controlar o acesso ao petróleo. Em 79, após derrubarem a ditadura os iranianos adotaram um governo de fanáticos religiosos. É a burrice gananciosa dos EUA incentivando a irracionalidade mundo afora... 

Tivesse o governo brasileiro tomado atitude semelhante com a Bolívia em 2006 ao invés de abrir negociação, teríamos um conflito regional onde só foi necessário usar a cabeça ao invés de canhões...

Governos e classes dominantes não definem um país. Se há justificativa para o ódio contra as atitudes desumanas dos EUA, que sejam atribuídas a quem de direito (ou, nesse caso, de direita, se me permitem um trocadilho) e não a todo o povo daquele país. Senão o conceito de luta de classes, tão caro à esquerda, poderá ser jogado pela janela. Não consta que o lema “proletários de todo o mundo, uni vos” seja seletivo... Confundir as ações de uma classe social com as atitudes de toda uma nação não é nada eficaz em qualquer aspecto da luta social.

E ainda mais. O ódio irracional como o que motivou os atentados religiosos de 11 de setembro apenas serve para agravar a situação. Os fanáticos da Al-Qaeda fizeram foi um favor ao governo da direita rançosa de Bush. Com seu ato insano Bin Laden depositou nas mãos dos republicanos todas as justificativas que queriam para fazer o pretendiam. Ampliar as ações de ocupação militar em pontos estratégicos para a indústria petroleira.

A esquerda surgiu em grande parte da tentativa de entender a realidade social de forma racional, deve então recusar irracionalismos. É com grande preocupação que vejo essa mesma esquerda acreditando em “teorias da conspiração”. Alguns dizem que foi o próprio governo dos EUA que promoveram os atentados. Baseiam-se em suposições sem fundamento. Acreditam sem evidencia real, preferem não ver que erros também são cometidos por quem luta contra a dominação.

O ódio ao imperialismo se torna vontade de acreditar em tudo o que vá contra o imperialismo, mesmo que nesse tudo existam coisas sem comprovação. E definitivamente apoiar ações baseadas em fanatismo religioso é contraproducente. O dito popular “o inimigo de meu inimigo é meu amigo” nem sempre é válido. As parcelas da esquerda que vêm com bons olhos atitudes como essas devem repensar urgentemente sua postura em relação a meios para se alcançar os fins e principalmente tentar pautarem-se por algo que não seja simples crença emotiva e sem fundamento.



quarta-feira, 3 de julho de 2013

Irracionalidade e julgamento

É comum que as pessoas reclamem que a justiça seja muito branda com criminosos, e isso quase sempre ocorre quando reclamam de crimes cometidos por membros de camadas sociais marginalizadas. Crimes típicos de classes sociais elevadas não são alvo de reclamações desse tipo, ao menos não com a mesma veemência. Vemos nesses noticiários policiais de rádio e TV fascistoides o apresentador exigir pena de morte para rico com a mesma freqüência que exige para pobre? 

O direito moderno, com todas as suas falhas foi construído a partir da crítica do irracionalismo que permeava os julgamentos feitos no passado. Antes dele, que tenta assegurar ao acusado o direito de defesa, havia praticas tais como a da Europa de poucos séculos atrás, onde o acusado já era considerado culpado de antemão e era torturado para que confessasse. Simples assim. E não eram apenas crimes contra a fé. Não era um costume exclusivo da Igreja Católica, era o comum da época. Qualquer criminoso tinha esse tratamento, a não ser os poderosos é claro. Mas não era apenas o governante que tinha o poder de condenar quem bem entendesse, e é a esse ponto que quero me ater. A população assustada com suas próprias crendices tb cometia atos irracionais com suas próprias mãos por meio de linchamentos. Ou até mesmo convencia o governante a condenar um acusado sem prova alguma... Judeus eram condenados por tribunais organizados pela Igreja em concluio com o Estado em países católicos. “Bruxas” foram, na prática, linchadas pela população assustada e irracional, em especial nos países protestantes. 

