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sábado, 27 de fevereiro de 2016

6-Seleção natural e comportamento

Aqui inicio um ponto realmente polêmico.

Polemico não com religiosos propriamente ditos, pois a maioria deles não aceita a evolução desde o início, desde seus princípios ou sua base.
Mas há outro tipo de negador da evolução biológica. Os cientistas sociais, psicólogos e afins, em sua maioria.

Não de toda a evolução realmente, mas das implicações que ela tem em relação ao comportamento dos indivíduos de nossa espécie.

Não há oposição entre pessoas instruídas ao fato de que o comportamento sexual e mesmo outros é biologicamente determinado ou ao menos fortemente influenciado pela genética nos animais em geral, mas quase todos acreditam que isso não ocorre em nossa espécie. Em especial nos que se alinham a tendências progressistas, da esquerda política. A coisa nessa perspectiva se torna mágica ao se saltar dos outros animais para os seres humanos.

Segundo eles agimos somente como fomos ensinados a agir, ou "de acordo com a forma em que fomos socializados". Nossos gostos, preferências, modo de se interagir, de pensar, até nossa inclinação sexual... Tudo é aprendido, tudo é fruto unicamente da cultura da sociedade onde vivemos.

Inicialmente essa crença que podemos chamar de ambientalismo teve um papel útil pois fez oposição a outra noção desencontrada chamada inatismo, que diz que as pessoas já nascem com todas as tendências, o comportamento e capacidades pré determinadas.

O inatismo assim entendido é de origem religiosa, Deus fez as pessoas assim como são, e não podemos mudar. Mas já há conhecimento para superar essas duas formas parciais de entendimento do comportamento humano. É necessário superar essas imposições, sejam ambientalistas ou inatistas para podermos chegar a realidade do que somos.

Não é possível questionar a existência de uma enorme capacidade de aprendizagem em nossa espécie e que isso gera padrões marcantes mas superficiais de comportamento diferentes em sociedades diferentes, mas por outro lado não há sentido em se distinguir de forma absoluta as diferentes culturas humanas, como se não houvesse similaridade e permanência entre elas.

A própria capacidade de aprendizagem que consideramos ser o que nos torna especiais é por si só uma característica inata, herdade de nossos antepassados que a adquiriram por seleção natural. Os mais aptos a viver no novo ambiente de savana que substitui a floresta tropical africana eram os que tinha características desse tipo, um cérebro já mais capaz de aprender além de pés próprios para caminhar no solo...

Se o inatismo religioso é um erro, tb o é o ambientalismo que nos vê como discos rígidos de computador em branco onde a sociedade grava tudo o que somos. Temos sim inclinações, tendências, gostos e necessidades de vários tipos, mas com base em diferenças genéticas e não determinadas de forma divina...

Entre os comportamentos humanos o sexual é talvez o que tenha uma base biológica mais facilmente observável. Isso se deve a importância que a reprodução tem. Ela é mesmo o objetivo principal dos seres vivos, que só existem em última instancia devido a ela. 

Então temos toda uma tendência a nos comportar em relação ao sexo de forma a que nossa reprodução seja garantida, pq foi isso que fizeram nossos antepassados, foi isso que nos legaram com seus genes e é por isso que estamos aqui.

É por isso que independente da sociedade, da cultura ou da época histórica o comportamento heterossexual é majoritário. A atração de homens por características femininas e vice-versa não é uma imposição cultural, uma criação social, não é aprendida, é algo inato.

Claro que esse é um exemplo pequeno para algo tão profundo e complexo como o comportamento humano (e não implica que seja justificável coibir a homossexualidade) mas serve ao objetivo de ilustrar o fato de que não somos apenas "seres sociais" como em geral se formulam nos cursos das ciências sociais e demais humanidades.

Não somos apenas fruto do ambiente onde vivemos atualmente. Somos tb nosso passado evolutivo, impresso em nós pelos genes de nossos antepassados.

