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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Monoteísmo, origem e evolução histórica

Seres imaginários povoam as crenças de quase todas as culturas do mundo, ou talvez de todas. Existem de tantos tipos quanto nossa imaginação possa conceber. Alguns são poderosíssimos, capazes de decidir sobre o destino da sociedade, produzir fenômenos climáticos que auxiliem ou prejudiquem colheitas e demais atividades humanas e mesmo seriam os responsáveis pela criação e manutenção da existência do mundo e de tudo o que nele existe. São cultuados e temidos por seus poderes e sua influencia em uma escala muito além de nossa capacidade. Ao serem agraciados com homenagens e sacrifícios podem nos beneficiar e prejudicar nossos inimigos. Podem nos castigar quando cometemos faltas e não cumprimos nossas obrigações... 

A caracterização cultural dos deuses de diferentes povos de diferentes épocas históricas como podemos ver acima não pode ser feita senão de maneira abrangente e geral. Não há critérios objetivos para se diferenciar deuses de outros seres superiores e sobrenaturais. Mas isso é relativamente pouco problemático quando se trata de politeísmo. Nesse tipo de crença religiosa, a rigor, não há necessidade de distinção absoluta entre os deuses e outros seres sobrenaturais. Uma distinção possível seria o fato de que aos deuses se aplica algum tipo de culto ou temor, pois sua influência sobre o mundo dos homens seria mais abrangente e decisiva. Nesse sentido até mesmo pessoas mortas podem ser alçadas a condição de divindades, algo comum entre culturas “pré-históricas”, entre os gregos antigos e tb entre católicos modernos (apesar deles se crerem monoteístas, mas discutiremos isso mais adiante).

A origem da crença em deuses, essa sim pode ser definida em termos objetivos. A consciência humana é algo tão poderoso em se auto-iludir e ver significado em tudo que acontecimentos sem explicação são tidos como fruto de intenções ocultas, de seres aos quais não se pode ver, e cuja existência se situa acima das limitações humanas. Essa é uma adaptação evolutiva e uma das causas da crença em seres sobrenaturais. A origem do mundo, a chuva, o sol, a lua, a alternância entre estações do ano, o movimento relativo dos astros no céu, as marés, as cheias dos grandes rios, os períodos de seca, a organização política e econômica da sociedade e toda sorte de fenômenos naturais e sociais parecia aos olhos de nossos antepassados como sendo obra desses seres superiores. 

A nossa tendência a seguirmos líderes, outra adaptação evolutiva comum entre animais que vivem em bandos origina a necessidade de crermos que alguns desses seres superiores são senhores de nosso destino, os criadores da natureza, da estrutura social e das suas regras. São os deuses do politeísmo. 

Mas após milênios de politeísmo, algumas sociedades tentaram reunir esses seres em uma só entidade, em um só deus. Temos assim o  monoteísmo. Essa tentativa de unificação pode ocorrer por motivos variados, mas a necessidade de unificação sócio-econômica e cultural de um ou mais povos sob o governo de uma classe social dominante com um líder proeminente é em geral um fator importante. 
Mas como veremos há muita dificuldade em se manter o culto a um só deus, pois tendemos a criar vários deuses e outros seres sobrenaturais para explicar e justificar diferentes aspectos do mundo. 
Em geral as pessoas não aceitam pacificamente que seus seres fantasiosos diversificados sejam reduzidos a um só ser fantasioso do monoteísmo governante... 

No Egito antigo a tentativa em se estabelecer o culto do deus Aton como o único foi feita sob a tutela do faraó Amenófis IV treze seculos antes de Cristo. Estava ele interessado obviamente em reduzir a influencia dos sacerdotes dos inúmeros outros deuses e aumentar a sua própria sobre a população. Embora não tenha obtido êxito em se firmar, devido principalmente a inabilidade de Amenófis em superar a oposição dos sacerdotes dos outros deuses, essa reforma deixou uma herança cultural que influenciou os povos da região. 

Séculos depois os persas já contavam com um sistema religioso, o zoroastrismo, que reduziu drasticamente o numero de deuses, onde apenas dois deles tinham importância fundamental no mundo, sendo um deus favorável a ordem e a luz e outro ao caos e as trevas. Tb os hebreus beberam dessa fonte. O estabelecimento do culto único a Javé entre os hebreus (que antes eram politeístas) foi uma unificação cultural e uma forma de resistência ás outras potencias militares do Oriente médio da época. Mas novamente essa experiência teria se limitado a esse povo se não fosse pela aceitação dessa ideia pelo maior império da antiguidade, Roma. E isso mudou tudo.

Continua.


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