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segunda-feira, 18 de março de 2013

Psicopatia


“Ela ligou a faca no interruptor próximo à cadeira de rodas e Paul gritou, protestou e fez mais e mais promessas de que seria bonzinho. Quando Annie a ligou, a lâmina se movimentou para frente e para trás. (...) No final de tudo, havia também muitas gotas vermelhas espalhadas por todo o lado. Porque quando Annie decidia uma coisa, ela ia até o fim. Annie não se comovia com pedidos. Annie não se comovia com gritos. Annie mantinha-se sempre firme nas suas decisões.”
Da obra Angústia, de S. King

Para alguns indivíduos é impossível se sentir no lugar do outro, de ter empatia, solidariedade e afeição. O sofrimento alheio, mesmo de pessoas próximas, não os afeta. Não sentem dó, compaixão ou comiseração. Não experimentam repulsa ou hesitação nem sendo eles mesmos os causadores da dor alheia. Ao contrário, alguns têm prazer em provocar sofrimento de forma deliberada. São os psicopatas. 

Existem graus variados do problema, existe influência do meio externo, da cultura, das atitudes dos pais, se foram vitimas de violência, se foram ou não ensinados a controlar sua vontade e a moderar suas ações. Se noções de amizade e companheirismo foram valorizadas, se a honestidade foi ensinada como uma virtude ou se foi mostrada como coisa de idiotas. 

Tudo isso influencia o caráter, mas psicopatas não são o que são devido a “traumas da infância”, nem por serem revoltados contra a vida que levam, com o emprego que tem, se são incompreendidos, ou se são “vitimas da sociedade”... Nada disso justifica seu comportamento altamente egoísta e suas atitudes cruéis. 

A crença de que a psicopatia seja causada pelo ambiente em que se vive mostra como é grande o desconhecimento sobre as causas reais do problema, apela para a noção equivocada de que somos o produto unicamente da cultura onde vivemos...

É a própria estrutura e funcionamento do cérebro que diferencia um psicopata. Eles não simplesmente aprendem a ser o que são. Não são egoístas, enganadores e dissimulados porque o mundo foi desumano com eles, e sim porque em grande parte já nasceram assim. 

O meio onde a criança se desenvolve pode atenuar ou estimular o quadro, mas não é o seu causador. O filme “A última casa da rua” de Mark Tonderai mostra as consequências da convivência de uma criança com inclinação à psicopatia com a mãe mentalmente perturbada...

Há uma confusão muito grande entre a psicopatia e a psicose e entre essa e a neurose. Psicóticos  são os indivíduos que veem sinais onde não existe nada e acreditam neles. Acreditam mesmo, não é só uma impressão, não conseguem diferenciar suas fantasias da realidade. Também detectam intenções inexistentes e acreditam que são reais. Podem ouvir vozes no som do vento ou no disco de rock tocado ao contrário. Veem pessoas que já morreram, e conversam com elas. Imaginam que há indivíduos tramando secretamente contra eles, que uma conspiração se encaminha... E veem sinal disso escondidos nas letras do jornal do dia... 

A cultura também influencia a psicose de várias formas, mas a origem é genética, assim como a psicopatia. Psicóticos religiosos podem achar que recebem mensagens de Jesus, de Alá, de Brahma (o deus e talvez até da cerveja) ou que estão possuídos pelo diabo. Um morador da periferia de um grande centro poderá crer que a polícia está atrás dele, mesmo que não tenha cometido crime algum. Os que têm contato com ficção científica acreditarão terem sido serão abduzidas por aliens... 

Alguns tipos de psicose costumam ter ciclos de melhora e piora, chamados popularmente de surtos. Quando em surto o psicótico demonstra um comportamento totalmente fora do padrão da normalidade aceito pela sociedade.  

Pessoas de bom senso procuram soluções reais contra a psicose, como tratamento psiquiátrico. Pessoas crédulas procuram pastores e médiuns. Psicóticos têm respondido cada vez melhor a tratamentos pois o conhecimento sobre a mente humana avança cada vez mais. 

