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domingo, 3 de março de 2013

Um pouco mais sobre evolução II

O tempo passa e mutações ocorrem. A maioria sem efeitos positivos. Mas algumas... 
A dura vida de nossos longínquos antepassados favoreceu algumas qualidades e barrou outras no processo de seleção natural. Essas mutações não originaram asas para podermos caçar ou fugir voando como as aves e morcegos. Nem garras e presas poderosas para podermos matar como os já citados leões e tigres. Não nos deu as pernas velozes de guepardos e nem a visão de águia... Deu-nos um cérebro capaz de criar tudo isso, e muito mais. 
Voamos em maquinas que nós mesmos inventamos. Garras e presas nada representam quando comparadas as armas que criamos. Pernas de nenhum animal superam rodas motorizadas. E olhos de nenhuma criatura se comparam aos telescópios.
A evolução não se da por substituição de partes desnecessárias por algo útil ao organismo. Antes ela nos faz parecer com uma colcha de retalhos. Ao observarmos o conjunto e o funcionamento das partes de um organismo complexo, nós temos a ilusão da perfeição, algo planejado. 
Falso, pois são remendos, adaptações surgidas por meio de mutações aleatórias que acabaram por favorecer a existência e reprodução do ser vivo em que ocorreram. 
Nosso cérebro é exatamente assim. Um amontoado de retalhos costurados pela evolução. Algumas dessas partes são muito antigas. Já existiam em animais bem primitivos. Há as partes intermediarias e as modernas, onde afinal de contas se encontra o que nos torna humanos, a consciência. 
Mas existe a ilusão de que essa consciência comanda nossas ações integralmente. As partes primitivas estão lá agindo na sombra, não foram “substituídas”. Vejamos o caso dos obesos. 
Já vimos que acumular gordura era útil para a sobrevivência no passado pois gordura fornece energia em época de escassez de alimentos. Mas a medida que a agricultura e a criação de animais foi sendo desenvolvida pela nossa consciência, a parte primitiva do cérebro não acompanhou a mudança. 
Cada vez mais alimento é produzido, nossa mente consciente, gerada na parte moderna do cérebro sabe que não corremos o risco de morrer de fome, mas a parte primitiva continua fazendo o que fazia no passado, nos faz devorar alimentos super calóricos ricos em carboidratos e faz ir por terra todo o planejamento da dieta... 
A capacidade de acumular gordura que era uma vantagem no passado agora é um peso... Com alimento de sobra e a parcela primitiva da mente nos forçando a comer, a obesidade se alastra de forma preocupante.
Vários outros comportamentos são de origem evolutiva e por isso são gravados profundamente em nosso cérebro. A seleção natural nos fez propensos a ver padrões e detectar intenções, pois é importante reconhecer sinais de ameaças e de rastros de animais para fugirmos ou caçá-los. 
Perceber as expressões de outros seres humanos e reconhecer seu significado de amizade, interesse, desatenção, tristeza aversão ou raiva possibilitou maior entrosamento no bando e sucesso reprodutivo, alem de livrar nossos antepassados de encrencas com outros indivíduos não iam com sua cara. 
Sinais que indiquem mudanças no clima, dias ou noites mais curtos, regularidades como cheias de rios na mesma época do ano favoreceram a invenção da agricultura. Mas falhas nesses mecanismos nos fazem ver o que não existe e perceber o que não está lá. 
Por exemplo, é comum que ao olharmos uma cadeira vazia tenhamos a rápida impressão de que havia alguém nela. É nosso cérebro tentando estabelecer o padrão cadeira/alguém sentado que nesse caso não se consumou. Mas para muitos pode tratar-se de um fenômeno fantasmagórico: -Hoje vi o espírito do vovô no sofá da sala... 
A crença em seres sobrenaturais se resume a vermos significados onde não há nada mais que acontecimentos naturais e encontrarmos padrões inexistentes. A chuva não é intenção de um deus, a doença não é intenção de um demônio... 
Mas temos a falsa noção de que há sentido em tudo. É comum que em filosofia se pergunte, "qual o sentido da vida, do universo, da existência e tudo o mais", mas a pergunta certa seria: "Há sentido em coisas que não são criações humanas"? Há sentido na existência de planetas, estrelas e galaxias, coisas muito maiores que nossa espécie? 
Sentido, significado, intenção, premeditação, planejamento... são todas noções humanas que não existiam em nosso planeta antes de evoluirmos. Não é correto diminuirmos a natureza a nós. Quando perguntamos “qual o sentido da existência” já premeditamos que houve uma intenção que originou essa existência. Não há evidencia alguma disso. 
Antes é a nossa habilidade de detectar intenções que está agindo sem ser orientada por nosso senso critico.

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