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domingo, 17 de março de 2013

O indivíduo e a vida em grupos II


Em mamíferos sociais, como os leões, lobos, zebras e primatas há a necessidade de reconhecer sinais enviados pelos outros constantemente. Esses sinais podem ser rosnados, ganidos, bater de cascos, relinchar, se oferecer para ser montado, o arrepiar dos pelos, caudas balançando, orelhas abaixadas ou levantas, cheiros corporais e uma infinidade de outros sinais mais ou menos sutis que são usados para comunicação entre os indivíduos do grupo. Nos humanos acrescente-se a fala, o que eleva enormemente a possibilidade de comunicação com demais membros da comunidade. 

Em qualquer agrupamento de animais sociais, os indivíduos que tem dificuldade em se comunicar enfrentam problemas, podem ser excluídos, agredidos, não acasalar...  Nos que não se associam em bandos, como tigres, raposas e ursos há menor necessidade de reconhecimento de sinais de outros indivíduos da espécie. Quase se limitam ás ações pra reconhecimento de território e disponibilidade para acasalamento. 

Outro ponto é o que fazer com as informações que são colhidas dos demais indivíduos? Como vimos, ações individuais diferentes do padrão tendem a não ser toleradas pelo bando. E entre os seres humanos não é diferente. Devido a isso temos inúmeras regras formais e informais para dissuadir e reprimir comportamentos não aceitos socialmente. 

Pessoas muito egoístas são discriminadas, daí apelidos como pão duro, avarento e unha de fome. Pessoas agressivas em demasia obviamente são maioria entre as que estão presas por crimes como assassinato, roubo, latrocínio e espancamento. Pessoas sem interação social, tímidas, tem menos chance de alcançar maior status social. Malandros e aproveitadores não tem aceitação social tão pacífica quanto o humor faz parecer. Ao contrario o humor já lhes é uma crítica. 

Em geral ações que vão contra o grupo não são as mais bem quistas. Mas entre os seres humanos, devido ao seu enorme desenvolvimento das faculdades mentais, a coisa fica mais complexa. Ações individuais que atentem contra o grupo podem ser disfarçadas para passarem como sendo o contrário*. Mas é quando se trata de interesses de grupos dentro dessa sociedade é que a falsificação sobre a realidade se efetiva realmente. 

O governo da sociedade é feito em função dos interesses da parcela dominante, que não são necessariamente os interesses de toda a sociedade. É bom observar que a partir daqui quando falamos de grupos humanos vamos nos referir não mais a uma tribo primitiva com poucas dezenas de pessoas e sim às complexas sociedades modernas com milhões de indivíduos. Todos se organizando sob o mesmo governo e a mesma estrutura social. 

A parcela dominante dessa sociedade tem inúmeros meios para encobrir seus atos egoístas e mostra-los como sendo necessários ou uteis para todos, algo impossível de ser realizado entre outros animais sociais. Não é adequado comparar esse comportamento aos de animais individuais, como o já citado tigre. Afinal nenhum ser humano realiza atividades produtivas realmente sozinho. Os que se encontram em hierarquias mais altas se apropriam de parcelas maiores do que é produzido e encobrem isso por manipulação de informação. Mas não tem plena consciência disso, acreditam nas ideias que eles mesmos inventam para justificar suas atitudes, e mesmo os demais seres humanos fora da parcela dominante também são levados a acreditar nelas. 

Os adeptos dessas ideias se veem como animais individuais. Na sua crença apenas eles trabalham e produzem. Os demais membros do grupo seriam parasitas que querem abocanhar o fruto de seu trabalho. Nenhuma outra espécie social dispõe de tamanha diferenciação entre indivíduos no que se trata de aquisição do que é produzido pelo grupo. Quando as leoas caçam, todo o bando come. Se os leões desempenham bem seu papel, o bando não é atacado por outros bandos rivais. 

Entre os humanos, mesmo quando todos trabalham, o que é produzido não é de todos. Os bens produzidos socialmente são distribuídos de forma desigual. Os que estão no topo têm direito a uma quantia maior da produção. Varias tentativas de se justificar esse comportamento foram e ainda são feitas, do mesmo modo que criticas também surgem. O autor desse texto é de opinião de que não há “tigres entre leões” quando se fala do comportamento humano. A imagem de alguém produzindo sozinho o que precisa (tal como os tigres) e tendo esse produto tomado para ser distribuído para o bando é uma arrematada tolice. O que ocorre é a união da falta de controle do instinto em querer o máximo para si mesmo e o uso de subterfúgios para enganar aos demais e a si mesmo sobre esse fato. 

Modernamente as tendências que criticam a realidade social se definem como esquerda política, enquanto as que lhe são favoráveis se agrupam na direita política. Ainda há ao que parece um longo e difícil caminho para conseguirmos realmente mudar a situação em que nos encontramos. Um passo importante seria rever erros e acertos das experiências tentadas em vários países ao longo do século XX. Um enorme laboratório mal aproveitado de experiências sociais.  Em especial observar que o fato de sermos animais sociais não aniquila diferenças individuais e que nosso comportamento não é totalmente determinado pela cultura. 

Temos um passado evolutivo biológico influenciando nossas ações, escolhas e comportamentos. Ações egoístas tiveram função em nossa evolução do mesmo modo que ações altruístas. Cabe à consciência individual e coletiva escolher o melhor caminho entre as inúmeras possibilidades.

*No extremo desse comportamento temos a psicopatia, que abordaremos no próximo texto do blog.

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