Neuróticos não se desapegam tanto da realidade se comparados aos psicóticos. Têm consciência de que tem problemas emocionais ou de comportamento que os prejudicam, mas não conseguem simplesmente superá-los ou resolve-los. 

Por exemplo, um depressivo sem motivo real para “se sentir triste” nem por isso vai deixar a tristeza de lado. Ele sabe que não tem motivo para a tristeza, mas não consegue se alegrar. Pessoas próximas não raro ainda o criticam devido a isso, o que acaba por piorar o quadro. Necessita de ajuda profissional para superar seus problemas. 

O mesmo vale para quem tem manias tais como lavar as mãos várias vezes ao dia ao ponto de feri-las, ou quem sente pânico frente a situações comuns e sem riscos reais. As neuroses são consideradas menos graves que as psicoses e normalmente de tratamento mais fácil. Mas elas também causam incapacidade e depressão é a principal causa de suicídio.

Psicóticos são estereotipados na figura do louco. Neuróticos muitas vezes são vistos como culpados pelos problemas que tem. Homens costumam não reconhecer que tem problemas e sofrem mais discriminação que as mulheres em casos como ansiedade e depressão. São vistos como fracos e molengas. 

Já uma pessoa sem traço algum de loucura ou neurose pode ser um psicopata se apresentar os sinais já descritos. Psicose e psicopatia não são a mesma coisa.Como já ficou claro, psicopatas são antissociais, extremamente egoístas, não sentem satisfação ao verem outra pessoa feliz. O cinema e a literatura os tornaram famosos, mas lançaram enorme confusão sobre suas características. 

Poucos personagens psicopatas correspondem à realidade. O Silêncio dos Inocentes é um filme com o personagem Hannibal Lecter, um psicopata extremamente inteligente e bem caracterizado. Em outros filmes há na verdade psicóticos com traços de psicopatia. É o caso do vilão de Psicose. Nesse filme de Alfred Hitchcock, Norman o dono de um hotel de beira de estrada recebe ordens, pelo telefone, de sua mãe falecida para que mate mulheres por quem tem atração sexual... 

Para maior horror de quem assiste ao filme, o hoteleiro mantém o corpo da mãe no porão da casa, empalhado por ele mesmo. Veste-se como ela quando vai matar garotas. Esse filme já foi parodiado inúmeras vezes. Até no seriado A Grande Família pelo personagem beiçola, que as vezes surta e pensa ser a própria mãe, usando as mesmas roupas do filme. 

Como o título do filme mostra bem, trata-se de um psicótico. Mas sua insensibilidade com o sofrimento de suas vítimas denota traços marcantes de psicopatia.Quando se trata da mente humana é difícil estabelecer limites entre diferentes problemas e muitos realmente estão ligados. 

Um psicótico não psicopata pode ser violento e mais raramente praticar crueldades em momentos de delírio onde sua mente perturbada crie motivos para agir assim. Mas são em geral fáceis de identificar exatamente pelas suas atitudes profundamente incoerentes com a realidade. 

Já “psicopatas puros” não se desapegam da realidade, não apresentam ciclos de melhora ou piora do quadro, são mentalmente estáveis, racionais, calculistas, insensíveis e podem dissimular bem suas intenções. Podem praticar crimes violentos, como assassinato, apenas por diversão, ou para se beneficiar em caso de herança por exemplo. Têm plena consciência do mal que estão causando. 

Psicopatas tímidos vivem reclusos e tendem a cometer crimes solitários. Já psicopatas extrovertidos lideram grupos. E todos são muito mais perigosos quando são inteligentes.

Uma anedota ilustra o quadro dos problemas mentais e dos tratamentos para eles. “Neuróticos constroem castelos no ar. Psicóticos moram neles. Psicólogos comportamentais fornecem o material de construção. Psiquiatras cobram o aluguel. Neurologistas fiscalizam a estrutura da obra. Psicanalistas encobrem defeitos das paredes com uma demão de tinta e escondem o lixo da sobra da construção no sótão, no porão e nos armários. Psicopatas se enturmam, enganam, se aproveitam e matam a todos eles...”

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