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sábado, 27 de fevereiro de 2016

6-Seleção natural e comportamento

Aqui inicio um ponto realmente polêmico.

Polemico não com religiosos propriamente ditos, pois a maioria deles não aceita a evolução desde o início, desde seus princípios ou sua base.
Mas há outro tipo de negador da evolução biológica. Os cientistas sociais, psicólogos e afins, em sua maioria.

Não de toda a evolução realmente, mas das implicações que ela tem em relação ao comportamento dos indivíduos de nossa espécie.

Não há oposição entre pessoas instruídas ao fato de que o comportamento sexual e mesmo outros é biologicamente determinado ou ao menos fortemente influenciado pela genética nos animais em geral, mas quase todos acreditam que isso não ocorre em nossa espécie. Em especial nos que se alinham a tendências progressistas, da esquerda política. A coisa nessa perspectiva se torna mágica ao se saltar dos outros animais para os seres humanos.

Segundo eles agimos somente como fomos ensinados a agir, ou "de acordo com a forma em que fomos socializados". Nossos gostos, preferências, modo de se interagir, de pensar, até nossa inclinação sexual... Tudo é aprendido, tudo é fruto unicamente da cultura da sociedade onde vivemos.

Inicialmente essa crença que podemos chamar de ambientalismo teve um papel útil pois fez oposição a outra noção desencontrada chamada inatismo, que diz que as pessoas já nascem com todas as tendências, o comportamento e capacidades pré determinadas.

O inatismo assim entendido é de origem religiosa, Deus fez as pessoas assim como são, e não podemos mudar. Mas já há conhecimento para superar essas duas formas parciais de entendimento do comportamento humano. É necessário superar essas imposições, sejam ambientalistas ou inatistas para podermos chegar a realidade do que somos.

Não é possível questionar a existência de uma enorme capacidade de aprendizagem em nossa espécie e que isso gera padrões marcantes mas superficiais de comportamento diferentes em sociedades diferentes, mas por outro lado não há sentido em se distinguir de forma absoluta as diferentes culturas humanas, como se não houvesse similaridade e permanência entre elas.

A própria capacidade de aprendizagem que consideramos ser o que nos torna especiais é por si só uma característica inata, herdade de nossos antepassados que a adquiriram por seleção natural. Os mais aptos a viver no novo ambiente de savana que substitui a floresta tropical africana eram os que tinha características desse tipo, um cérebro já mais capaz de aprender além de pés próprios para caminhar no solo...

Se o inatismo religioso é um erro, tb o é o ambientalismo que nos vê como discos rígidos de computador em branco onde a sociedade grava tudo o que somos. Temos sim inclinações, tendências, gostos e necessidades de vários tipos, mas com base em diferenças genéticas e não determinadas de forma divina...

Entre os comportamentos humanos o sexual é talvez o que tenha uma base biológica mais facilmente observável. Isso se deve a importância que a reprodução tem. Ela é mesmo o objetivo principal dos seres vivos, que só existem em última instancia devido a ela. 

Então temos toda uma tendência a nos comportar em relação ao sexo de forma a que nossa reprodução seja garantida, pq foi isso que fizeram nossos antepassados, foi isso que nos legaram com seus genes e é por isso que estamos aqui.

É por isso que independente da sociedade, da cultura ou da época histórica o comportamento heterossexual é majoritário. A atração de homens por características femininas e vice-versa não é uma imposição cultural, uma criação social, não é aprendida, é algo inato.

Claro que esse é um exemplo pequeno para algo tão profundo e complexo como o comportamento humano (e não implica que seja justificável coibir a homossexualidade) mas serve ao objetivo de ilustrar o fato de que não somos apenas "seres sociais" como em geral se formulam nos cursos das ciências sociais e demais humanidades.

Não somos apenas fruto do ambiente onde vivemos atualmente. Somos tb nosso passado evolutivo, impresso em nós pelos genes de nossos antepassados.

Não se pode descartar o passado, e é muito estranho que cientistas sociais, que dizem prezar tanto nossa história descartem tão facilmente uma parte da mesma por não gostarem dela por ser contraria a seu modo de pensar...

Preferem continuar com suas crenças ao invés de se porem realmente como cientistas, pesquisadores e superarem noções que já não condizem com conhecimento disponível.
O que nos diferencia de outros primatas é um enorme desenvolvimento do neocórtex, a parte mais moderna do cérebro. Mas as partes primitivas continuam a agir, influenciando e mesmo dirigindo nosso ser sem que nossa consciência (sediada no neocórtex) perceba.

Nosso comportamento tem a mesma "base genética primata" que chimpanzés e bonobos e as semelhanças são notórias a quem se dispõe realmente a observar sem preconceitos a dinâmica de suas sociedades.

Chimpanzés são agressivos, hierárquicos, os machos são dominantes e é sempre um macho alfa quem detêm o poder. Sempre conta com o apoio de alguns machos e a oposição de outros, o que leva a conflitos constantes de disputa pelo poder.

Bonobos são menos hierárquicos, a liderança é de uma fêmea alfa em períodos de paz e conflitos normalmente não levam a violência e sim a caricias sexuais para sua resolução.

Com seu código genético quase idêntico é obvio que seja o ambiente em que vivem o fator mais importante para se determinar as causas dessas diferenças de comportamento.

Nosso código genético por sua vez tb é quase idêntico aos de chimpanzés e bonobos. Isso está de acordo com constatação de que sociedades com ambiente mais justo tem indivíduos tb mais justos.

Sem se levar em conta essa parcela nada desprezível de nós mesmos, o "comportamento de base genética", não se vai entender o indivíduo e a sociedade humana, e não se vai realmente conseguir transformá-la em algo melhor, mais justo.

O que é paradoxal, pois exatamente os que querem fazer a sociedade evoluir, os que se situam no campo político progressista são tb os que se opõem a essa perspectiva realista de nossa natureza deixando o campo livre para que os conservadores reinem absolutos nesse meio.

2 comentários:

  1. Somos então o resultado da herança genética e da herança cultural. E somos diferentes dos outros animais porque desenvolvemos a capacidade de administrar as sensações, as emoções e os sentimentos. O lugar onde se processam as sensações é que não entendo que seja só num determinado ponto do cérebro. Todo o corpo participa: os órgãos, as glândulas, o sistema nervoso, o circulatório, o linfático, estimulando internamente e enviando mensagens ao cérebro. Além disso somos bombardeados por estímulos externos também, os mais diversos. Tudo isso junto, cada ser humano administra de um jeito particular e único. Então o cérebro não faz o serviço sozinho, ele participa do processo. Onde nasce uma sensação? A fome por ex.? O estomago vazio libera um hormônio que age no cérebro que, por sua vez, faz o registro da sensação de fome. Sabemos que estamos com fome. A questão é: quem sabemos? Quem é que sabe? Eu! Quem é eu? O cérebro ou o estomago? "Eu" é tudo isso. Saber tudo isso e sentir tudo isso não é atribuição só do cérebro. As sensações percorrem o corpo e o cérebro faz o registro delas e é usado por "eu" para raciocinar e decidir acerca disso tudo. É aí que digo que desenvolvemos uma capacidade perceptiva - EU - que nos torna diferente dos outros animais. Desenvolvemos um EU. Posso chamar de instância invisível pois é somente um nome para um estado psíquico, não é uma crença em algo.

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