Os fatos ocorridos em Salém, nos atuais EUA no século XVII, onde pessoas foram mortas sob acusação de bruxaria, acusações feitas por crianças, são apenas um exemplo famoso do que uma comunidade pode fazer ao se sentir assustada e não contar com meios racionais de frear a insanidade que advêm do medo e da raiva. O direito moderno é um desses meios de frear a insanidade coletiva induzida pelo medo. Ele tenta ser racional, daí ter a oposição da irracionalidade que surge em momentos de medo e raiva, onde queremos soluções imediatas e mesmo mágicas para problemas reais... 

Momentos em que líderes demagogos se consolidam, momentos em que a mídia aumenta ainda mais o clima de medo, pois isso aumenta vendas e lucros... Momentos em que toda sorte de oportunistas surgem com soluções enganosas para tudo por meio de livros de auto-ajuda, panaceias pseudo medicinais, maior agressividade da policia contra a população mais pobre. E pior, momento em que lideranças políticas inventam um inimigo interno onipresente mas oculto (judeus, comunistas, terroristas, sabotadores, espiões). A classe dominante alemã dos anos 30 amedrontada com a revolução russa disseminou esse medo a toda a população alemã que apoiou o nazismo... A população dos EUA com medo do terrorismo apoiou o governo de G. Bush. 

A população brasileira com medo condenou os responsáveis pela escola base, uma condenação sem provas que depois se mostrou sem razão, pura invenção de crianças, tal qual no já citado caso das bruxas de Salém nos EUA. Recentemente um incêndio em uma casa noturna, frequentada por jovens de classe média, fez autoridades fecharem casas noturnas por todo o país (há cidades em que o fechamento ocorreu em todas as casas) devido à pressão da opinião pública induzida pela crença irracional de que todos estavam correndo os mesmos riscos. Fosse um baile funk da periferia do Rio é duvidoso que o resultado fosse o mesmo.

A irracionalidade é fruto do medo e da raiva. Sendo que "o sono da razão produz monstros" são esses sentimentos o seu melhor sonífero.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Irracionalidade e auto preservação

“Não acreditava naquelas invencionices sobre o que pode acontecer se despertarmos um sonâmbulo. Diziam que a alma fugiria do corpo e que isso poderia resultar em loucura, ou até mesmo em morte súbita, mas Charity tinha bom senso suficiente para saber que quando se desperta um sonâmbulo ele logo acorda em seu estado normal. De qualquer modo, ela nunca chegara a despertar o filho durante as crises anteriores e não faria isso agora.O bom senso era uma coisa, mas o seu pavor irracional era outra e ela sentia-se dominada pelo medo, sem saber como explicar aquilo.”
Stephen King, Cujo.

Sentimentos de auto preservação, em especial o medo, são uma boa adaptação evolutiva, pois possibilitam maior sobrevivência, pois nos livram de perigos. Sentimos medo de coisas reais e irreais, pois não somos muito eficientes em distinguir entre ambas. 

A raiva e medo são muito primitivos. Existem há muito tempo na história evolutiva, em cérebros de animais bem menos sofisticados que o nosso. E em nós seres humanos eles são gerados da mesma forma que nesses outros animais, de forma irracional. Há uma discrepância entre essa parcela primitiva de nosso cérebro geradora de sentimentos, e a parcela recente, responsável pela consciência e funções superiores. Ninguém, por mais racional que se acredite “para pra refletir sobre algo” quando está realmente com medo ou raiva. A reação é instintiva, de fuga ou defesa. É que a evolução se da assim mesmo, seres vivos são como “colchas de retalho” aonde partes vão surgindo e sendo integradas à medida que são úteis a sobrevivência e a reprodução. 

Nesse sentido não é correto afirmar que razão e emoção formam um conjunto harmônico que forma nosso ser como afirmam algumas corretes de pensamento alheias a realidade. Não há harmonia alguma e sim conflito entre coisas diferentes que tem que trabalhar juntas na luta pela sobrevivência... E aí surgem problemas que em geral são mal compreendidos e resultam em noções tolas e atitudes ainda piores. 

