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domingo, 16 de setembro de 2012

Ceticismo e politica

Graças a minha "militância cética" feita na web tenho amigos céticos de tipos diferentes. 

Tenho amigos que são céticos em maior ou menor grau e tb em diferentes áreas do conhecimento... Mas é na política que o ceticismo encontra alguns de seus percalços mais difíceis de superar.

O fato de existirem céticos que se alinhem a esquerda como Carl Sagan e a direita como Michael Shermer mostra o grau de dificuldade em sermos objetivos em algo tao importante para determinarmos os rumos de nossa sociedade. 

Entre os céticos de direita o "libertarianismo" talvez seja a ideologia com maior apelo. 

Libertarianismo é apropriadamente identificado com anarquismo em vários países, mas nos EUA é confundido com o liberalismo econômico e em graus variados com a utopia de se identificar liberdade do capital com a liberdade do individuo. 

Em geral se baseia em autores que simplesmente invertem algumas afirmações da teoria econômica clássica reduzindo a economia a um festival de subjetividade irritante. 

Por exemplo decretam a inexistência da luta de classes e colocam no lugar a contradição Estado/sociedade sem se ater ao fato de que a existência de classes sociais em disputa pelo poder (Estado) é um dado objetivo. E no mais sua pregação quase religiosa contra o "marxismo" os impedem de refletir sobre o fato da luta de classes não ser uma "invenção" de Marx e sim uma constatação de Adam Smith.

Mas o que me causa apreensão mesmo é ver em setores da esquerda a "recusa ao racional", com o pós modernismo a frente e tb o culto a personalidades e a partidos. 

São tendencias muito intimas e mesmo inatas ao ser humano, mas que podem ser superadas por um esforço consciente. 

O próprio surgimento da esquerda se dá com esse esforço de superação das tendencias naturais humanas a um novo modo de pensar e agir, então me parece um paradoxo muito grande que setores dessa mesma esquerda sejam palco pra o irracionalismo.  

O já citado pós modernismo é a tendencia de esquerda mais adversa ao racional. Decreta que não exite verdade objetiva, tudo depende do ponto de vista da sociedade que faz a afirmação. Isso implica que uma sociedade dominante impõe as "suas verdades" as sociedades dominadas em todas as áreas do conhecimento. 

Ora, isso pode ser e de fato é corriqueiro em ciências humanas, em especial a Historia, onde a "verdade" divulgada raramente é a "verdade do perdedor". 

Mas nas ciências da natureza, isso não tem sentido algum. 

Não existe uma teoria da gravitação dominante e uma dominada. Um avião em voo cujo motor pare vai cair, seja ele norte americano, árabe ou chines. E de qualquer modo existe sim verdade objetiva, seja nas ciências humanas, seja nas naturais, o que as diferencia é a dificuldade se se chegar a ela. O pós modernismo não tem sentido onde quer que seja aplicado.

O culto a personalidades e partidos  tb é preocupante na esquerda. Raramente se faz uma analise objetiva da atuação das agremiações partidárias e de suas lideranças e de toda a militância. O curioso é que vários partidos de esquerda tem previsto em seus estatutos a "auto critica" que visa exatamente essa analise, mas que tende a cair no vazio o que parece confirmar que nosso comportamento inato de negar nossas falhas prevalece em grau maior do que admitimos.

Como subproduto da recusa ao racional da esquerda temos o "politicamente correto". Essa tendencia inventada nos EUA não visa atacar as causas dos problemas sociais e sim criar medidas superficiais para contorná-los. 

Nada do que é humano me é estranho teria dito um poeta romano. Pois bem, somos todos fruto da seleção natural, temos a mesma base genética inata, mas sobre ela construímos variações comportamentais de enorme amplitude. No intimo, independente de crenças politicas ou religiosas, todos estamos em luta contra nossa natureza tentando alcançar uma maior compreensão de nós e da realidade que nos é externa e para isso o ceticismo é imprescindível

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Deuses, você e seu cachorrinho

Possivelmente você tem ou teve um cachorro. Um cão de companhia ou de guarda. Você observou o comportamento dele em relação a você, ou a pessoa que de fato manda em sua casa? 

Sim, pois ao contrário do que os politicamente corretos pensam, todo grupo humano tem um líder, e sua família não é diferente. Direitos iguais são muito bonitos, mas observe seu totó, e verá quem é o líder de fato. Ele não sabe nada sobre as sutilezas sociais humanas. 

