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quinta-feira, 14 de março de 2013

A evolução humana continua a ocorrer?


Quando era ainda um moleque eu tinha extrema curiosidade sobre o tema acima. Através da leitura de livros de ficção científica e até mesmo uma crônica de Luis Fernando Veríssimo ficava sabendo que no futuro nossa cabeça seria enorme. O continuo desenvolvimento do conhecimento ocuparia cada vez mais nosso cérebro e o faria crescer. Partes de nosso corpo, por falta de uso, definhariam. Teríamos o corpo magro, braços e pernas finos. 

Corresponde a imagem que os aliens tinham nos anos 60 e ainda hoje, certo? Cabeças grandes corpos frágeis como evidencia de sabedoria. Bobagem. Isso é evolucionismo vulgar e não condiz com o conhecimento que temos sobre a natureza desde o século XIX. Uma civilização alienígena poderia ser formada por cabeçudos. Mas o que teria aumentado a circunferência craniana seriam mutações no código genético, e não acumulo de conhecimento. E no mais já há milhares de anos guardamos informações fora de nosso cérebro usando os desenhos, a escrita, a gravação de sons e outras formas mais. 

O que nos aguarda no futuro? Se pudéssemos viajar a um milhão de anos à frente, os nossos descendentes seria como? E se fossem dez ou cem milhões?
Impossível saber, essa é a trágica verdade. Só nos resta a ficção. Melhor seria se ela usasse de conceitos realmente científicos para simular a evolução humana e não noções equivocadas e já descartadas.

Bem, talvez eu não devesse ser tão taxativo sobre a impossibilidade de se conhecer o futuro evolutivo, mas antes vamos ao passado conhecer as circunstancias em que evoluíram algumas de nossas características atuais.
Antes de dez mil anos atrás, nossos antepassados ainda não tinham inventado a agricultura. Alimento era coisa rara e de difícil aquisição. Era vantajoso que armazenássemos energia obtida do consumo de raízes e caules subterrâneos, ricos em amido. 

Também o raro consumo da gordura de animais fornecia energia. Quase toda ela usada no dia a dia, mas parte armazenada em nosso tecido adiposo, nossa própria gordura embaixo de nossa pele, se acumulando principalmente no abdome. Com isso tínhamos uma reserva a ser usada em épocas de fome devido à seca por exemplo. Indivíduos que não sentissem muito apetite e que não acumulassem gordura se davam mal quando o alimento escasseava. Isso significa que nossos antepassados eram gordos? 

Não. Não havia alimentos tão calóricos e em quantidade para provocar essa característica tão presente em nós atualmente.
O fato é que aprendemos como ocorre o plantio e a procriação de animais. Inventamos a agricultura e a pecuária, conseguimos providenciar a obtenção de alimento de uma forma nunca alcançada anteriormente. Mas continuamos agindo como quando alimento era coisa rara de se obter. Os supercalóricos doces, pães e bolos substituíram as raízes e caules comestíveis na obtenção do amido. Animais não são mais caçados, só precisamos ir ao açougue para adquirirmos carne extremamente mais gordurosa do que quando os animais eram livres na natureza.  E comemos tudo com a mesma avidez de nossos antepassados.

Sendo racionais deveríamos ser capazes de evitar esse comportamento. Se há exageros prejudiciais na alimentação então convém que sejam evitados, mas isso não ocorre. Continuamos a comer e a engordar. Cada vez mais e de forma insaciável. Isso é evidencia de que somos racionais até certo ponto, em outros obedecemos à programação da seleção natural. E ela nos programou para sermos gulosos e estocamos energia dos alimentos em forma de gordura. Nosso cérebro obedece a esse comando e a parte racional desse mesmo cérebro, que sabe dos males da obesidade faz o que pode para evitar que engordemos... Mas não consegue.