O medo e a raiva podem ser manipulados por lideranças políticas e religiosas para anular o senso crítico das pessoas e convencê-las a agirem “em bando” de acordo com os interesses de quem as manipula. Isso ficou visível recentemente no governo de G. Bush nos EUA, usando o terrorismo para saquear o oriente médio... Mas há casos menos evidentes que passaremos a analisar. 

Imagine milhões de reais sendo desviados da saúde. Quantas pessoas irão sofrer e morrer vítimas da falta de profissionais, leitos hospitalares, medicamentos e procedimentos cirúrgicos? Centenas? Milhares? Qual a pena que a sociedade irá pedir para os responsáveis? Que não fiquem impunes, que sejam levados para a cadeia e pronto esqueçam a história... 

Agora imagine que adolescentes da periferia de um grande centro invadam a casa de um idoso, espanque-o e mate-o... Qual será a reação da sociedade? Possivelmente irá apoiar medidas tais como redução da maioridade penal e pena de morte. Pessoas em comentários particulares irão defender que a policia invada a favela e mate mesmo esses marginais... E isso sem nem saber se os tais adolescentes são mesmo moradores de favela... O que torna diferente o comportamento da sociedade frente a esses dois crimes são exatamente o medo e a raiva. Eles nos fazem dar uma ênfase enorme a um crime explicitamente violento, mas não nos alertam sobre outro cuja violência é velada, mas que atinge um numero enorme de pessoas... É irracional. 

Pessoas tendem a seguir facilmente os procedimentos de costume do grupo em que vivem... Nos casos descritos, os corruptos que deviam verbas são empresários e funcionários públicos que ocupam altos cargos, pessoas ricas, acima dos comuns mortais. Fazem parte da parcela dominante da sociedade... Seus atos não despertam a raiva no mesmo nível da que despertam jovens de periferia, por vários motivos, mas quase todos irracionais. 

Os preconceitos dão as cartas quando as pessoas estão assustadas e com raiva.

domingo, 21 de abril de 2013

A exportação de seitas pelos EUA e a vontade de acreditar

A crença em civilizações perdidas nos EUA rendeu a criação da Igreja dos santos dos últimos dias, os “mórmons”, na primeira metade do século XIX. Nenhuma evidencia é apresentada sobre as supostas civilizações. Seu fundador, o norte americano Joseph Smith Jr. afirmava ter conversado diretamente com Deus e Jesus. Anos depois teria sido guiado por um anjo para encontrar tábuas de ouro onde estariam gravadas as inscrições do livro de Mórmon, que se tornaria sagrado para a seita. Após traduzir as tabuas elas teria sido envidas ao céu e não puderam ser apresentadas aos demais... 

Uma óbvia obra de ficção plagiada de trechos do Velho Testamento com pitadas de literatura pseudo-histórica fundamenta uma seita com seguidores em quase todo o mundo. Isso lhe parece absurdo demais? Continue lendo. 

Nos anos 50 do século passado a crença em “aliens” forjou a criação da cientologia pelo o escritor de ficção cientifica e fantasia L. Ron Hubbard. Há 75 milhões de anos atrás um líder intergaláctico chamado Xenu condenou bilhões de extraterrestres à morte. Foram despachados para a Terra e mortos com bombas nucleares dentro de vulcões... Suas almas ou algo do tipo provocam os males que afligem aos humanos até hoje... Ou são os próprios seres humanos reencarnados... Ou qualquer coisa assim... Mas isso é um segredo ao qual apenas os iniciados na cientologia tem acesso... 

Armas nucleares e extermínio provocado por líderes cruéis, vejam só... A cientologia é uma paródia da Segunda Grande Guerra permeada de ficção científica e espiritismo, mas atores de Hollywood a seguem obstinadamente. Talvez por reproduzir fora dos estúdios as fantasias que vivem nas telonas. É fato que pessoas ricas quando se unem em sociedades fechadas e exclusivistas tendem a ficar ainda mais ricas. Mas há várias sociedades do tipo, portanto a escolha de algo como a cientologia por pessoas mentalmente sãs é caso para um estudo em separado. 