Cães são animais bastante transformados pela "seleção artificial em relação aos seus antepassados lobos, são mamíferos, carnívoros e sociais. Têm um ótimo senso de hierarquia, pois isso era fundamental para sobreviver em bando quando ainda não haviam sido domesticados. Convivem conosco, humanos, há talvez mais de 15 mil anos. 

Foram vítimas de uma seleção de habilidades pretendidas pelos criadores, que cruzavam indivíduos cujas características queriam preservar e aprimorar. São uma evidência de que uma espécie (o lobo) “se transforma em outra” (o cão), para o desespero dos fixistas, que negam radicalmente a evolução das espécies. Mas é válida a argumentação de que, nesse caso, a seleção de característica e habilidades pretendidas foi algo planejado.

Quais seriam as habilidades pretendidas citadas acima? Uma delas é a obediência aos seres humanos, obviamente. Diminuição da agressividade é outra, no caso cãezinhos de companhia. No caso de cães de guarda, essa característica foi mantida, ou mesmo aumentada. 

Quanto às características selecionadas, houve a “diminuição do tamanho” e outras específicas para cada variação da espécie, como pernas curtas, pelo comprido, focinho achatado, etc. Esse processo de seleção artificial ocorre a todos os seres vivos que tenham sido domesticados por nós há tempo suficiente.

Todas as diferenças entre seres vivos selvagens e domésticos são fruto da seleção artificial, do cruzamento e seleção de indivíduos, animais ou plantas, que disponham de características mais desejáveis, seja a produção de mais carne, de uma flor mais atraente ou um bichinho que nos alegre.

Condicionado por essa seleção de características que o tornam apegado e dependente dos seres humanos, o cão se vê como membro do grupo de pessoas com as quais convive, mas em condição de inferioridade. O chefe da casa é o indivíduo a que ele mais obedece, até chegar ao individuo que ele trata quase “como a igual”, sendo mais teimoso com ele, ou o temendo menos. Geralmente é o membro mais novo do grupo ou um adulto infantilizado...

Quando há mais de um cachorro na casa, ele se encontra inserido nessa hierarquia, nunca num nível superior ao chefe humano. Esse último (você?) em especial é visto como um ser superior. 

Um ser que provê o alimento e a água, que permite ou não que fique dentro de casa, que abre a porta ou o portão para que possa sair e entrar, que lhe reprima quando há comportamento inadequado e o recompense quando há acertos (e esses erros e acertos são estabelecidos por você, esse ser superior), que lhe afague ao menos de vez em quando… 

Ou seja, para seu cachorro, você é um deus.

A vantagem dele em relação a você é que esse deus convive com ele. O cachorro não tem inquietações sobre estar ou não acreditando em algo inexistente, pois você existe e está presente. 

Em grande parte, as mesmas condições evolutivas que determinaram que seu cão o idolatrasse fizeram nossos antepassados pré-humanos verem os líderes dos grupos dos quais faziam parte como sendo mais “capazes”, superiores, com dons especiais de liderança, e inteligência mais aguçada que os “comuns mortais”. 

E como temos consciência e capacidade de abstração, transportamos essa crença na superioridade dos líderes para criaturas imaginárias, sábias e poderosas, os deuses.

É sintomático que as culturas primitivas (uso o termo no sentido próprio, do que é o primeiro a existir; que precede) tenham divinizado seus líderes, ou ao menos atribuído-lhes maior intimidade com os deuses. Mas essa mesma consciência que cria falsas noções sobre a realidade nos permite desfazer esse engano. 

Ao contrário de seu bichinho, você tem condições de analisar suas crenças, comparar com a realidade, constatar a existência ou não de evidencias que a confirmem ou neguem… 

A própria evolução da democracia, ainda muito imperfeita, mas enormemente superior à “teocracia” é uma vitória da consciência crítica sobre os mitos antigos. 

A crença em seres superiores imaginários é exclusiva da humanidade, pois para os cães, os seres superiores são reais.

Texto de minha autoria já publicado em  http://livrespensadores.net/artigos/deuses-voce-e-seu-cachorrinho/

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Leitura fria, ilusionismo e enganação.‏


  Leitura fria" é um método com o qual alguem consegue "tirar informações" de outra pessoa de forma não claramente percebida e usar essas informações para fazer crer que se tem dons paranormais, do tipo "capacidade de ler pensamento" ou mesmo se comunicar com os mortos. É necessário treino e talento para conseguir resultados dignos de nota. Mas não é de forma alguma algo "sobrenatural".
 