Não se pode descartar o passado, e é muito estranho que cientistas sociais, que dizem prezar tanto nossa história descartem tão facilmente uma parte da mesma por não gostarem dela por ser contraria a seu modo de pensar...

Preferem continuar com suas crenças ao invés de se porem realmente como cientistas, pesquisadores e superarem noções que já não condizem com conhecimento disponível.
O que nos diferencia de outros primatas é um enorme desenvolvimento do neocórtex, a parte mais moderna do cérebro. Mas as partes primitivas continuam a agir, influenciando e mesmo dirigindo nosso ser sem que nossa consciência (sediada no neocórtex) perceba.

Nosso comportamento tem a mesma "base genética primata" que chimpanzés e bonobos e as semelhanças são notórias a quem se dispõe realmente a observar sem preconceitos a dinâmica de suas sociedades.

Chimpanzés são agressivos, hierárquicos, os machos são dominantes e é sempre um macho alfa quem detêm o poder. Sempre conta com o apoio de alguns machos e a oposição de outros, o que leva a conflitos constantes de disputa pelo poder.

Bonobos são menos hierárquicos, a liderança é de uma fêmea alfa em períodos de paz e conflitos normalmente não levam a violência e sim a caricias sexuais para sua resolução.

Com seu código genético quase idêntico é obvio que seja o ambiente em que vivem o fator mais importante para se determinar as causas dessas diferenças de comportamento.

Nosso código genético por sua vez tb é quase idêntico aos de chimpanzés e bonobos. Isso está de acordo com constatação de que sociedades com ambiente mais justo tem indivíduos tb mais justos.

Sem se levar em conta essa parcela nada desprezível de nós mesmos, o "comportamento de base genética", não se vai entender o indivíduo e a sociedade humana, e não se vai realmente conseguir transformá-la em algo melhor, mais justo.

O que é paradoxal, pois exatamente os que querem fazer a sociedade evoluir, os que se situam no campo político progressista são tb os que se opõem a essa perspectiva realista de nossa natureza deixando o campo livre para que os conservadores reinem absolutos nesse meio.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

5-Seleção sexual

Quando dizemos "seleção natural" a primeira coisa que vem à mente da maior parte das pessoas que já tem algum conhecimento da teoria é a "luta pela sobrevivência". Algo bastante adequado pois precisamos, assim como outras formas de vida, conseguir alimento, água, espaço e fugir, se esconder ou se defender de quem quer nos matar... 

Imagine um carnívoro caçando uma ave que não voa, ou cujo voo seja do tipo "curto e rasteiro". Obviamente as aves que de alguma forma tiverem características que escondam-nas do predador irão sobreviver mais do que as que forem mais visíveis, certo? Então explique o caso do pavão! Aquele enorme leque de penas coloridas que  tem nas costas (não, não é a cauda dele). Por certo o torna visível a carnívoros, então pq não se extinguiram devorados por mangustos, tigres, leopardos  e outros predadores?

É que alem da sobrevivência ha tb a questão da reprodução.

Todo pavão com enfeites de penas nas costas é macho. Eles são uma atração para fêmeas, que não tem enfeite algum e tb tem plumagem menos coloridas, que as escondem dos predadores. Então a vantagem é sexual, podemos dizer que há uma "seleção sexual". Quanto mais vistoso o macho, mais atrativo será para as fêmeas, mais vai se reproduzir e assim haverá mais filhotes que terão enfeites quando crescerem (é isso o que determina a existência de aves coloridas e não a criação divina como já mencionado no primeiro texto). Mas não termina aí. 

O macho tem o enfeite apenas no período de acasalamento e não o ano inteiro, não se expondo sem necessidade aos predadores... Raciocinando de acordo com a seleção natural o que ocorreu foi que os machos que não perdiam completamente as penas coloridas foram mais caçados e não sobreviveram tanto e não se reproduziram, ficando os pavões que perdiam as penas vivos para se reproduzir. Tudo isso sem um planejador, sem alguém que intencionou tornar pavões aves lindas, pois a seleção natura e sexual é um fenômeno natural anterior a existência de planejamento ou intenção...