O pentecostalismo também nasceu nos EUA, assim como as testemunhas de Jeová, todos no século XIX... No século XX originou-se lá o pentecostalismo católico (renovação carismática)... Pentecostais acreditam que o Espírito Santo “dá o dom de falar em línguas estranhas”... O sujeito vocifera sons incompreensíveis para um punhado de pessoas reunidas fazendo orações individualmente de forma exacerbada, muitas aos gritos de “oh gloria”... Tudo ao mesmo tempo. A dúvida é qual a utilidade de se falar em uma língua a qual ninguém entende? Na bíblia o espirito santo daria o de de falar em línguas diferentes para que o pregador pudesse ser entendido por um publico estrangeiro...  Não é o que ocorre entre os pentecostais.

As seitas pentecostais no Brasil são mais conhecidas como igrejas evangélicas. Entre os mais pobres vem ocupando há décadas o espaço dos cultos de origem africana. Por isso são comuns as encenações grotescas de “retirada do capeta” do corpo do fiel em que geralmente o capeta é chamado por nomes de entidades da umbanda, em especial exu e sua “versão feminina”, a pomba-gira. 

Admiro realmente a capacidade dos norte americanos em fantasiar. Criam histórias fantásticas na literatura e no cinema. Pena que não consigam tão bem diferenciar seus delírios da realidade. Mas não é algo exclusivo desse país e sim fenômeno comum a nós seres humanos. Qualquer grupo de pessoas pode criar idéias desencontradas sobre a realidade e crer nelas. É devido, portanto, à sua influencia econômica, política e cultural que os EUA se tornaram os maiores exportadores de crenças esdrúxulas de todos os tempos, algo extremamente lamentável para uma nação fundada por notórios adeptos do iluminismo. 

Estou lendo “Os demônios descem do norte”. Livro escrito em meados dos anos 80 denunciando o incentivo do governo norte americano e de grandes grupos econômicos ao crescimento das seitas na América Latina para combater a influência comunista. O autor, Delcio M. de Lima é católico então a coisa fica quase sempre na briga entre grupos religiosos e não conta com um alto grau de objetividade. Por exemplo, critica alguns grupos protestantes tradicionais por “serem muito permeáveis à influência pentecostal”, mas defende a renovação carismática, que nada mais é do que o pentecostalismo dentro da Igreja. É o roto falando do esfarrapado... 

Em várias passagens fica próximo ao conspiracionismo barato, mas rende uma leitura interessante sobre a origem de algumas seitas de origem norte americana no Brasil, como a Assembléia de Deus, a Congregação Cristã no Brasil, os mórmons e as testemunhas de Jeová. Esses últimos curiosamente teriam sido perseguidos nos EUA por se recusarem a cumprir algumas obrigações legais. Mas a partir da Guerra Fria passariam a ser vistos com bons pelo governo dos EUA. Sua recusa em “se envolver com política” é útil em manter o povo afastado de ações reivindicatórias por seus direitos, para dizer o mínimo. É então inocentemente útil contra a esquerda.

Não é por acaso que duas crenças de origem norte americana, as Testemunhas de Jeová e o libertarianismo, vejam, cada um a seu modo, o governo como sendo o demônio... Isso é próprio do senso comum nos EUA. 

É fato que sob o domínio cultural dos EUA, grande parte do mundo tende a ter as mesmas ideais que nasceram lá... Mas vejo como conspiracionista a crença de que há um plano arquitetado pelo governo, pelos bancos e corporações desse país para financiar e incentivar o crescimento das seitas e com isso manter o povo alienado. A realidade pode ser bem pior. 

