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quarta-feira, 6 de março de 2013

Líderes e multidões.

Pessoas podem ser levadas a fazer o que o líder quer que façam. Isso se ele conseguir convencê-las de que se trate de algo necessário ou benéfico a elas, ao grupo, à comunidade, ao país, à humanidade... Esse convencimento não é necessariamente baseado na realidade. E sim no que as pessoas são convencidas a crer. 

Multidões sem liderança formal podem se “auto convencer” a agir em prol de algo ao acreditarem que sua ação seja necessária. Mas ações coletivas em geral são de pouca duração, enquanto que, sob a liderança de personalidades persuasivas, pessoas podem passar tempo indefinido obedecendo. 

Dê-nos o tipo certo de líder, aquele em qual acreditamos, e faremos quase tudo o que ele quiser... Mesmo coisas que nós acharíamos errado se não estivéssemos sob sua liderança. 

Pessoas podem ser sensatas e ter atitudes críticas em relação aos seus líderes. Mas é comum que líderes sejam idolatrados. Líderes em geral não são insanos a ponto de acreditarem que são perfeitos. Sabem que críticas à sua liderança devem ser consideradas, que devem ser ponderados. Mas o saber nem sempre orienta o agir. Costumam tirar da cartola motivos para agirem de forma pouco sensata se crerem ser o correto a fazer. 

Não é caso de acreditar que a inexistência de líderes seja possível ou benéfica. Todo animal social tem líderes e os humanos não são diferentes. O problema não é a liderança e sim como ela é escolhida e exercida. Um líder ineficaz entre herbívoros não vai livrar muitos de seu bando dos predadores carnívoros... 

O principal problema entre líderes humanos talvez seja a capacidade de enganar os liderados e a si mesmo. O problema é a crença cega e a falta de análise de atitudes. 

A palavra líder refere-se a um individuo, mas devido à complexidade da nossa moderna sociedade ele não se encontra isolado. Integra e se alia a grupos de poder e sofre oposição de outros. Nas sociedades divididas em classes sociais é a parcela economicamente mais elevada da população a que tem maior cumplicidade do líder. De qualquer forma é à pessoa do líder que o povo dirige atitudes irracionais como o culto a personalidade, a devoção, a crença nas boas intenções e mesmo sua infalibilidade. 

Reconhecer a importância do líder em tal ou qual situação não equivale a afirmar que ele seja o guia genial dos povos, o grande timoneiro, o Fuhrer , o Duce, o maior ser humano que já viveu... Reconhecer seus méritos não equivale a crer que sem sua liderança nada teríamos conseguido. Acreditar que sem sua existência nada teria sido feito, que os inimigos do povo, da nação, da revolução, da civilização teriam triunfado... Tudo isso denota a elevação de uma pessoa a um nível superior. Anula a diferença entre política e religião. 

Talvez outras pessoas teriam feito o mesmo ou até melhor. Mas isso é uma possibilidade. Por outro lado, se o líder erra, logo surge a oposição dizendo que se fosse outro líder, com certeza teria acertado... E tudo se resume a devoção a essa ou a outra pessoa, sem critérios objetivos. 

Qual o limite entre consideração sensata e devoção irracional? Reis da antiguidade tinham sua autoridade estabelecida por deuses. Hoje avançamos em formas mais racionais de se estabelecer autoridade, mas a necessidade de se crer devotamente é presente e é um risco. 

Os seguidores de um líder afirmam que os seguidores de outro promovem o culto a personalidade do rival. Não vêem que o comportamento de ambos os grupos é o mesmo e baseado na mesma necessidade irracional. Acreditar por acreditar, sem evidência, sem comprovação. 

“Se Y tivesse liderado em lugar de X tudo teria dado certo, pois X se portou como um déspota, aniquilou o poder popular e pôs tudo a perder”... 

“Não! Foi Y e seus seguidores revisionistas que sabotaram as ações de X, que sempre foi um batalhador incansável em prol da causa.” 

E a realidade é sacrificada no altar da crença. Seja na religião ou na política.

Acredito que nosso comportamento e nosso modo de pensar sejam racionais de forma limitada e, não raro, atitudes irracionais toma a frente, notoriamente em épocas de crise. Às vezes com consequências trágicas. Por melhor intencionada que seja a liderança de um país, isso não a impede de cometer sandices. 

Se houver a crença de que tal atitude é necessária, ela será tomada se a liderança decidir e o se povo estiver convencido a cumprir. Não importam as consequências e não se observa se há ou não evidencias reais que a atestem. 

E se não houver necessidade real da ação? E se for um engano? E se houver beneficio apenas a uma parcela da sociedade e não benefícios gerais como sempre é dito?

O que chamamos de consciência, com seu senso critico e tudo o mais é apenas um verniz sobre uma superfície mal lixada. Tendemos a criar razões para justificar nossas crenças e vemos as crenças diferentes das nossas como sendo irracionais. Os equivocados são os outros. As evidências raramente são usadas como critério para decisões, sejam coletivas ou individuais. 

As conseqüências de se seguir líderes de forma acrítica são podem ser nefastas. Multidões sem liderança e em fúria promovem saques e linchamentos, mas pessoas lideradas de forma mal intencionada invadem países por meio de guerras de rapina, matam milhões e saqueiam para enriquecer apenas alguns... Tudo lindamente organizado com hierarquia, uniforme e condecorações... E multidões cegas não agem indefinidamente. Elas mesmas acabam quase imediatamente escolhendo quem as guie. 

É uma tolice confundir a crítica à aceitação da liderança de forma impensada com a exaltação da ação coletiva sem liderança. Um corpo sem uma cabeça está em desvantagem em relação a um que a tenha, mas a vantagem termina se a cabeça o guia para um precipício.

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