Muitas pessoas entendem as outras "só de olhar", de observar seu modo de falar, de andar, de agir em determinadas situações. Parecem "saber o que estamos pensando". Mas isso é empatia. Leitura fria é outra coisa. Empatia é algo expontaneo. Leitura fria é tecnica. Pessoas empáticas tem talvez mais facilidade para desenvolver a tecnica feita de forma premeditada para iludir. Praticantes de leitura fria fazem perguntas, estudam as expressões (alegria, medo, surpresa, confirmação)... Mas tem tb ajudantes que conversam com as pessoas antes... Tb podem se informar por jornais (no caso de morte por exemplo), ou com pessoas da familia e conhecidos... Em geral praticantes de leitura fria sao muito bem informados sobre com quem irão conversar... Mas tb escrevem e falam "no geral" e criam um clima onde vemos mais do que realmente existe. As vezes o "leitor frio" simplesmente diz coisas que servem para todas as pessoas, mas nós criamos a ilusao de que ele diz exatamente o que serve apenas para nós...
 
Magicos ilusionistas usam a leitura fria para nos divertir. "Adivinham" nosso pensamento, mas não tentam nos convencer de que sao telepatas. "Adivinham" informações  as quais apenas pessoas falecidas poderiam compartilhar conosco, mas nao nos convencem de que sao médiuns. Mas existem tb os que nao se contentam em divertir. Querem tb enganar... Nem todos querem dinheiro ou fama. Alguns tem boa intenção em consolar os que procuram se comunicar com pessoas queridas já falecidas, mas o engodo existe e é o mesmo. Então o caso é: É ético enganar alguem, mesmo que seja para fazer essa pessoa feliz?
 
Muitos acham que não, tal como o mágico brasileiro Kronnus e o ingles James Randi. Ambos são especialistas em desmascarar farsas. Os mesmos truques que os mágicos usam pra divertir podem ser usados para enganar. E os próprios mágicos em geral nao ficam contentes com isso. Por isso resolveram reagir.
James Randi oferece 1 milhao de dólares a anos para quem puder realizar um "feito paranormal" ao qual ele não possa explicar e reproduzir... Ainda continua esperando...
 
Kronnus desmascarou no Fantastico Thomas Green Morton, o "homem do Rá"... Inicialmete Morton aceitou o desafio de 1 milhão de dólares de Randi, mas depois recuou. Sendo assim, Kronnus demonstrou como eram feitos os truques de fazer pingar perfume pelas mãos e fazer luzes misteriosas piscarem... Morton não teve coragem de aparecer para reagir as acusações...
 
Nos anos 70, época de muita enganação desse tipo, Uri Geller fez fama entortando talheres... Foi desmascarado por James Randi. Óbvio que a coisa não fica só nos truques. Sujeito faz pingar perfume dos dedos e afirma poder adivinhar o futuro e cobra para isso... Outro entorta um garfo e afirma que pode conseguir a paz mundial se receber doações suficientes...
 
 
Mas como já escrevi, nem todos querem ganhos, alguns querem ajudar, consolar... Mas o caso é que não há evidencias de que seja real o que afirmam. Não é o caso de se valorizar ou condenar os que só querem ajudar e sim ver se há ou não fundamento no que afirmam. Comunicação com mortos para consolar uma viuva parece ser algo inocente. Mas e no caso de um juiz aceitar o "testemunho do proprio falecido" para se julgar o réu? E se for o suposto médium alguem interessado em sua condenação ou absolvição? Ou apenas alguem querendo fama disposto a dizer qualquer coisa? Ou mesmo que seja alguem que realmente acredita que tenha dons mediunicos, quais as evidencias de que seja realmente o falecido ali se manifestando?
 
Verdade é algo a ser comprovado com evidencias e nao com vontade de se acreditar.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A web nos mostra o que pensa o nosso vizinho

A web em geral reproduz por escrito ou por meio de vídeos o que  antes era apenas dito em espaços fechados, como dentro das casas, bares, trabalho e outros locais de encontro e reunião. As vezes encontramos opiniões que nos causam estranhamento. Pensamos, "isso não pode ser sério, pessoas não podem pensar algo assim tão absurdo".

Bem, as vezes o que é absurdo para nós não é nada absurdo para outros. Temos a impressão de que é a web que cria essas opiniões. Mas a coisa não é assim tão simples. Essas opiniões antes eram ditas entre pessoas que concordavam uma com as outras. Por exemplo, dois neonazistas em uma praça podem tranqüilamente conversar sobre como seria bom que os nordestinos fossem expulso de São Paulo ou exterminados, ou qualquer coisa assim. Mas se eles escrevem isso na web, outras pessoas lêem, e aí começa a discussão. Ou seja, a opinião existia, mas não tínhamos acessodireto a ela.

