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quarta-feira, 13 de março de 2013

Misticismo quântico, ou A ciência como muleta


Programas de entrevista e auditório em rádio e TV. Livros de autoajuda. Revistas de fofoca... Nessas publicações e em várias outras podemos esperar que seja proferido um amontoado de bobagens quando se lê ou se ouve a expressão “física quântica”. 

O autor afirma coisas as mais disparatadas possíveis e invariavelmente justifica-as como sendo a ação de forças ou energias misteriosas que existem no universo e que só agora estão sendo descobertas. 
Assim telepatia, viagem astral, cura pela imposição das mãos, homeopatia, cromoterapia, visualização de locais distantes pela força da mente, consciência expandida... 

Tudo se encontraria explicado por essa “nova ciência”. Mas tudo isso é no mínimo ingenuidade de quem afirma, e em muitos casos charlatanismo puro. 

O termo apropriado para designar a parte da física que trata dos movimentos de partículas subatômicas é mecânica quântica. Não há motivo real para se usar essa ciência para justificar alegações místicas. Ela trata de fenômenos complexos e realmente desconhecidos até a pouco tempo, mas apenas no nível do muito pequeno, normalmente menor que o átomo.  É o movimento das partículas subatômicas o objeto de seu estudo. Os acontecimentos que se passam entre as partículas que formam os átomos não são os mesmos que ocorrem na nossa realidade formada por esses átomos. 

A imaginação humana é limitada ao que conhece ela. Por mais que aparentemente se afaste da realidade é muito difícil se ultrapassar alguns limites. Por exemplo, não temos noções realistas de como seria um ser alienígena razoavelmente evoluído. As dificuldades se devem as inúmeras formas com que a evolução dotou a vida. Então tendemos a igualar esse alien imaginário ao que conhecemos sobre a vida na Terra. 

Corpo humanoide ou semelhante ao de outros animais, braços e pernas, cabeça com nariz boca e olhos, predominância da linguagem oral... Caso existam seres alienígenas é provável que não se pareçam com nada do que tenhamos em mente. A realidade ainda não conhecida se mostra quase sempre mais surpreendente do que as ideias que temos dela. Assim é profundamente desonesto que os místicos e a pseudociência se apropriem de um conhecimento para justificar alegações sem evidência. 

Nunca antes das descobertas da mecânica quântica o misticismo disse qualquer coisa que o capacitasse para se identificar com esse novo conhecimento. O fato de que é impossível determinar a posição e a velocidade de uma partícula subatômica não equivale a dizer que uma pessoa pode estar em mais de um local ao mesmo tempo. Não há na mecânica quântica algo que justifique a existência de uma mente quântica, a expansão da consciência para fora do corpo, a sobrevivência da consciência após a morte, a memória da água e nem as demais alegações místicas. 

Não é realmente nova a ação das pessoas que se aproveitam da ciência para fazer alegações falsas. E é na medicina e na física onde isso parece ser mais comum. O médico Dráuzio Varella recentemente despertou a raiva de adeptos da medicina alternativa. Corajosamente afirmou que antes da medicina moderna, quando a população chinesa era tratada com a medicina tradicional daquele país, a expectativa de vida era muito pequena. Então qual o motivo de se trocar tratamentos modernos por métodos arcaicos como parece ser moda entre algumas pessoas? Ao invés de refletirem sobre isso, os adeptos mais exaltados de tais práticas reagiram acusando Varella de ser um “agente dos grandes laboratórios farmacêuticos”, o que mostra que o conspiracionismo, mais que uma piada é algo que pode se tornar muito grave se não for alvo de críticas racionais. 

Termos como luz, magnetismo, energia e força são próprios de outros ramos da física, como estudo do eletro magnetismo  Antes da mecânica quântica era esse o campo principal em que os místicos pastavam para produzir suas noções desencontradas. Então temos espíritos de luz*, almas iluminadas, energia positiva e negativa, energia carrega, forças ocultas, magnetismo corporal e outros termos inventados pelo misticismo para se confundir com a física. A recém-descoberta antimatéria seria a matéria constituinte da alma ou do espírito... 

Em todos os casos em que o misticismo se apropria de conceitos científicos, ele os distorce, os tira do contexto e os falsifica. É o misticismo perneta usando a ciência como muleta.

*O autor desse texto já leu em uma publicação espírita uma carta psicografada onde um espírito afirma que o Sol é um mundo onde almas evoluídas habitam. Isso que é espírito de luz, hein?! 

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