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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A ciencia é algo estranho ao nosso modo de pensar?


"Há em cada cidade uma tocha - o professor; e um extintor - o padre"
                                                                             Victor Hugo

Sagan argumenta em O mundo assombrado pelos demônios, cap 18, que mesmo povos antigos já produziam conhecimento objetivo e que tinham métodos que se pareciam com o que chamamos de método científico moderno. Embora contassem com forte influência do pensamento mágico em sua vida cotidiana, em caçadas e outras atividades vitais empregavam métodos reais para se encontrar presas, não se limitando a pedir aos deuses ou aos espíritos.

Cita o povo africano "Kung San" que ainda viveria como nossos antepassados caçadores/coletores.

"Como é que eles agiam? Como podiam obter tantas informações [sobre a caça] com pouco mais que uma simples olhadela? Eles examinavam a forma das depressões. O rasto de um animal veloz exibe uma simetria mais alongada. Um animal levemente manco protege a pata machucada, pondo menos peso sobre ela, e deixa uma marca mais fraca. Um animal mais pesado deixa uma depressão mais profunda e mais larga. Ao longo do dia, o rasto é em parte destruído pela erosão. As paredes da depressão tendem a desmoronar. A areia soprada pelo vento se acumula no fundo da cavidade. Talvez pedaços de folha, gravetos ou grama ali se introduzam. Quanto mais se espera, maior é a erosão.
Esse método é essencialmente idêntico ao usado pelos astrônomos planetários, quando analisam as crateras criadas por pequenos mundos que sofrem impactos: sendo iguais todas as outras condições, quanto mais rasa a cratera, mais antiga ela é."

Pois bem. Essa argumentação a qual concordo não me é estranha desde a infância. Naquela época distante a professora falava e a classe ouvia (hoje não sei se é assim ainda). Ela perguntava e meio que sugeria a resposta. Ela falava sobre índios. 

"Os índios tinham chefe?" Perguntava ela, e a classe: 
-Sim!  
-E qual o nome dele? 
-Cacique! 
-E o que o pajé fazia? 
-Tratava os doentes, curava, etc...
-E as rezas dele curavam? 
-Curavam- respondeu a classe, eu tb lógico... Mas aí veio a surpresa, a professora, a tantos anos, em um país tão diferente do atual, disse com todas as letras: "Não curavam não. O que o pajé fazia é chás e outros remédios, ele conhecia as ervas que curavam". 

Essa afirmação da minha querida professora cética me causou uma leve inquietação na época. Então se reza de índio não vale, será que a nossa vale? E isso ficou meio esquecido por um tempo. Mas ao me aprofundar no pensamento cético essas palavras de minha profa ficavam cada vez mais claras, mais evidentes em seu significado. Ao ler o já citado capítulo, pude entender com todas as letras algo dito por uma mestra a crianças de um sertão perdido no meio de um país ainda hoje, décadas depois, cheio de sacerdotes extintores e carente de mestres incendiários!

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