Quem le opiniões na web não raro ve uma grande difusão de preconceitos. Ódio contra o próprio povo e a sua cultura, racismo, homofobia, intolerância de todo tipo.

Vivendo em grupos, tendemos a ter as mesmas opiniões dos que nos cercam. Não sabemos que na casa do outro lado do quarteirão ha um pai de família que ensina aos filhos que
homem tem que andar armado e que bandidos sao todos pretos vagabundos e que não há nada de mal em espancar o mendigo fedido para faze-lo ir embora do bairro... Talvez a mãe de família ensine que ateus e homossexuais são pessoas demoníacas... Entao quando lemos que um pastor nos EUA pretende "fichar ateus" e adolescentes espancam mendigos, ficamos surpresos... Mas opiniões que nos surpreendem talvez apenas demonstrem que não sabiamos o que pensava o nosso vizinho e que tivemos que ler na web..

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Marx, Darwin, relatividade e quântica


Há na “hard science” um desencontro. Talvez os físicos se irritem comigo por explicitar isso de forma tão grosseira, sem usar dos subterfúgios da língua para disfarçar uma discrepância. Mas de qualquer forma não há como negar o fato de que as explicações sobre a “realidade macro cósmica” não sirvam para a “realidade sub atômica”.  Mas é fato tb que funcionem.  Se não funcionassem vc não teria toda essa parafernália de eletrônicos na sua casa e nem GPS entre outras inúmeras coisas. Mas cientista que é cientista não se contenta em ver que as coisas funcionam ou não... Quer ver o pq! Então novas teorias são propostas e principalmente postas a prova. Está aí a teoria das super cordas como candidata a explicação do todo, que unifique a mecânica quântica à relatividade. 

Nas ciências da sociedade, há tb  um desencontro. O entendimento da sociedade como um todo se encontra estabelecido de forma apropriada, a meu ver, pelo materialismo dialético. Não de forma “ossificada” como querem tantos, não invertendo a realidade para que essa se adéqüe ao que imaginam sobre ela. Não, ao contrario, analisando a mesma em seus aspectos reais, se confrontando hipóteses com fatos para que se possa construir teorias adequadas, tal qual fazem os físicos, químicos e biólogos, que não ficam com pregações sobre o que acreditam, antes fazem algo que Marx mesmo propôs: Duvidar de tudo.

Mas vamos à discrepância. Não houve suficiente consideração de Marx sobre outra teoria revolucionária do século XIX, a evolução por seleção natural, o que causa uma limitação do alcance da ação sobre comportamentos e atitudes individuais. Tal como no descrito acima, onde a relatividade não explica o mundo sub atômico, tb o materialismo dialético falha em explicar comportamentos individuais. É urgente que se construa a superação dessa falha, e a seleção natural é possivelmente uma teoria a ser melhor considerada, posto que é objetiva. 

Foi ela quem em todos os aspectos determinou a forma e a função de nosso sistema nervoso. Somos 100% determinados pelo ambiente, mas não apenas o ambiente atual onde vivemos. Não é tudo cultural, nem tudo é aprendido. O ambiente em que viveram nossos antepassados foi determinante para selecionar características inatas que possibilitaram sobrevivência e reprodução deles. Essas características ainda cobram seu legado em nossas ações presentes e ainda pouco sabemos sobre elas e ainda menos as consideramos em nosso planejamento de construção de uma sociedade mais justa. Temos que construir a teoria do todo tb na soft science.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

"Neo"liberalismo, ou a direita se transveste.

Aos jovens nascidos dos anos 80 para cá a direita tem um discurso bem interessante. Conservadores são os da esquerda, dinossauros que pregam teses ultrapassadas do século XIX... Moderno mesmo é liberar geral, sem restrições nem controle sobre a economia e muita festa, e muita música. Moderno mesmo é ser... de direita! 

Ser "liberal" em economia (liberdade ao capital, e não ao trabalho) e se fingir de progressista em costumes é a regra atual. Consideráveis setores da direita se livram do discurso conservador em alguns itens, tais como a homofobia para fazer cena e atrair mentes mais esclarecidas, o que não raramente é uma deficiência em suas fileiras.