Outro exemplo de "seleção sexual", mas que não poe a vida do individuo em risco real é o crânio  espesso dos bodes... Bodes disputam as cabras com outros bodes dando marradas (cabeçadas). Os que tem crânios mais resistentes tendem a vencer a disputa, tem mais filhotes e isso gera maior descendência de crânios mais espessos e portanto mais resistentes. A seleção sexual explica até fenômenos tais como a existência de flores com formato e cheiro idêntico a vespas por exemplo. Vespas polinizam flores, sendo úteis para a reprodução das plantas.

Uma flor que tenha o cheiro e o formato de uma vespa fêmea em época de acasalamento vai atrair mais vespas machos e sera polinizada mais que outra que não tenha essa característica. É claro que uma mutação dessas não se da em apena uma geração. Mas entre milhares de mutações, a maioria neutra e outras prejudicais, uma que determine um aroma agradável para vespa vai lhe dar vantagem. O mesmo com o formato de suas pétalas. A medida que mais e mais mutações forem ocorrendo em diversas plantas as vespas vão procurar flores as que lhes sejam mais agradáveis, favorecendo que mais e mais delas se tornem semelhantes as próprias vespas.




quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

4-Confusão entre Darwin e Lamarck

No texto anterior vimos a diferença entre Lamarck e Darwin, mas como já mencionado as vezes a confusão entre ambos se instala em nossa fala. 

Vejamos o caso da resistência das bactérias aos antibióticos.

Mesmo nas sessões de noticias sobre ciência dos grandes jornais o que é escrito sobre o assunto pode ser resumido assim: 

"as bactérias 'estão se tornando' mais resistentes aos antibióticos." 

É sutil, mas essa é uma noção lamarckista. A rigor o que acontece é que algumas bactérias já nascem com mais resistência aos antibióticos, e são essas que não morrem sob a ação deles e portanto se reproduzem, gerando mais e mais bactérias resistentes... 

O fato é que bactérias trocam material genético na reprodução, o que aumenta a variedade genética entre os indivíduos. É por isso que há bactérias mais ou menos resistentes, o que determina isso é a variação genética de cada uma.

Nos pés de nossos antepassados evolutivos ocorria algo assim:

A deficiência "pés com dedos curtos" impedia uma vida normal do individuo vivendo em árvores, mas não era impedimento total para sua reprodução. Por isso os genes para essa característica estavam na população. 

Mas aí ha milhões de anos ocorreu uma diminuição das condições climáticas que mantinham uma imensa floresta tropical que existia na África. Grandes áreas foram substituídas pela atual savana, vegetação formada mais por gramíneas, com poucas árvores. 

Ora, "os primatas de pés com dedos compridos" não puderam passar a viver no chão com muita desenvoltura, eram alvo fácil para predadores e não conseguiam correr de forma eficaz atrás de algum pequeno animal para caçar...  Já com os que tinham pés com dedos curtos ocorreu o contrário... Corriam melhor tanto para caçar quanto para fugir de carnívoros. Na verdade depois de algum tempo nossos antepassados passaram é a competir com outros predadores pela caça. 

Por isso chimpanzés, gorilas, orangotangos e outros grandes primatas passaram a ter seu número cada vez mais reduzido, e outras espécies foram extintas... Por não conseguirem abandonar totalmente a vida em árvores. Já nossos antepassados com pés impróprios para vida em arvores se mostraram aptos para a vida no chão... 

Essa característica junto com inúmeras outras tb hereditárias (em especial as que originaram um cérebro mais complexo) determinaram a sobrevivência e a reprodução de indivíduos de forma nunca antes alcançada por outra espécie de mamífero.

