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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Cérebro e seleção natural II


Somos uma espécie cujos machos preferem fêmeas com corpo de violão. São agressivos e na juventude essa agressividade se da a ponto de podermos ser considerados uma das mais violentas espécies do planeta na busca por parceiras sexuais e luta por território. 

Nós e várias outras espécies somos territorialistas. A maioria dos animais resolve disputas territoriais com rugidos, pelos ou penas arrepiados, postura agressiva e garras e dentes a mostra e no máximo ferimentos leves por mordidas e arranhados. Machos humanos produzem guerras que matam milhões para dominar o território alheio. Temem que sua companheira tenha relacionamento sexual com outros machos. 

As fêmeas preferem machos mais fortes e mais altos que elas. São bem menos violentas fisicamente. A agressividade se expressa em alianças informais feitas por um grupo feminino contra outro ou contra uma só. Os motivos podem ser concorrência por status social, atenção de parceiros sexuais e outros. Elas defendem seus filhos em qualquer situação de forma empedernida e temem serem abandonadas por seus companheiros em troca de outras fêmeas. 

As crianças pequenas tem pensamento mágico e tendem a seguir líderes mais velhos. Acreditam em qualquer coisa que  disser e se dispõem a cumprir regras ditadas por ele. Característica essa que tende a continuar a existir em adultos, mas com variações de intensidade no senso crítico. Isso possibilita que pessoas sem nenhum problema psiquiátrico sigam líderes tais como o religioso Jim Jones e cometam suicídio coletivo, ou que a maioria da população alemã tenha apoiado a liderança de Hitler.  

Bebês reconhecem rostos com enorme facilidade e os com idade um pouco maior acompanham atentamente as ações de outros bebês e crianças pequenas.

Os seres humanos de ambos os gêneros tem uma grande capacidade de reconhecer padrões, sejam eles reais ou não, daí conseguirem enxergar rostos humanos em uma foto, em uma mancha no vidro da janela, em uma torrada ou até em três pontinhos feitos dentro de um círculo. Conseguem detectar intenções de outros seres humanos, mas veem essas intenções onde elas não existem. 

Acreditam em coisas tais como a intenção de uma divindade ligada ao clima. Ela pode se negar a acabar com a seca devido a atitudes humanas que a desagradaram. Ou que atraíram a atenção da sorte para serem favorecidos em um sorteio por meio de uma simpatia ou amuleto.  Em todos os casos humanos adultos acreditam ter razões que justificam suas crenças, mesmo que tais crenças sejam irracionais. Como quando líderes políticos afirmam que guerras pelo domínio de outros países têm “razões humanitárias”. Ou quando líderes religiosos afirmam que seus livros escritos há séculos explicam corretamente a origem do universo, da vida e do ser humano.

Todas essas características comportamentais e muitas outras independem da cultura em que o indivíduo vive, são inatas e tem clara base biológica. Tiveram papel decisivo na sobrevivência de nossos antepassados primitivos que viviam em condições bem diferentes das atuais. A seleção natural estruturou nosso cérebro para comportamentos na maioria úteis, mas nem por isso infalíveis. Principalmente quando fora do contexto onde se originaram. 

Alguns exemplos foram citados acima, como a tendência a seguir líderes. Essa é uma característica típica de animais sociais. Entre os humanos é muito usada por lideres políticos sendo estes também vitimas do mesmo mal. Só que de forma invertida. Eles creem serem líderes infalíveis que guiam o povo em sua jornada para um futuro radiante. Líderes religiosos adotam títulos como pastores (ovelhas são também mamíferos sociais) padres (pais) e anciões (experientes e sábios). Eles acreditam ser porta vozes de seres superiores ou se confundem com o próprio ser superior.

Esse comportamento nos faz parecer um rebanho de mamíferos sociais comuns, o que é mais verdadeiro quanto mais se aceita a liderança irrestrita baseada em escolhas não conscientes.

A cultura própria da comunidade onde vive o indivíduo é fator extremamente influente sobre o comportamento. Acentua, atenua e em grande parte molda o comportamento do individuo. Mas não tem sentido a crença de que somos como um disco rígido de computador onde informação é armazenada.

Uma analogia melhor seria a de que somos um computador completo, cujo sistema operacional é a consciência. Esta é continuamente reorganizada e ampliada em sua funcionalidade com a aquisição de informações. Mas não pode deixar de funcionar de acordo com o hardware onde foi instalado. 

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