Mas é na economia que o disfarce é mais importante. Essa máscara que a direita passou a usar sutilmente nos anos 70 e 80 lhe disfarçou muito bem. Intervenção estatal é coisa da esquerda, dizem os "neo"... Sendo assim, nazismo e ditaduras militares com sua interferência sobre a economia sao... de esquerda! A historia é reescrita. Direita não é a manutenção da ordem. Esquerda não é a construção de uma nova ordem. Não!

Direita e esquerda se definem como intervenção ou não do governo sobre a economia. Keynes é tão esquerdista quanto Marx... Mas para isso é necessário esquecer os ciclos de crescimento e crise inerentes ao capitalismo. É necessário esquecer que dependendo da etapa do desenvolvimento do capitalismo, da-se razão a intervenção estatal ou ao livre mercado, mas tudo tendo em vista a manutenção do próprio sistema, e não sua superação. 

Desencontrada, muito desencontrada essa idéia de que intervenção estatal visando salvar o sistema capitalista de sua anarquia inerente seja obra da esquerda.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O machismo e a cultura

Há uma falha considerável nas ciências sociais em não considerar o inato na personalidade quando se prontifica a analisar comportamentos individuais e de grupo. O próprio termo inato é visto como algo impróprio a se considerar nessas análises. Pouco, ou mesmo nada, se considera das ultimas descobertas sobre a influência da seleção natural em nosso modo de ser. Nosso sistema nervoso central, como todos os outros nossos sistemas é fruto de um processo evolutivo que premiou os comportamentos que favorecem a reprodução e a sobrevivência. Não considerar isso é “retirar o chão” de qualquer entendimento objetivo.

Grupos “politicamente corretos” que tanto desserviços promovem aos movimentos sociais são notórios por desconsiderar esse fato. É a sociedade que faz tal ou qual coisa com o indivíduo, dizem. A sociedade é culpada pela competitividade, pelo machismo, racismo, sexismo e todos os outros ismos. Nesse mundo em abstrato em que vivem não há responsabilização do indivíduo, ele é apenas um objeto, tal qual uma antiga fita cassete, onde informações são gravadas.

Em um site de relacionamento tive a possibilidade de contra argumentar a seguinte afirmação:

“A repressão influenciou para o anonimato feminino. A produção intelectual masculina é maior por fatores históricos e repressivos. Um passivo social sem tamanho e que aos poucos deve ser igualado com a revolução feminina. Mas penso que nas áreas exatas o cérebro masculino se sobressaia em relação ao feminino. Em contrapartida as mulheres se destacam na linguagem, psicologia, sociologia... Apenas inteligências distintas, o que falta as mulheres é a coragem de impor sua produção e o seu talento perante a sociedade machista que ainda prevalece como resquício de outrora..”

A "repressão". E qual a origem dessa repressão? Ela mesma responde:

 "A produção intelectual masculina é maior por fatores históricos e repressivos. Um passivo social sem tamanho e que aos poucos deve ser igualado com a revolução feminina."

Ou seja, tudo é cultural? Mais adiante ela tenta remediar essa situação e reconhece diferenças entre o cérebro masculino e o feminino. Mas e novamente, qual a origem disso? É a cultura que molda nosso cérebro!? Seleção natural é mito?

E ai vem a finalização nada surpreendente:

"Apenas inteligências distintas, o que falta as mulheres é a coragem de impor sua produção e o seu talento perante a sociedade machista que ainda prevalece como resquício de outrora..."


Pq falta "coragem"? Ou aliás, será certo o uso desse termo? Sociedade machista, sem dúvida, mas originada de qual forma? Por um plano maligno de dominação patriarcal? Ou ao contrario, algo inato e por isso mesmo comum em todas as sociedades independente da cultura?

Não é a cultura que nega o machismo? Temos que aprender a não sermos machistas, enquanto que o "machismo" em geral é a condição natural de nossos parentes evolutivos próximos. Nós temos que deixar de sermos machistas, mas não é justa a afirmação de que nós o inventamos. Ele é próprio de nossos antepassados e o fato de estarmos vencendo-o é motivo para elogios aos homens e não sua condenação.


sábado, 21 de janeiro de 2012

Dimensões extras e supercordas


É relativamente fácil entender que o nosso universo tem três dimensões de espaço. Todos os objetos que vemos se apresentam com no máximo três delas: altura, largura e profundidade.  Existe uma quarta dimensão em nosso universo. O tempo. Então podemos afirmar que existem quatro dimensões espaço temporais. A existência de mais de quatro dimensões é no que acreditam os teóricos das supercordas.