Imaginemos que antes da agricultura uma tribo tivesse descoberto um local onde alimento fosse farto e que por sorte outras tribos e carnívoros não invadissem o local durante alguns séculos. Após muitos anos essa população estaria mais obesa. Diabetes, hipertensão, cardiopatias, dificuldades na locomoção e problemas nas articulações acometeriam diversos indivíduos... Mas nem todos estariam realmente gordos. Nem todos são biologicamente programados para serem gigantescos. Os que não engordassem tanto seriam privilegiados pela seleção natural. 

Não acumular muita gordura e nem ser tão ávido na hora de comer representaria uma vantagem agora que há fartura de alimento. Então teríamos um equilíbrio. Indivíduos muito obesos teriam menor tempo de vida e não se reproduziriam tanto quanto os menos obesos e magros. Aí em algumas gerações todos tenderiam a não ser tão gordos... Mas se isso é verdade, por que tal fato não ocorre agora?

O motivo principal é a medicina. Ela possibilita que mesmo indivíduos muito obesos tenham uma vida relativamente normal. Trata dos problemas de saúde, possibilita remédios para emagrecer e mesmo cirurgia para redução de estômago. De toda forma possibilita que os genes que nos fazem gordos continuem a se reproduzir. Eis a combinação: Genes que nos fazem acumular gordura e nos forçam a sermos comedores compulsivos e métodos que evitam o controle disso pela seleção natural.

A obesidade talvez seja o exemplo mais óbvio de um fenômeno que se iniciou junto com a evolução da nossa consciência. Ao evoluir, nossa mente consciente nos possibilitou o controle da natureza em nível jamais visto nesse planeta. Não obedecemos totalmente mais os ditames da seleção natural. Ao contrário, em grande parte somos nós e não a natureza que realiza as escolhas. Desde que passamos a cultivar a terra e a fazer criação de animais interferimos na seleção natural a ponto de criarmos a “seleção artificial”. 

Todas as plantas e animais que o ser humano aprendeu a cuidar a milênios já não são mais como eram na natureza. Fazendo cruzamentos entre indivíduos com características desejáveis, os agricultores e pecuaristas criaram desde frutos mais doces até animais maiores e com carne mais macia. De uma espécie criamos varias outras, como a couve, a couve flor, a couve de Bruxelas e o repolho. De lobos criamos as centenas de raças de cachorros. De flores naturais criamos verdadeiras maravilhas como as rosas, que pouco lembram sua quase sem graça antepassada.

Nossa evolução se dará então pelo processo já descrito? Seleção artificial é o futuro dos seres humanos? Atualmente ao invés de apenas fazermos cruzamentos entre espécies para selecionarmos os genes que queremos podemos em alguns casos manipular os próprios genes, e isso no futuro se dará de forma mais intensa. Mas já grupos reivindicatórios protestam contra essa tentativa “de controlar a natureza”.  

Se parecem com grupos religiosos que no passado eram contra os progressos da medicina no transplante de órgãos e na inseminação artificial. Para usar técnicas do tipo em seres humanos a discussão fica ainda mais acirrada. Para que se desenvolverem meios para se escolher características se o que importa é a variedade, perguntam? 

Mas manipulação genética não serve apenas para se escolher cor de pele ou formato de nariz. Inúmeras doenças de origem genética poderão ser curadas. Não é o progresso da ciência que cria monstros, ao contrário, antes os monstros já existiam e não foram suficientemente domados pela sociedade em questão. Não é porque há meios de causar o mal que o mal será causado e sim pela vontade de causar esse mal. 

Também técnicas que combinam partes biônicas com nosso corpo poderão ser realizadas e inúmeras outras no futuro distante das quais atualmente nem temos ideia. Talvez até mesmo remodelação genética de nosso corpo. Genes que originem uma cabeça enorme e um corpo franzino, só para tirar onda desse texto que ficará na web sabem-se lá até quando e talvez alcance um época futura onde o que hoje é devaneio será realidade. 

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