Seitas em grande parte financiam a si mesmas (em especial os evangélicos) e seu crescimento é majoritariamente espontâneo, pois conseguem atingir emocionalmente as pessoas. Ao afirmarem que uma vida sem envolvimento com métodos racionais é o ideal, apelam para o comodismo mental e conseguem convencer. Ao dizerem que não devemos cuidar de problemas sociais e sim apenas de nossos próprios interesses, incentivam o egoísmo, o que é valorizado por muitos de nós. Em todo momento apelam para o comodismo, o individualismo, o egoísmo e a preguiça mental. E muitos gostam disso. 

Talvez algumas recebam mesmo apoio material de governos ou grupos privados interessados em seu avanço. 

Para os conservadores um povo acomodado é o ideal, por isso as seitas têm no mínimo a simpatia da direita política, mas é questionável a existência de um "centro operacional" organizado para apoiar e financiar esses grupos... 

Seitas têm sucesso em iludir o povo com seus delírios porque o povo quer acreditar. E está disposto a pagar por isso. Não é força de expressão, o povo paga mesmo, seja em dízimo, seja em outras formas de contribuição e outros meios. De forma que a seitas listadas como mais diretamente ligadas aos EUA, como os mórmons, a seita Moon e as Testemunhas de Jeová não tem nem de longe o crescimento dos pentecostais. Esses, ao que ao que tudo indica tem seu enorme crescimento financiado com o dinheiro dos próprios fiéis e da corrupção não necessariamente ligada a grupos e governos estrangeiros. 

Já há tempos abandonaram a postura de “não envolvimento com governos”. Elegem políticos e se metem a criar leis inspiradas em seu credo anacrônico. É questionável que a “neopentecostal” Universal do Reino de Deus seja financiada por governos ou grupos estrangeiros. Ao contrário é prova de que brasileiros estão aprendendo a utilizar as artimanhas importadas e adaptá-las ao nosso contexto social. 

As pessoas ao aceitarem uma crença tendem a defendê-la, e isso torna muito difícil mudar seu modo de pensar. E ser preguiçosamente acomodado é prazeroso para muitos. Caso existisse um complô urdido em surdina para controlar a mente das pessoas, ora, seria necessário apenas desbaratar essa trama, mas não é tão simples a realidade. Há muito de espontâneo nisso tudo. 

Os europeus que fizeram os indígenas trocarem seus deuses pelo deus cristão acreditavam mesmo nesse deus, não visavam apenas a busca por riqueza, apesar de obviamente ser esse um fator importantíssimo. E os indígenas em parte aceitaram os novos costumes pensando em obter vantagens. A visão que divide a realidade entre o bem e o mal é infantil e tola. Do mesmo modo os que exportam crenças “made in America” em parte acreditam mesmo em seus delírios, mas com doses de cinismo necessário para justificar tanta incoerência com o que pregam e o que fazem. 

O povo aceita essas crenças pois acredita nas supostas vantagens. Modernamente os pentecostais não mais acenam apenas com uma vida feliz após a morte. Afirmam categoricamente que aquele que aceitar Jesus vai enriquecer... É o casamento dos sonhos dos dominados com os interesses dos dominantes que torna tudo muito mais complexo do que imaginam muitos de nossos intelectuais de esquerda. 

A visão socialmente crítica que ainda prevalece tende a ser romanceada. Acredita-se que o povo é uma pobre vítima indefesa do maligno julgo opressor da burguesia internacional e que será libertado por uma pequena parcela pensante e atuante, organizada em um partido de vanguarda... Ou qualquer coisa do tipo. De outro lado há a visão também crítica, mas mal humorada em que o povo é cúmplice de sua própria desgraça. 

É como um conjunto de pessoas que se encontram presas a linguiças por terem escolhido serem vegetarianas... Por meu próprio temperamento tendo a me identificar mais com essa visão do que com a romântica, mas não sou tão cínico. Penso que as pessoas nessa perspectiva não escolheram livremente o vegetarianismo, foram iludidas para tanto... Mas de qualquer forma continuam amarradas.