O tema das dimensões extras se liga a possibilidade da existência de “universos paralelos” tanto que os conceitos são confundidos na ficção científica. Quando criança ouvi mais de uma vez em filmes antigos afirmações do tipo, “ele foi enviado para a 4° dimensão”. Na verdade o personagem foi enviado a um outro universo com possivelmente 4 dimensões de espaço. Se considerarmos que esse outro universo tenha também uma dimensão de tempo, então seriam 5 dimensões no total…

Mas talvez não seja necessária a existência de outros universos, um modelo físico já citado, a Teoria das Supercordas, postula que talvez o nosso próprio universo tenha outras dimensões, mas essas dimensões podem estar enroladas, diminuídas, impossíveis de serem detectadas  por seres grandes como nós.

Talvez essas dimensões não tenham se expandido com o big bang e só sejam acessíveis à partículas absurdamente pequenas, as “cordas”, que seriam as verdadeiras formadoras de tudo. Essas cordas teriam uma única dimensão e vibrariam em talvez mais de dez dimensões. A realidade, tudo que existe, a matéria e a energia, são a musica produzida por elas!

Talvez seja estranho admitir uma corda com apenas uma dimensão, mas se considerarmos as partículas subatômicas como pontos e não como cordas, teremos que admitir que não tem dimensão alguma!

É comum que teorias, hipóteses e suposições físicas sejam distorcidas e utilizadas pelo misticismo. O tema das dimensões extras é usado para justificar a suposta existência de um “plano espiritual” por exemplo. Mas as especulações científicas podem ser muito mais interessantes que as fantasias pouco imaginativas do misticismo.

E se houver uma 4° dimensão “em tamanho grande” em nosso universo e não a percebemos? Será que nossa realidade é “plana em 3 dimensões” e curva em uma 4° dimensão? Sendo assim nosso universo não é infinito e sim "fechado" e pode ser uma partícula de uma realidade muito maior (acho isso muito mais interessante que um "mundinho espiritual" onde alminhas sem graça ficam andando pra la e pra cá vestidinhas de branco). 

No filme Homens de Preto, uma boa sátira a várias lendas urbanas relativas ao mito dos OVNIs, no final fica claro que nossa galáxia é parte de uma bolinha de gude, um brinquedo de uma criança de um universo bem maior que o nosso…

E se não podemos vislumbrar objetos de 4 dimensões, podemos pensar em suas projeções na nossa realidade de três dimensões. Ora, objetos de três dimensões têm suas sombras projetadas em superfícies de duas dimensões!

Um ótimo trabalho especulativo sobre o tema está em Cosmos, de Carl Sagam, no episódio “O limiar da eternidade, ao qual pode-se assitir aqui:

http://blip.tv/tvescola0004/cosmos-o-limiar-da-eternidade-epis%C3%B3dio-10-dublado-em-portugues-3212367
Ou aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=6KOZ-XOtFy0

Texto de minha autoria já publicado no site livrespensadores.org

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Homossexualidade e seleção natural

-Advoga então que seja natural a homossexualidade?
-É um comportamento presente na natureza, embora talvez apenas como exceção.
-E a exceção por ventura pode ser considerada a regra?
-Talvez seja exceção, mas de qualquer forma é mais natural que o hábito de vossa eminência em usar esses seus suntuosos trajes, mais natural que o uso de qualquer traje aliás, da mesma forma que o uso de tudo o que foi criado pela nossa moderna sociedade, posto que nenhum ser natural os usa!
-É algo odioso aos olhos de Deus que nos criou para crescermos e nos multiplicarmos!


A ideia de que a homossexualidade é aprendida, que é cultural ainda tem muita força, não por ter evidências que a comprovem, mas sim por ser útil aos conservadores que vêem a homossexualidade como uma aberração. 
Argumentam que se a criança for criada em um "ambiente homossexual irá se tornar homossexual" na maioria dos casos. E por ter sido ensinada a ser homo, a pessoa poderá ser "curada". Não vou inicialmente tratar dos horrores que foram e ainda são feitos para se "ensinar" as pessoas a deixarem de ser o que são. Argumento apenas contra um ponto que é repetido tal como um mantra sagrado: Homossexuais não tem filhos, logo o que são não pode ser inato, não pode ser fruto da seleção natural. O irônico é que esse argumento que apela para a seleção natural é usado tb por religiosos, que são contrários ao darwinismo. É a religião perneta usando a ciência como muleta...

Homossexuais tem filhos.

