Aqui inicio um ponto realmente polêmico.
Polemico não com religiosos propriamente ditos, pois a
maioria deles não aceita a evolução desde o início, desde seus princípios ou
sua base.
Mas há outro tipo de negador da evolução biológica. Os
cientistas sociais, psicólogos e afins, em sua maioria.
Não de toda a evolução realmente, mas das implicações que
ela tem em relação ao comportamento dos indivíduos de nossa espécie.
Não há oposição entre pessoas instruídas ao fato de que o
comportamento sexual e mesmo outros é biologicamente determinado ou ao menos
fortemente influenciado pela genética nos animais em geral, mas quase todos
acreditam que isso não ocorre em nossa espécie. Em especial nos que se alinham
a tendências progressistas, da esquerda política. A coisa nessa perspectiva se
torna mágica ao se saltar dos outros animais para os seres humanos.
Segundo eles agimos somente como fomos ensinados a agir, ou
"de acordo com a forma em que fomos socializados". Nossos gostos,
preferências, modo de se interagir, de pensar, até nossa inclinação sexual...
Tudo é aprendido, tudo é fruto unicamente da cultura da sociedade onde vivemos.
Inicialmente essa crença que podemos chamar de ambientalismo
teve um papel útil pois fez oposição a outra noção desencontrada chamada
inatismo, que diz que as pessoas já nascem com todas as tendências, o
comportamento e capacidades pré determinadas.
O inatismo assim entendido é de origem religiosa, Deus fez
as pessoas assim como são, e não podemos mudar. Mas já há conhecimento para
superar essas duas formas parciais de entendimento do comportamento humano. É
necessário superar essas imposições, sejam ambientalistas ou inatistas para
podermos chegar a realidade do que somos.
Não é possível questionar a existência de uma enorme
capacidade de aprendizagem em nossa espécie e que isso gera padrões marcantes
mas superficiais de comportamento diferentes em sociedades diferentes, mas por
outro lado não há sentido em se distinguir de forma absoluta as diferentes
culturas humanas, como se não houvesse similaridade e permanência entre elas.
A própria capacidade de aprendizagem que consideramos ser o
que nos torna especiais é por si só uma característica inata, herdade de nossos
antepassados que a adquiriram por seleção natural. Os mais aptos a viver no
novo ambiente de savana que substitui a floresta tropical africana eram os que
tinha características desse tipo, um cérebro já mais capaz de aprender além de
pés próprios para caminhar no solo...
Se o inatismo religioso é um erro, tb o é o ambientalismo
que nos vê como discos rígidos de computador em branco onde a sociedade grava
tudo o que somos. Temos sim inclinações, tendências, gostos e necessidades de
vários tipos, mas com base em diferenças genéticas e não determinadas de forma
divina...
Então temos toda uma tendência a nos comportar em relação ao
sexo de forma a que nossa reprodução seja garantida, pq foi isso que fizeram
nossos antepassados, foi isso que nos legaram com seus genes e é por isso que
estamos aqui.
É por isso que independente da sociedade, da cultura ou da
época histórica o comportamento heterossexual é majoritário. A atração de
homens por características femininas e vice-versa não é uma imposição cultural,
uma criação social, não é aprendida, é algo inato.
Claro que esse é um exemplo pequeno para algo tão profundo e
complexo como o comportamento humano (e não implica que seja justificável
coibir a homossexualidade) mas serve ao objetivo de ilustrar o fato de que não
somos apenas "seres sociais" como em geral se formulam nos cursos das
ciências sociais e demais humanidades.
Não somos apenas fruto do ambiente onde vivemos atualmente.
Somos tb nosso passado evolutivo, impresso em nós pelos genes de nossos
antepassados.
Não se pode descartar o passado, e é muito estranho que
cientistas sociais, que dizem prezar tanto nossa história descartem tão
facilmente uma parte da mesma por não gostarem dela por ser contraria a seu
modo de pensar...
Preferem continuar com suas crenças ao invés de se porem
realmente como cientistas, pesquisadores e superarem noções que já não condizem
com conhecimento disponível.
O que nos diferencia de outros primatas é um enorme
desenvolvimento do neocórtex, a parte mais moderna do cérebro. Mas as partes
primitivas continuam a agir, influenciando e mesmo dirigindo nosso ser sem que
nossa consciência (sediada no neocórtex) perceba.
Nosso comportamento tem a mesma "base genética
primata" que chimpanzés e bonobos e as semelhanças são notórias a quem se
dispõe realmente a observar sem preconceitos a dinâmica de suas sociedades.
Chimpanzés são agressivos, hierárquicos, os machos são
dominantes e é sempre um macho alfa quem detêm o poder. Sempre conta com o
apoio de alguns machos e a oposição de outros, o que leva a conflitos
constantes de disputa pelo poder.
Bonobos são menos hierárquicos, a liderança é de uma fêmea
alfa em períodos de paz e conflitos normalmente não levam a violência e sim a
caricias sexuais para sua resolução.
Com seu código genético quase idêntico é obvio que seja o
ambiente em que vivem o fator mais importante para se determinar as causas
dessas diferenças de comportamento.
Nosso código genético por sua vez tb é quase idêntico aos de
chimpanzés e bonobos. Isso está de acordo com constatação de que sociedades com
ambiente mais justo tem indivíduos tb mais justos.
Sem se levar em conta essa parcela nada desprezível de nós
mesmos, o "comportamento de base genética", não se vai entender o indivíduo
e a sociedade humana, e não se vai realmente conseguir transformá-la em algo
melhor, mais justo.
O que é paradoxal, pois exatamente os que querem fazer a
sociedade evoluir, os que se situam no campo político progressista são tb os
que se opõem a essa perspectiva realista de nossa natureza deixando o campo
livre para que os conservadores reinem absolutos nesse meio.