Dentro do contexto da seleção natural somos um "sucesso evolutivo" devido a imensa prole de bilhões de seres de nossa espécie.

Viver e se reproduzir são fenômenos que caracterizam os seres vivos. São os genes se multiplicando, fazendo cópias de si mesmos e se espalhando por todos os lugares. A vida existe em inúmeras condições em nosso planeta, o que nos faz pensar que pode existir tb em outros astros... 

Mas é pura especulação. O fato é que reprodução e sobrevivência apesar de serem fenômenos unidos as vezes são contraditórios e precisam ser melhor explicados. Vejamos o pq no próximo texto. 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

3-Darwin e os pés dos primatas

Veja agora um exemplo mais próximo a nós, nossos pés, onde procurarei ser mais especifico sobre transmissão genética de características:

Nossos antepassados evolutivos tinham pés semelhantes aos de chimpanzés modernos, próprios para a vida em árvores, com dedos compridos. Pés com dedos mais curtos e semelhantes aos nossos era nesse contexto uma deficiência física, e isso é fácil de constatar. Nosso mais ágil garoto se torna desajeitado frente a um chimpanzé quando ambos vão subir em uma árvore. Mas pq isso ocorria? Ou pq havia peixes e insetos cegos no exemplo anterior, das cavernas?

Por determinação genética.

Os genes envolvidos na formação dos "olhos que enxergam" ou dos "pés com dedos compridos" faziam seus portadores serem mais aptos a sobreviver e a se reproduzir. Até agora nada a mais do que já vimos, certo? Mas há um detalhe importantíssimo que  descreverei de forma simplificada.

Genes em animais e outros seres vivos que se reproduzem de forma sexuada são herdados do pai e da mãe e estão em pares em inúmeros casos.

Então teremos 2 genes que determinam características.

E o que ocorre então? Um gene é dominante. Considere que entre os nossos antepassados o gene para pés com dedos compridos era dominante. 

Então o individuo com um gene para pés com dedos compridos e outro para pés com dedos curtos teria pés com dedos compridos. 

O mesmo ocorreria se tivesse ambos os genes para dedos compridos.

Ele só teria dedos curtos nos pés se ambos os genes vindos de pai e mãe assim determinassem. 

O mesmo para genes que determinam a formação e o funcionamento dos olhos e qualquer outra característica.

A implicação disso é que um gene que determina uma "característica não útil" pode ser passado para descendentes sem se manifestar se for não dominante, pois ele fica inerte no ser vivos que o porta.

Animais com apenas um gene para cegueira irão enxergar devido ao gene dominante que determina olhos bem formados e funcionando... Um animal com apenas um gene para dedos curtos nos pés terá dedos compridos pelo mesmo motivo.

Quando nasce algum cego, ou seja, com ambos os genes para cegueira ele não tem sucesso em se reproduzir a não ser que se mudem as condições do ambiente. É por isso que em cavernas escuras a maioria dos animais são cegos, pq nelas a vantagem é não enxergar. 

Não ocorre transmissão de cegueira de pai para filho por falta de uso dos olhos e sim por herança de genes que determinam isso. Do mesmo modo que não foi a "falta de uso" dos dedos dos pés que os atrofiou. 

Esse é o erro de Lamarck. 

Já a teoria de Darwin  após a descoberta da genética  por Gregor Mendel e explicitada acima ganhou uma base inequívoca de acerto sobre a realidade. 

Importante agora.

Para que o animal com reprodução sexuada tenha a característica não dominante como os dedos curtos nos pés ou cegueira é necessário que ocorra então cruzamento entre primos ou entre sobrinhos e tios (ou entre irmãos ou pais e filhos, o que é incomum). 

Primos mesmo os muito distantes cronologicamente falando podem ambos carregar o gene recessivo (não dominante) pois ambos descendem do mesmo ancestral que teve a mutação original.

Nesse caso seu filho poderá ter ambos os genes recessivos. 