O fato de terem atração sexual por pessoas do mesmo sexo não os incapacitam a  terem descendentes. Reprimidos pela sociedade (no passado ainda mais) muitos tem relacionamento hétero. Tem filhos e aí está o fato ainda mais ironico. Quanto mais repressiva é uma sociedade, mais ela força os  homos a terem descendentes. E como ha outros animais que apresentam esse comportamento, não é desencontrado afirmar que ele tem sim um papel na seleção natural, talvez ligado a formação de laços e grupos sociais.

Não afirmo que a sexualidade humana possa ser "reduzida ao genótipo", mas saliento que esse é um fator a ser considerado, ao invés da fantasia de que somos HDs passivos onde nossa personalidade é gravada como um arquivo virtual.



Vicio degenerado pequeno burguês difundido pela burguesia internacional para despovoar o mundo e facilitar a dominação do proletariado.

Contraponto
Por André Drumond Ortega Filho

Quanto a orientação sexual, é uma das ultimas coisas que listaria como "definida por genes" e uma das primeiras a ser influenciada por fatores culturais e sociais. Mesmo aquele tal de Eli Vieira, que se promoveu chutando cachorro morto, deixa bem claro ao falar de "alguma influência genética". Ora, alguém pode se tornar um assassino por problemas psicológicos que podem (sim) ser traçado geneticamente, por exemplo, mas isso não torna todo assassino vítima de surtos psicóticos. Tomando o exemplo na homossexualidade, para dar um exemplo mais claro e além da nossa cultura hedonista e da "homossexualidade lady gaga", eu cito a Arábia Saudita, onde a homossexualidade é simplesmente endêmica, os sauditas são vistos assim pelos outros povos árabes, existe ampla documentação a respeito, turistas comentam acontecimentos extremamente pitorescos e o "mundo gay" é mais badalado do que na África do Sul (onde o casamento gay é legalizado). Existe alguma coisa no gene saudita que os torna homossexuais? É claro que não, então só nos resta uma raiz social, "cultura e preconceitos". Ai a tendência do ocidental com noções fajutas de psicologia é dizer que é endêmico porque é reprimido. Mas ora, ignorando certos problemas inerentes a afirmação, então porque em outros países árabes (além de outros países islâmicos e outros países em geral), onde também é reprimido (socialmente e pelo Estado), a homossexualidade não é tão endêmica como na Arábia Saudita? Isso ocorre porque o regime wahabita impõe segregação sexual e é muito dificil para um homem ter um contato com uma mulher ou vice-versa, a policia pode para-los na rua, assim como existe uma guarda na saída do colégio feminino para evitar que homens se aproximem. Em uma das entrevistas com um saudita a respeito dessa questão, ele pontua como seria complicado levar uma mulher na casa dele, ficar sozinha no quarto com ela, enquanto um homem ele pode levar para o quarto que ninguém dirá nada. E ai se desenvolvem uma série de comportamentos estranhos relacionados a homossexualidade (homens que com a mulher grávida buscam outros homens para se satisfazer, por exemplo).
Se a discussão é muito complicada, eu digo então que um dos aspectos mais complicados e com certeza menos "certos" é afirmar que homossexualidade é ad eternum e ad infinitum uma questão genética.


Contra contraponto

André acima comete erro ao tachar de homossexualidade algo que não é. 
Há um mito muito difundido sobre a homossexualidade em que ela seria a regra em sociedades do passado, como a Grego-romana e mesmo em sociedades repressoras atuais, como as do Oriente médio. 

O que ocorre de fato é outra coisa. 

Em sociedades onde os homens tinham grande domínio sobre a sexualidade das mulheres faltavam jovens solteiras, ex-esposas e esposas infiéis à disposição.  Meninas ficavam confinadas na casa dos pais até o casamento, mulheres na casa do marido. Mesmo escravas eram vigiadas pelos donos. Já garotos saiam para exercer diversas atividades como aprendizes, pajens, garotos de recado, entregadores e até mensageiros em guerras... Daí a facilidade maior de se abusar de meninos do que de meninas. Além disso homens ricos e poderosos podiam contar com grande número de esposas, o que também escasseava o numero de mulheres disponíveis. 

Homens héteros solteiros recorriam então a homens mais jovens e mesmo crianças por falta de opção. 

Não há necessariamente atração sexual, não é necessariamente homossexualidade, é abuso e estupro com a conivência dos país. Por isso o adulto exercia o papel de ativo enquanto o jovem forçadamente o de passivo. Até hoje há em muitas culturas a noção de que "bicha mesmo" é quem se sujeita a passividade...
Meninos não engravidam e não precisavam serem virgens para arrumar um "bom casamento". Quando entravam para a fase adulta e conseguiam uma esposa tinham filhos que davam continuidade ao ciclo. 

