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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Intenções, obediência e deuses

Acredito ser possível apontar duas características inatas frutos da evolução que foram importantes para a sobrevivência de nossa espécie no passado e que agora acabam por induzir a crença religiosa.

A necessidade de se seguir líderes.
Evoluímos vivendo  em bandos cercados de predadores. "Céticos" quanto à necessidade de liderança não tinham muita chance de sobreviver e deixar descendentes. Afinal de contas líderes experientes realmente representavam um importante fator de sobrevivência ao guiar o bando por locais seguros e planejar como conseguir alimento. Mas ao termos uma evolução sem precedentes em nossa consciência, acabamos por idealizar essa necessidade em seres  sobre-humanos que tudo sabem e tudo podem, que protegem e punem. Essa idéia permeia a crítica a religiosidade em Carl Sagan e é delineada em sua obra Sombras de Antepassados Esquecidos. Uma variante dela é apresentada por Richard Dawkins em Deus um Delírio. Segundo o autor inglês nossa crença em seres superiores se deve a necessidade da criança em ser guiada e ser protegida contra perigos. Numa perspectiva pessimista, a seleção natural favoreceu os que tem menor capacidade crítica e menos espírito cético.

A capacidade de detectar intenções
A capacidade de detectar intenções é importante para a sobrevivência de vários animais, fugindo ao antecipar as ações de predadores e, em caso de animais sociais, colaborando ao identificar alguma prática benéfica ao bando. Nossa consciência, uma novidade em termos evolutivos, passou a identificar "intenções" onde ela não existe. A intenção da chuva, a intenção dos astros, a intenção dos espíritos... Nos tornamos ao menos levemente paranóicos e passamos a imaginar que tudo ocorre com uma intenção, pela vontade de uma inteligência ou por um segredo insondável...

O deus do monoteísmo reúne essas características ao extremo. É um líder absoluto ao qual devemos saber quais as intenções, pois disso depende nossa vida, nesse e no outro mundo.

Mas a mesma evolução que resultou nessas "falhas de projeto" da consciência (só para ironizar um pouco) também possibilita que através dessa mesma consciência superemos esses mitos. O pensamento racional, a necessidade de evidências, o sucesso do conhecimento científico em desvendar a realidade parecem apontar nesse caminho.

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