Assim ele terá a característica não dominante de cegueira, dedos curtos e qualquer outra. 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

2- Lamarck e os olhos de peixe



Pessoas que se opõem a realidade, que preferem a tendência ilusória de crer em um planejador universal inventaram exatamente uma suposição mirabolante chamada de "design inteligente". É tida por desavisados como sendo uma "teoria concorrente" da evolução por seleção natural; mas não tem consistência, é apenas o mito religioso reformulado. A união da tendencia a "vemos trabalho planejado na origem de tudo" com a recusa a aceitar a nossa origem primata faz do design inteligente uma crença muito forte, mesmo sendo tola, sem base real alguma.

Mas antes de Darwin muitos obviamente perceberam a evolução. Alguns se propuseram a explica-la de forma honesta, embora não tenham alcançado um nível de entendimento tão grande quando o famoso pesquisador (na verdade o mecanismo da seleção natural foi percebido pouco depois de Darwin  por Wallace. Então ambos dividem o mérito, embora Darwin seja mais famoso).

O mais conhecido formulador de uma tentativa de explicar a evolução antes da Darwin é Lamarck. Em geral sua explicação sobre a evolução é apresentada nos livros de escola de forma anedótica, usando uma girafa como exemplo de como ele imaginava que o esforço do animal em espichar o pescoço para se alimentar da copa das arvores acabou passando a característica "pescoço comprido" para seus descendentes.

A formulação de Lamarck é mais complexa e interessante do que isso e em tempos em que não se conheciam a ação dos genes na transmissão de características hereditárias forneceu algumas explicações bem convincentes embora erradas sobre como se da a evolução. Até hoje se não tomarmos cuidado ao falarmos de evolução nossas noções expostas se tornam "lamarckianas" e não "darwinistas". E isso é bastante comum e vamos entender pq a seguir.

Em uma caverna profunda e portanto sem iluminação um fato curioso se dá. É grande o número de animais cegos entre os que vivem exclusivamente nesse ambiente, como insetos e peixes em algum lago que porventura exista nela. Ora, a "falta de uso dos olhos" imediatamente parece ser o motivo para a cegueira, certo? Os antepassados desses animais não precisavam de olhos e logo passaram essa falta de necessidade para os filhos, netos, bisnetos, etc até que a falta de uso por gerações acabou por atrofiar os olhos. Convincente a explicação, mas falha.

Na verdade a característica "cegueira" que era uma deficiência física em "ambiente com luz" se tornou uma vantagem  num ambiente sem luz.  

Animais que nasciam cegos no ambiente com luz não viviam tanto e nem se reproduziam muito em relação aos que enxergavam. Eram portanto muito raros. Em ambiente sem luz puderam   viver e se reproduzir mais que seus concorrentes. Em algumas gerações seu numero suplantou o dos que enxergam.

Notem que evito sempre aquela velha fala de "ser necessário milhões de anos para que se de a evolução"... Não é sempre necessário um tempo tao grande. E tb ainda não mencionei o papel dos genes, em parte para simplificar a coisa, em parte pq Darwin conseguiu formular a teoria sem conhecimento sobre genes, embora tenha intuído alguma coisa sobre o mecanismo de ação deles. Mas cabe a Mendel a noção mais acabada de como se da essa ação.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Um planejador universal, os olhos de Lamark e os pés de Darwin

Série de textos sobre seleção natural, lamarkismo e ação dos genes na evolução biológica


1-Da inexistência de um planejador universal

Além da oposição sofrida por quem tem alguma crença religiosa contrária a evolução das espécies, a teoria de Darwin tb encontra outros percalços. Um deles se deve a que sua concepção sobre como se dão os fenômenos que geram a evolução contrariam o "modo cotidiano de pensar". Pensamos de forma "teleológica" (não se assuste, esse é o único termo "complicado" que usarei). Ou seja tendemos a ver na natureza ações típicas de seres humanos, tais como planejamento e intenção. E essas ações seriam realizados por seres que agem exatamente como seres humanos, com intenção e planejando, mas com poderes muito superiores para realizar o que pretendem. Nós os chamamos de deuses.

