Total de visualizações de página

domingo, 3 de novembro de 2013

Acusações justas e outras nem tanto contra a medicina I

Quando um cardiologista é procurados por um paciente é comum que devido à vida sedentária, má alimentação, obesidade, cigarros, poluição, stress, diabetes, hipertensão e outros fatores inatos e ambientais algum problema circulatório já esteja se desenvolvendo. A quantidade de informações sobre como cuidar do coração é enorme e está amplamente disponibilizada. Mesmo assim não é raro que os cardiologistas se detenham a explicar ao paciente o que ele deveria ter feito para evitar a situação e o que deve fazer para que o quadro não se agrave... 


A pessoa houve, tenta mudar hábitos por duas semanas e esquece. Tempos depois tem uma crise de hipertensão, a família fica assustada com a taquicardia e a sudorese abundante, tenta vigiar a pessoa para que não abuse após deixar a internação. O cardiologista novamente esclarece que só a medicação não é suficiente e o paciente assume que além dos péssimos hábitos tb deixa de tomar a medicação as vezes... Decide mudar para valer, mas isso dura até a próxima festa de ano novo... Passam-se meses, anos... 

O paciente não fuma mais, pois é algo difícil de esconder, mas, no entanto come doces, gordura, não faz as caminhadas que diz fazer, recuperou os 10 dos 15 quilos que havia perdido (na verdade recuperou todos e ganhou mais 3, mas mente sobre isso), não mede sua pressão arterial e nem a taxa de glicose... Mente para o cardiologista em todas as vezes que sua família lhe obriga a consultá-lo... 

Com a dor que sente devido a uma angina ele e a família novamente se desesperam. Vão em busca de métodos alternativos de tratamento, afinal a medicina não está funcionando... O terapeuta holístico telúrico cabalístico do cristal do conhecimento hermético de Atlântida, vestido a moda indiana e com um afetado sotaque oriental diz muito sobre o modo de vida do homem ocidental e como isso é prejudicial à saúde. Ou seja, diz o mesmo que o cardiologista, mas de uma forma encantadora, que prende a atenção, usa palavras que apelam para o pensamento mágico e a emoção, mas recomenda que o tratamento alopático não deixe de ser feito, pq a alopatia trata os apenas os efeitos e ele tratará as causas físicas, mentais, espirituais e intergalácticas do mal... O preço do tratamento é ainda maior do que o feito pelo cardiologista, mas desespero é desespero.

O paciente se submete a uma vida mais regrada, o que poderia ter feito se ouvisse os conselhos do cardiologista ou mesmo antes, pois informação para isso ele tinha. Iria poupar uma boa grana e não teria todos os danos irrecuperáveis que já atacam seu sistema circulatório. Pouparia tempo tb, todos os exercícios de relaxamento que o terapeuta de bata lhe passa para fazer em sua clinica poderiam ser feitos em casa mesmo, mas a clinica tem um ar místico, cheiro de incenso e uma bela atendente... 

Mas não são apenas a vida equilibrada e o relaxamento. O paciente tb toma remédios produzidos mediante testes rigorosamente controlados receitados por seu cardiologista, mas por influencia da nova crença pensa que "remédio de farmácia" faz mais mal do que bem, culpa das grandes corporações... Acredita que as infusões de plantas recomendadas pelo terapeuta são a verdadeira causa de sua melhora... Plantas afinal de contas eram usadas por nossos antepassados, certo? Mas ele não sabe que o terapeuta tb lhe vende outro tipo de remédio, esse feito de água com farinha com memoria curativa. É a massa de pão mais cara do mundo, mas mesmo assim compra pq tem fé. Nessa nossa história, para termos um final feliz o paciente vive mais uns bons anos de forma saudável. Não se tornou um fanático contrario a medicina alopática apesar de crer que ela é uma invenção da industria farmacêutica. Mas observa com razão que se sente mais a vontade com o "terapeuta indiano" (e nao importa que ele seja tao brasileiro quanto ele) do que com o cardiologista... 

Acusações sobre falta de atenção de médicos e outros profissionais da saúde são muitas vezes justas. Em parte se devem ao fato deles terem que se proteger da sobrecarga emocional originada pelo sofrimento de pacientes e pessoas próximas a eles. Mas há os puramente arrogantes, como os há tb entre engenheiros, advogados, professores... Muito se diz que os praticantes da “medicina alternativa” são mais humanos, compreensivos, simpáticos... Mas os alternativos não se submetem a horas de atendimento ininterrupto em prontos socorros cheios ou cirurgias de longa duração onde há o risco constante da perda de uma vida. 


É natural que gostemos de poder confiar em quem trata de nossa saúde. A pratica comercial e de distanciamento da medicina, voltada ao lucro é um fenômeno ruim, mas o pior é que esse espaço vem sendo preenchido por profissionais com técnicas inadequadas e sem fundamento. A coisa fica grave quando confiamos em quem, mesmo sem querer, nos engana. É um paradoxo que profissionais que usam de métodos reais de tratamento não consigam algumas vezes despertar confiança, enquanto que os que se baseiam em coisas sem fundamento apareçam confiáveis aos olhos de tantos.

 Alternativos costumam recomendar que o tratamento convencional não seja interrompido, menos mal que façam assim. Mas quando o tratamento médico falha, a culpa recai só na medicina, já quando há cura, a medicina tem que dividir a vitoria com alternativos de todo tipo. Foi o tratamento com florais que deu resultado, pena que os grandes laboratórios escondam isso... É como jogar futebol contra um time que não precisa cumprir as regras, é algo profundamente desonesto.




Nenhum comentário:

Postar um comentário