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domingo, 31 de março de 2013

Sobre a psicologia evolucionista III


Nossa consciência, nossa mente, nosso modo de pensar e agir, nosso comportamento, o que somos enfim, não são frutos exclusivos da cultura, do conhecimento que adquirimos e da sociedade em que vivemos. Caso fossem seria relativamente fácil modificar a sociedade e os indivíduos. Educação seria extremamente eficaz para melhorar as atitudes humanas. 

Mudanças sociais criariam imediatamente novas formas de pensar e agir nas pessoas. Mas tais coisas não acontecem de forma tão direta. Muitos tendem a exagerar a importância da educação, em especial professores e demais profissionais da educação. A solução de todos os problemas sociais pode ser alcançada por meio da criação de escolas e da manutenção das crianças e jovens dentro delas, de preferência o dia todo. Na prática trata-se de aprisionamento parcial.  

Há os que acreditam que a escola deva formar “bons cidadãos” cumpridores de ordens e regras sociais. Há os que queiram indivíduos “críticos e atuantes” que ajam para modificar a sociedade. E ambos os grupos erram ao supor ser a escola algo assim tão influente sobre a personalidade. É questionável se ela e os demais meios de se ministrar educação são capazes de modificar ou conservar as pessoas e a sociedade em um nível tão profundo de forma tão direta e rápida...

A educação não tem esses poderes mágicos que lhe são atribuídos, pois havendo condições inatas que influenciem nosso comportamento em sua base, a personalidade deve ser entendida como algo mais complexo. Sendo assim a modificação da realidade social deve ser pensada de forma menos simplória. Por isso é natural que pessoas progressistas tenham sérias ressalvas à psicologia evolucionista. Elas a veem como aliada dos conservadores. E os conservadores se aproveitam disso. Apelam mesmo para a falácia naturalista: “se o que somos é estabelecido por nossos genes, então mudanças não são possíveis”, alegam. Mas há um engano de ambos aí. 

Realmente não é tão fácil mudar o indivíduo mudando a sociedade. As várias experiências de construção da sociedade socialista tentadas no século XX atestam isso. Marx não se inteirou o suficiente sobre a noção de que somos produto da seleção natural, mesmo tendo curiosidade sobre ela e tendo conhecido Darwin. É uma falha grande em suas concepções sobre a forma de se superar a atual sociedade de classes. Devido em parte a isso, erros grosseiros foram cometidos na “construção do novo homem e da nova sociedade socialista”. 

Mas também não existe motivo para se crer que as formações sociais atuais sejam as únicas derivadas de nosso comportamento evolutivo. Afinal nossos antepassados primitivos eram muito solidários com os membros do próprio grupo e não dispunham de propriedade privada dos meios de produção... 

É muito temerário identificar automaticamente formações sociais como sendo “naturais”. Ao que parece se considerarmos o que afirma a psicologia evolucionista, aos progressistas e aos conservadores fica o recado: seres humanos não são como a argila que aceita ser moldada docilmente com a pressão das mãos, seja a esquerda ou a direita... Ao não se considerar a nossa origem biológica e se entender sua ação no comportamento, não haverá eficácia nas tentativas de planejar a sociedade de forma mais racional. Seja para conservá-la seja para modificá-la. 

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