É por isso que vermos “engenhosidade” ou "ação divina" no sistema solar com sua regularidade em ter astros girando em torno do Sol, e nos admiramos em como o deus de nossas crenças é maravilhoso ao planejar a existência de pássaros e flores que nos alegram com suas cores...

Ao contrario dessa "redução da natureza à humanidade" (antropomorfização) o que acontece é que toda a enorme quantidade fenômenos naturais que ocorreram antes da existência de seres humanos não tiveram planejamento ou intenção alguma. A formação de uma estrela, algo comum e grandioso no universo se deve a junção de uma grande quantidade de hidrogênio sob a ação da força da gravidade. Não há um artesão, um planejador ou um construtor de estrelas. O sistema solar é tb organizado pela mesma força com matéria resultante de estrelas já mortas. Já os pássaros e flores são fruto de seleção natural e voltaremos ao assunto mais a frente.

Devido a agirmos de tal forma, com intenção e planejamento acreditamos que tb as coisas se passam assim em toda a natureza. Quando vemos um automóvel, uma casa, uma cidade reconhecemos planejamento e intenção na sua origem e estamos certos. Quando vemos a existência de nosso planeta ou de qualquer outro astro, da vida, da ação da força gravitacional tb reconhecemos planejamento e intenção em sua origem, mas estamos errados.

O fato é que pouca coisa se faz realmente de forma planejada, nós é que valorizamos demais essa forma de agir e, muito pior, não procuramos entender como as coisas realmente ocorrem. É mais fácil acreditar que Deus criou as estrelas do que estudar o processo real da formação delas... Nossas ações se limitam ao que fazemos no pequeno planeta que habitamos e mesmo nele apenas a sociedade humana é planejada. Todo a imensa quantidade de outros fatores, de terremotos a marés, da rotação e translação da Terra ao surgimento e evolução da vida são independentes de nossa vontade e de seres criados por nossa imaginação.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Respondendo sobre evolução de espécies

"Se a espécie transmuta para adaptar-se, não podemos aceitar a frase; 'Espécie em extinção'. Correto?"

Podemos aceitar a frase "especie em extinção" pq não é a espécie como um todo que evolui e sim alguns de seus indivíduos, mas vamos com calma.

Algumas espécies se extinguem por motivos variados como fenômenos naturais ou ação humana sem deixar descendentes evoluídos, ou seja sem indivíduos com mutações suficientes para uma diferenciação entre especies. É algo extremamente comum. Exemplo em vias de se realizar é a extinção dos chimpanzés, que não tem nenhuma especie que descende deles. Nós mesmos tb não temos e se nos extinguirmos não deixaremos nenhum herdeiro.

Já espécies em que alguns membros originaram outras podem continuar a existir conjuntamente com seus descendentes por tempo indeterminado ou ser extinta exatamente pela concorrência com eles caso essa seja acirrada e ambas as especies ocupem o mesmo ambiente que não tenha como manter a existência de ambas. Mas isso é raro, em geral só surgem novas especies quando os indivíduos de uma se encontram isolados dos outros para que não haja mais cruzamento entre eles.

Exemplificando podemos considerar o surgimento por mutação genética de pássaros que tenham bicos "aptos a comer a cápsula que envolve as sementes de mamão" em uma especie que come normalmente apenas a polpa dos frutos. Como há muitas sementes não comidas no ambiente a mutação desses indivíduos pode ser benéfica a eles, pois representa menor concorrência por alimento. Seus portadores irão se alimentar melhor, serão mais saudáveis, terão mais filhotes que irão passar essas características para sua descendência

E ainda mais, ao defecar as sementes irão possibilitar o nascimentos de mais e mais mamoeiros por uma grande área. Em algumas gerações será grande o numero de pássaros com bicos para semente e continuará tb grande o numero de pássaros comedores de polpa. Nada planejado, mas tb nada "por acaso". É o ambiente que serve de "filtro" para quem vai continuar ou não.