Era o que acontecia na Grécia antiga, é o que acontece parcialmente hoje na Arábia Saudita. Ironicamente nessas sociedades a homossexualidade propriamente dita é severamente punida. Na antiguidade e mesmo hj um homem adulto que tivesse relacionamento com outro homem adulto era considerado inferior, sub humano, degenerado, menos homem e poderia sofrer vários tipos de punição, tortura e morte. 

Outro mito correlato é a de que a homossexualidade seria bem vista em exércitos na antiguidade pois faria com que houvesse "empenho de dois homens apaixonados em se defender mutuamente". Na verdade paixões sexuais provocam ciumes, algo terrível numa guerra pois diminui o companheirismo. O que é largamente apoiado em qualquer corpo militar tanto do passado quanto do presente e possivelmente do futuro é a fraternidade. Todo estrategista militar sabe que se deve convencer os soldados de que todos são irmãos, companheiros que confiam um no outro sem possibilidade de traição. 

A homossexualidade é algo inato e forças armadas são formadas quase exclusivamente por homens agrupados as centenas ou mesmo milhares.  É natural que entre eles existam algumas dezenas de homossexuais. Homens héteros em longas campanhas militares sem mulheres obviamente recorrem a eles quando possível, mas basta terem acesso a mulheres que a tendência hétero se confirma. Em caso de voltarem pra casa voltam para suas esposas ou arrumam namoradas... Em caso de invadirem cidades inimigas estupram. 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A ciencia é algo estranho ao nosso modo de pensar?


"Há em cada cidade uma tocha - o professor; e um extintor - o padre"
                                                                             Victor Hugo

Sagan argumenta em O mundo assombrado pelos demônios, cap 18, que mesmo povos antigos já produziam conhecimento objetivo e que tinham métodos que se pareciam com o que chamamos de método científico moderno. Embora contassem com forte influência do pensamento mágico em sua vida cotidiana, em caçadas e outras atividades vitais empregavam métodos reais para se encontrar presas, não se limitando a pedir aos deuses ou aos espíritos.

Cita o povo africano "Kung San" que ainda viveria como nossos antepassados caçadores/coletores.

"Como é que eles agiam? Como podiam obter tantas informações [sobre a caça] com pouco mais que uma simples olhadela? Eles examinavam a forma das depressões. O rasto de um animal veloz exibe uma simetria mais alongada. Um animal levemente manco protege a pata machucada, pondo menos peso sobre ela, e deixa uma marca mais fraca. Um animal mais pesado deixa uma depressão mais profunda e mais larga. Ao longo do dia, o rasto é em parte destruído pela erosão. As paredes da depressão tendem a desmoronar. A areia soprada pelo vento se acumula no fundo da cavidade. Talvez pedaços de folha, gravetos ou grama ali se introduzam. Quanto mais se espera, maior é a erosão.
Esse método é essencialmente idêntico ao usado pelos astrônomos planetários, quando analisam as crateras criadas por pequenos mundos que sofrem impactos: sendo iguais todas as outras condições, quanto mais rasa a cratera, mais antiga ela é."

Pois bem. Essa argumentação a qual concordo não me é estranha desde a infância. Naquela época distante a professora falava e a classe ouvia (hoje não sei se é assim ainda). Ela perguntava e meio que sugeria a resposta. Ela falava sobre índios. 

"Os índios tinham chefe?" Perguntava ela, e a classe: 
-Sim!  
-E qual o nome dele? 
-Cacique! 
-E o que o pajé fazia? 
-Tratava os doentes, curava, etc...
-E as rezas dele curavam? 
-Curavam- respondeu a classe, eu tb lógico... Mas aí veio a surpresa, a professora, a tantos anos, em um país tão diferente do atual, disse com todas as letras: "Não curavam não. O que o pajé fazia é chás e outros remédios, ele conhecia as ervas que curavam". 

Essa afirmação da minha querida professora cética me causou uma leve inquietação na época. Então se reza de índio não vale, será que a nossa vale? E isso ficou meio esquecido por um tempo. Mas ao me aprofundar no pensamento cético essas palavras de minha profa ficavam cada vez mais claras, mais evidentes em seu significado. Ao ler o já citado capítulo, pude entender com todas as letras algo dito por uma mestra a crianças de um sertão perdido no meio de um país ainda hoje, décadas depois, cheio de sacerdotes extintores e carente de mestres incendiários!