Mutações genéticas são inúmeras e variadas. Para cada uma que seja benéfica em relação ao individuo no ambiente dado existem inúmeras maléficas e neutras... No exemplo dado a mutação "bico inexistente" seria a sentença de morte para seu portador assim que deixasse de ser alimentado por seus pais, o que explica o pq que pássaros que nascem sem bicos sejam raríssimos, pois não vivem tempo suficiente para se reproduzir. 

De toda forma ainda serão a mesma especie pq falamos de apenas uma característica (formato do bico). Mas caso continuem outras mutações em indivíduos de populações distantes entre si ou mesmo isoladas por um acidente geográfico (uma serra, cadeia de montanhas, ilha, um braço de rio ou mar...) serão muitas mutações independentes que irão ao fim de gerações formar uma ou mais especies diferentes da original, pois não irá haver mais cruzamentos possíveis entre as duas especies, ou caso aconteça, os filhotes nasçam estereis. É o caso do cruzamento entre espécimes próximas geneticamente, como leão e tigre, ou jumento e cavalo...

A argumentação de que a "especie se transformou em outra" não é adequada portanto. São alguns indivíduos de uma especie dada que originam uma nova, não são todos os indivíduos dela que se "transmutam". 

Mas sigamos em frente, falemos mais da seleção natural darwiniana de forma mais próximaConsidere o exemplo dos pássaros cujo alimento é a cápsula que envolve a semente do mamão. Uma mutação que faça o estomago de alguns pássaros comedores de semente ser muito ácido vai matar as sementes de mamão comidas, vai prejudicar ambas as especies indiretamente, pois menos pés irão  brotar após a semente ser defecada, ou seja, sem a polpa do mamão e sementes ambas as especies ficarão sem alimento... 
Já estômagos menos ácidos permitirão que mais sementes se tornem pés de mamão

Assim em regiões com pássaros com estômago ácido teremos menos pés de mamão.  
Em regiões sem pássaros com estômagos ácidos  ambas as especies vão se beneficiar pois haverá mais pés de mamão. Eis um exemplo de que seleção natural não é necessariamente uma disputa de vida e morte entre especies e pode gerar "companheirismo". De toda forma essa mutação estômago ácido tende a ser suprimida, pois com menos pés de mamão menos pássaros poderão se alimentar. 
não ser que estômagos ácidos permitam uma melhor digestão de algum outro alimento, insetos por exemplo. Aí se esses pássaros se isolarem dos demais nascerá mais uma nova especie, e então já temos três: 

-a especie pela qual iniciamos o relato, que come polpa de mamão;
-a que se originou dela e que come a capsula que envolve as sementes do mamão e
-uma variação dessa com estomago muito acido que mata as sementes do mamão ao come-las o que causou a diminuição do numero de pés de mamão na região o que forçou a busca por outro tipo de alimento

O estômago mais ácido permitiu a troca do alimento "sementes de mamão" por insetos que existem em regiões mais distantes, o que causou a migração desses pássaros para essas novas regiões, provocando o isolamento dos mesmos em relação a especie de que evoluíram, o que por fim levou ao surgimento dessa nova especie agora insetívora

Por fim é importante frisar que evolução biológica não se da por acaso, mas tb não é algo planejado por algum ser superior... Ela é sim mediada por um mecanismo claramente explicado atualmente, que existe de fato e não é apenas uma ideia como tantos desejam que seja. A seleção natural.

Mutações genéticas como já vimos causam mudanças no individuo que está sendo gerado. Essas mudanças em geral são ruins (ausência de penas, bicos, garras ou pelos, olhos com defeito, dentes mais frágeis, etc) e nesse caso esses indivíduos morrem sem se reproduzir ou se reproduzem pouco

Ou pode haver mutação favorável (capacidade de correr mais rápido, asas mais fortes, maior resistência a vírus e baterias, capacidade de consumir alimentos que não estejam sendo aproveitados por outras especies, como as sementes de mamão que não eram comidas...) e nesse caso esses indivíduos vão sobreviver e se reproduzir, passando adiante suas características que são benéficas no ambiente em que estão, ou que as beneficiem em outro ambiente para onde se mudarem. 

O que causa essa "seleção natural" de quem vai ou não sobreviver e se reproduzir não é um planejador, e sim o próprio ambiente em que vivem ou para onde se mudam os indivíduos mutantes. 

E e a vida segue, segue a bilhões de anos esse caminho, com um numero absurdo de especies existentes e um numero muito maior de outras extintas. Todas originadas por essa dinâmica fantástica que é a evolução por seleção natural, sem planejamento, sem intenção, seja ela feita por humanos ou por deuses.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Sobre teorias e recusa ao conhecimento

O que permite que sejam construindo aviões que realmente voem é o conhecimento sobre aerodinâmica. Uma teoria. 
O envio de sondas e naves a outros planetas e satélites naturais, conhecimento sobre a gravitação. Outra teoria. 
Tb é uma teoria o conhecimento sobre o eletro magnetismo que permite a existência de rádios, das TVs, dos celulares, PCs e outros eletrônicos usados para se conectar na web. 

Do mesmo modo saber como se dá a seleção de bactérias resistentes aos  antibióticos é algo feito por meio de uma teoria. A "Evolução por seleção natural" de Darwin, a mesma que diz sobre a origem e evolução de primatas com cérebros mais desenvolvidos e pés com dedos curtos que ficaram sem seu habitat, a floresta africana no passado e foram habitar na savana concorrendo então com carnívoros pela alimentação...
Conhecimento organizado em forma de teoria, sempre com inúmeros desdobramentos, novos entendimentos, aplicações, usos... 

Em apenas um caso se desperta tanta objeção, tanta ojeriza contra uma teoria a ponto de a mesma ser rejeitada a priore e mesmo ridicularizada antes de qualquer entendimento. Exatamente essa que diz respeito a nós, ao que somos. Em que a seleção natural tem menos fundamento do que a gravitação, o estudo da aerodinâmica ou eletro magnetismo? Em nada! O que impede sua aceitação? O fato de que somos primatas e não a criação de algum deus. 

Não é só falta de entendimento. Não há ninguém negando agressivamente Newton por não entende-lo, ou Einstein, Maxxwel e tantos outros. Mas Darwin escandaliza, ele negou o mito amado por tantos de que somos uma criação unica na natureza, obra de um ser superior.

E tb negou nossa "forma teleológica de pensar". Ela é inata e universal, toda cultura tem componentes de crença sobre seres sobre-humanos planejando a criação do mundo, da vida, e da sociedade humana e influenciando de forma consciente seus rumos.

Na filosofia desde Aristóteles essa forma de pensar se manteve solida, quase inquestionável a não ser por lampejos de lucidez de alguns altores como Hume por meio do personagem Filon em sua obra Diálogos. Mas apenas em Darwin encontrou um oponente a altura para a desmentir. A teoria da evolução darwiniana não se mantem apenas na biologia, ela é filha de uma concepção muito mais exata sobre a realidade do que tudo o que havia no passado. Não há planejador, designer, arquiteto nem nada disso que não sejam humanos. E humanos tem apenas milhares de anos enquanto especie. 

Tudo o que havia antes de nossa existência teve inicio e prosseguimento sem nenhum criador. E mesmo fora de nosso mundo tudo continua como antes, se desenvolvendo sem planejamento, sem intenção, seja o surgimento de uma estrela, seja a expansão do universo. Aprenda a conviver com isso.